Sinais de reversão no mercado de trabalho

Sinais de reversão no mercado de trabalho

A perda de fôlego da economia está perto de colocar um fim aos períodos de taxas muito baixas de desemprego, enquanto a inflação ajuda a brecar os avanços dos rendimentos e da massa salarial. A pesquisa mensal de emprego do IBGE mostra que a desocupação passou de 5,8% em maio para 6% em junho. Os técnicos do IBGE qualificaram a situação de "estável", mas o conjunto de suas estatísticas e as do Caged até permitem essa avaliação, mas permitem inferir que há um claro "viés de baixa" no mundo do emprego. Desde que a taxa de dezembro apontou algo perto do pleno emprego (4,6%), a desocupação vem gradual e discretamente aumentando. Movimentos negativos nessa área terão grande importância para as chances de reeleição da presidente Dilma Rousseff - no campo econômico, é um dos poucos trunfos inquestionáveis do governo até agora.
 
Os dados do Caged, divulgados anteontem (23) fazem um certo contraponto aos do IBGE, mas caminham na mesma direção. A criação líquida de 123,8 mil postos de trabalho, segundo o Caged, foi maior do que a prevista, e mostrou avanço de 2,82% sobre o mesmo mês de junho de 2012. No semestre, porém, a abertura de 826,1 mil vagas com carteira assinada foi a menor desde 2009, um ano de crise séria.
 
Pelos dados do IBGE, o mercado de trabalho ficou estagnado em junho. O número de pessoas desempregadas - 1,5 milhão nas seis regiões metropolitanas pesquisadas - praticamente não variou e o mesmo aconteceu com a população ocupada e ocupados com carteira de trabalho assinada no setor privado. Mas os dados de algumas regiões metropolitanas mostram um aumento do desemprego. Em Salvador, ele subiu de 8,4% para 8,8% de junho para maio, em Recife, de 6,1% para 6,5% e em São Paulo, de 6,3% para 6,6%. A curva da taxa de desocupação dessazonalizada já aponta mais claramente para cima agora.
 
O Caged, por não se restringir às 6 regiões metropolitanas do IBGE, poderia contar uma história diferente. A criação líquida de vagas, há um bom tempo, cresce mais fora das regiões metropolitanas. Dos 667 mil empregos criados no ano, 422 mil não estavam localizados nas metrópoles. Entretanto, as variações de ambas em uma média móvel mensal considerando 12 meses aponta uma linha monotonamente descendente desde junho de 2010. Em números absolutos, o primeiro semestre deste ano foi o pior desde 2009 para a abertura de vagas. E, apesar de o resultado positivo líquido de junho, o número de demissões, de 1,64 milhão, foi o maior para o período.
 
A percepção de uma fase de transição no mercado de trabalho, depois que a economia não avançou, mas cresce mais do que no ano anterior, fica clara no comportamento dos rendimentos do pessoal ocupado. Com a persistência de um quadro geral de escassez de mão de obra, os salários poderiam, em tese, continuar subindo, mas não é isso o que ocorreu. O rendimento médio real habitual da população ocupada caiu 0,2% em junho e aumentou 0,8% se comparado ao de junho do ano passado. Para os trabalhadores do setor privado com carteira assinada, os números são parecidos, -0,1% e 1,4%, respectivamente.
 
Na indústria extrativa e de transformação, que sentiu o peso das pressões salariais provenientes do setor de serviços, o rendimento médio real recuou 1,7% no mês e 0,5% na variação anual. O rendimento médio domiciliar per capita e a massa de rendimentos real da população ocupada mostraram o mesmo movimento - queda ligeira em junho, baixa variação anual (1,5% no caso). Na variação mensal que considera 12 meses, a massa de rendimentos em maio já apontava para baixo, com variação de 4,3%, da mesma forma que o rendimento real habitual (2,5%) e o da população ocupada (1,8%).
 
Uma reversão no nível de emprego seria uma péssima notícia para a presidente Dilma Rousseff, cuja popularidade foi arranhada pelos efeitos de uma inflação alta para os padrões de uma economia estável, pela desapontadora taxa de crescimento e pelos protestos massivos de junho. É pouco provável que haja uma retomada vigorosa neste e no próximo ano, um horizonte de tempo suficiente para que a queda da confiança dos empresários se traduza em uma taxa de desemprego maior. Mas não há desastres à vista, e o desemprego dificilmente aumentará muito ou rapidamente. A sensação de que há empregos de sobra para todos, porém, começa a acabar.