Um projeto do curso de Engenharia Mecânica Automotiva da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) desenvolve um veículo capaz de percorrer 60 quilômetros consumindo apenas um litro de combustível no percurso. A iniciativa pode modificar a maneira que os veículos atuais são produzidos, além de possibilitar que novos consumidores acessem esta fatia de mercado, embora os criadores não tenham a intenção de produzir o carro em escala industrial.
O desafio, que é comandado pelo responsável pelo Grupo de Tecnologia Automotiva (GTA), e vinculado ao curso de Engenharia Mecânica Automotiva e a Pós-graduação em Engenharia da Universidade, Luiz Carlos Gertz, está em fase de elaboração, com um protótipo já construído. Este protótipo foi batizado de Gogo. "Resolvemos trabalhar neste projeto, para mostrar aos consumidores que com a tecnologia disponível, é possível existir um veículo significativamente mais econômico. A proposta é que o Gogo consuma apenas um litro ao percorrer a distância de 60 quilômetros”, afirmou Gertz.
Para compreender o que esta redução pode significar o coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade, Marcel Jaroski, fez uma análise entre o protótipo e o Corsa 1000, pois vários componentes deste veículo foram utilizados na construção do Gogo. “Considerando estritamente o consumo de combustível, como o veículo tradicional percorre 12 quilômetros com um litro, enquanto que o protótipo da Universidade desloca 60. Significa que esse veículo deslocaria uma distância de 600 quilômetros com 50 litros, enquanto que o protótipo percorreria com os mesmos 50 litros, 3000 quilômetros. Se consideramos que o valor médio da gasolina na região metropolitana de Porto Alegre é de R$ 2,65, com os mesmos 50 litros gastos, o condutor do Corsa teria que desembolsar R$ 662,50 para percorrer os 3000 quilômetros, enquanto que para esta mesma distância o Gogo gastaria apenas R$ 132,50 o que equivale a uma economia real de R$ 530,00”, observou Marcel. A Engenharia Mecânica Automotiva atua em parceria com os outros cursos de Engenharia e de Design.
Parte mecânica
A mecânica do Gogo é basicamente a mesma de um Corsa 1000, porém com redução significativa da massa do veículo. Como o carro ainda não está pronto, é estimado que seu peso gire em torno de 600 kg. A diminuição da massa acarreta em redução de consumo por causa da diminuição de resistência a rolagem. “Outra modificação considerável ocorre na forma, tornando o coeficiente de arrasto aerodinâmico gerado muito inferior ao original. Houve ainda redução na área frontal do carro, fazendo com que ele disponha de apenas dois lugares. Um ocupante fica na frente e o outro atrás. Nosso veículo tem apenas duas grandes diferenças em relação a um carro original: a forma da carroceria e o peso. Toda mecânica restante corresponde a de um carro 1000, sem alteração nenhuma”, afirmou Gertz.
Em construção, o Gogo utiliza do Corsa o sistema motopropulsor, bancos, eixo traseiro, suspensão, uma parte do painel e pedais. O chassis do protótipo, construído no laboratório da Universidade, foi feito em tubos de aço, que proporciona rigidez, associada à pequena massa. A parte externa será feita em fibra de vidro.
A carroceria já estar projetada, mas falta ainda desenvolvê-la. “O próximo passo consiste na construção da carroceria. Trata-se de uma etapa trabalhosa e de valor mais elevado. Se o Laboratório de Protótipos Automotivos conseguir apoiadores e parceiros, os trabalhos serão concluídos de maneira mais rápida”, destacou Gertz. Apesar de ainda não ter sido concluído, o novo protótipo já apresenta características que poderão contribuir significativamente para um modelo de veículo mais econômico, algo importante na atualidade.
Produção interdisciplinar
Para iniciar o projeto de construção do Gogo, assim como nos outros protótipos, o corpo docente apresenta uma proposta na disciplina de Protótipos e os acadêmicos determinam, durante um semestre, como será o veículo. “Os alunos decidem em conjunto na própria sala de aula todas as características, desde a localização do motor, as soluções para o câmbio, a velocidade máxima e outros aspectos. Entretanto, durante cada uma das etapas existe a orientação dos professores”, enfatizou Gertz (foto).
Desta forma, o carro acaba se tornando a principal ferramenta para preparar o acadêmico para a atividade profissional. “Buscamos iniciar o processo criativo dos alunos, incentivando o desenvolvimento de protótipos, fazendo com que pensem em todos os aspectos na construção de um veículo. E claro, buscamos também provar que é possível fazer um carro muito econômico utilizando a tecnologia disponível atualmente”, destacou o docente.
Várias disciplinas do curso de Engenharia Mecânica Automotiva discutem o projeto do Gogo, tanto que entre bolsistas e voluntários, cerca de 100 alunos estiveram envolvidos de alguma forma na construção do protótipo. “Entretanto, o envolvimento maior fica por conta dos estudantes que estão terminando a graduação. Especificamente, o projeto é desenvolvido pelos estudantes da disciplina de Protótipos Automotivos, além daqueles que estão realizando seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs)”, salientou Gertz.