Fiesp debate papel da indústria na descarbonização da economia

A transição sustentável pode gerar até 15 milhões de empregos verdes na América Latina até 2023

A diretora de Clima, Economia e Finanças do WRI Brasil, Karen Silverwood-Cope, foi a convidada da reunião conjunta do Conselho Superior de Desenvolvimento Sustentável (Condes) e do Departamento de Desenvolvimento Sustentável (DDS) da Fiesp, realizada no dia 14 de março. O tema do debate foi sobre a indústria como vetor para uma transição justa na descarbonização da economia. 

O WRI Brasil é um instituto de pesquisa e faz parte do World Resources Institute (WRI). Fundado em 1982, o instituto está presente em 13 países, entre eles Brasil, China, Colômbia, índia, Indonésia, México e Estados Unidos, além de possuir escritórios regionais na África e na Europa. 

Na abertura do encontro, Joaquim Levy, presidente do Condes, afirmou que a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas deste ano (COP30), que será realizada em novembro, em Belém, no Pará, é a oportunidade de o Brasil mostrar ao mundo como o país está contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e quais são os caminhos. 

Nelson Pereira dos Reis, diretor titular do DDS, destacou que a Fiesp tem participado ativamente de todas as agendas voltadas às mudanças climáticas, levando propostas e sempre mostrando o papel da indústria. Segundo ele, isso ocorre desde a COP15, em Copenhagen, na Dinamarca. 

Na sua explanação, Karen Silverwood-Cope disse que a proposta do WRI é debater as tendências do multilateralismo e da agenda climática internacional associada à visão de prosperidade econômica e competitividade. “O WRI trabalha pela transformação econômica, e a gente vê na indústria a solução para esse meio e para esse fim”, disse. 

Segundo ela, é escasso o entendimento macroeconômico ou teórico sobre o que é justiça climática. “O mundo começou há alguns anos a discutir o que é transição justa, que hoje evolui para uma visão de justiça climática, mas ainda sem fundamentos”, afirmou. 


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Karen Silverwood-Cope destacou que a justiça climática é uma abordagem ética e política que trata das desigualdades sociais agravadas pelas mudanças climáticas, especialmente entre os grupos mais expostos e vulnerabilizados, como populações periféricas e povos indígenas. Integra os direitos humanos, equidade e sustentabilidade, buscando reduzir os impactos climáticos sobre as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade. 

Ela explicou que, no Brasil, a justiça climática foi colocada no centro da nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), com uma visão para 2035. Já o Plano Clima adota a transição justa como estratégia para uma economia de baixo carbono que respeite a justiça social. “A justiça climática é o futuro do multilateralismo e onde o Brasil pode inovar”, assegurou Karen. 

Temas prioritários na COP30 

A diretora de Clima, Economia e Finanças do WRI Brasil, Karen Silverwood-Cope, citou os temas prioritários de atuação do Brasil na COP 30: redução de emissões de gases de efeito estufa; adaptação às mudanças climáticas; financiamento climático para países em desenvolvimento; tecnologias de energia renovável; justiça climática e impactos sociais das mudanças climáticas. 

“Quero destacar o sexto eixo, justiça climática, que veio para ficar e não mais vai sair das rodas de discussão. Principalmente a indústria irá abordar esse tema porque ela tem um papel de motor da economia muito grande”, ressaltou. 

Como garantir que as questões econômicas e tecnológicas necessárias não apenas reduzam emissões, mas promovam prosperidade econômica e social? De acordo com Karen, é importante promover diálogos inclusivos para construir consenso em torno de transições justas; identificar reformas facilitadoras em apoio à arquitetura internacional; apoiar a criação de redes e o intercâmbio entre países; apoiar reformas de mecanismos internacionais e apoiar transições justas em nível nacional. 

Oportunidades socioeconômicas 

Karen apresentou alguns dados. A transição sustentável pode gerar até 15 milhões de empregos verdes na América Latina até 2023 (OIT,2022); empresas que investem em eficiência energética e inovação já reduziram seus custos em até 25% (CEBDS,2023); o mercado global de investimentos sustentáveis (fundos ESG) já movimenta US$ 35 trilhões (OCDE,2023); mulheres representam 35% da força de trabalho nas energias renováveis (IRENA, 2022); 67% dos trabalhadores informais são negros (IBGE,2022) indicando necessidade de políticas de inclusão social. 

Finalizando a apresentação, Karen Silverwood-Cope destacou que, como vetor de justiça climática, a indústria emprega milhões de pessoas, oferecendo soluções para diminuir a precarização e desigualdade racial e de gênero; a descarbonização da indústria pode atrair até R$ 250 bilhões em investimentos até 2040, e há mais de R$ 12 bilhões disponíveis em crédito verde para apoiar inovação e tecnologias limpas (BNDES,2023). 


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