GM pretende investir R$ 10 bilhões no Brasil até 2024, apesar da alegação de prejuízo no país

Novo aporte dependeria de incentivos fiscais, negociações com empregados, revisão estratégica de produção e novos acordos com concessionários

A General Motors do Brasil divulgou mais um comunicado, desta vez sobre os planos de investimento da montadora até 2024, no Brasil. A nota divulgada no último sábado (2) chega dias depois que o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, fez um anúncio para os funcionários de fábricas brasileiras da fabricante.

Confira a íntegra do texto direcionado à imprensa, com os esclarecimentos da GM

A GM está concluindo o plano de investimento de R$ 13 bilhões no período de 2014 a 2019. A GM está negociando condições de viabilidade para o novo e adicional investimento de R$ 10 bilhões no período de 2020 a 2024. Caso as negociações tenham sucesso, a GM investiria R$ 23 bilhões entre 2014 e 2024 (R$ 13 bilhões de 2014 a 2019 e R$ 10 bilhões de 2020 a 2024).

O plano de investimento que está sendo concluído, no total de R$ 13 bilhões de 2014 a 2019, contempla: renovação completa da linha de produtos Chevrolet. Desenvolvimento de novas tecnologias de eficiência energética dentro do Programa INOVAR Auto.

Ressaltando que a GM alcançou neste processo os melhores resultados do programa, com uma média de economia de combustível de 22% na linha, muito superior à média do mercado, que foi de 15,9%. Novas tecnologias de conectividade incluindo a nova geração do sistema multimídia MyLink e o sistema de telemática OnStar.

Expansões nas fábricas de São Caetano do Sul e de Gravataí. Ampliação da fábrica de Joinville, que teve a capacidade elevada de 120 mil para 450 mil motores por ano. Implementação de inovadoras tecnologias de manufatura 4.0 nas fábricas de São Caetano do Sul, Gravataí e Joinville.

Estes investimentos levaram a marca Chevrolet à liderança do mercado, posição que mantém desde outubro de 2015."Como líderes de mercado, estamos assumindo a responsabilidade de encarar de frente os desafios de competividade que vive a indústria para viabilizar um futuro sustentável aos nossos negócios e o devido retorno aos acionistas.


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Continuamos trabalhando com os sindicatos, concessionários, fornecedores e governo com o objetivo de viabilizar este novo e adicional investimento de R$ 10 bilhões nas fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos", ressalta Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul."

Em Gravataí

Na última sexta-feira (1), a fabricante informou que desistiu das 21 reivindicações que havia feito no início da semana no sentido de reduzir custos trabalhistas. Diminuindo o piso salarial de novos trabalhadores, e a participação nos lucros, bem como alterando a jornada de trabalho. A decisão se aplica apenas à unidade de Gravataí (RS) da General Motors. Na ocasião, o Sindicato local comemorou a decisão. Contudo, a exemplo de outras montadoras no país, o momento da Chevrolet no país é de atenção.

Apesar do anúncio sobre os investimentos, para tentar diminuir seus custos, a empresa iniciou um processo de negociação e de flexibilizações trabalhistas com os sindicatos dos metalúrgicos das cidades de São Caetano do Sul (SP) e São José dos Campos (SP). E também com Governos de alguns Estados da Federação.

À administração paulista, por exemplo, foi solicitado a antecipação de créditos acumulados no ICMS. Enquanto ao Estado do Rio Grande do Sul, a montadora pediu o retorno da isenção no ICMS cobrado sobre o frete interestadual, e diminuição dos custos de exportação a partir do Porto de Rio Grande.

As tratativas começaram depois que a empresa divulgou comunicado interno afirmando que a operação estava dando prejuízo no Brasil, há três anos, o que foi interpretado como uma sinalização de que a marca poderia deixar de produzir no país, caso não voltasse a ter lucro em 2019.

A voz do Sindicato

Depois de ter recusado a propsota da GM de reduzir salários e direitos trabalhistas, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos divulgou nota em que diz unir trabalhadores de diversas categorias para barrar a retirada de direitos proposta pela General Motors no Brasil. No comunicado, o representante da categoria diz que nas próximas semanas essa será a principal tarefa das entidades que integram o Brasil Metalúrgico. O grupo se reuniu na sexta-feira (1), na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

“Essa grave ameaça da GM afeta toda cadeia produtiva de automóveis. Por isso, o Brasil Metalúrgico organiza hoje essa reunião ampliada”, afirmou Miguel Torres, vice-presidente da Força Sindical, durante a abertura da reunião.

Para os participantes, a montadora faz chantagem ao ameaçar deixar a América Latina, caso não volte a ter lucros. Além disso, ao pressionar pela retirada de direitos, a GM atua como ponta de lança da implementação da reforma trabalhista no Brasil.

Ao final da reunião, os participantes aprovaram a produção de um jornal dedicado à população para explicar, segundo o Sindicato, os impactos negativos que o plano de reestruturação da montadora pode causar na sociedade.

Como tudo começou

Em 18 de janeiro o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, enviou um comunicado para os funcionários de fábricas brasileiras da montadora com trechos de uma reportagem do  jornal The Detroit News, sobre entrevista com a presidente global, Mary Barra. E as notícias não eram boas.

O comunicado preocupou o Sindicato dos Metalúrgicos de São José do Campos, e região. Para o jornal norte-americano, Mary Barra poderia estar indicando que deixaria a América Latina, caso o quadro não se revertesse. "Barra deu sinais de que a GM está considerando sair da América do Sul", e "não vamos continuar investindo para perder dinheiro", escreveu o Detroit News. A informação foi divulgada primeiramente pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

No mesmo comunicado, Carlos Zarlenga disse que a GM teve um prejuízo agregado significativo no Brasil no período entre 2016 e 2018, que não poderia se repetir. “2019 será um ano decisivo para nossa história”, afirmou o executivo.

Tudo indica que a GM está estudando condições para viabilizar este plano de investimentos no país, até 2024. A estratégia poderá depender não apenas de investimentos, mas também de incentivos e até de mudança de estratégia de market share e de linha de produção.