Fonte: Infosolda - 28/05/07
Apesar dos avanços nos últimos anos, o Brasil ainda não ocupa, no cenário mundial, posição de destaque no campo da inovação tecnológica. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento do setor privado são tímidos e as parcerias entre centros de pesquisa e empresas transformaram-se em uma saída importante para superar obstáculos tecnológicos existentes principalmente no ambiente industrial.
Uma das mais importantes e produtivas formas desse tipo de aproximação está no Instituto Fábrica do Milênio (IFM), uma organização de âmbito nacional apoiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) criada em 2002. Com foco na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias aplicadas no desenvolvimento de produtos, no gerenciamento da produção e em soluções técnicas no chão de fábrica, a finalidade do IFM é estreitar o vínculo entre instituições acadêmicas e indústrias do setor de manufatura. "Queremos empregar novas tecnologias de produtos, processos ou gestão para resolver problemas específicos das indústrias e aumentar sua competitividade nos cenários nacional e mundial", explica João Fernando Gomes de Oliveira, coordenador-geral do IFM e professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).
Na prática, o IFM é uma grande rede virtual formada por 600 pesquisadores distribuídos em 39 grupos de pesquisa e alocados em 32 instituições de ensino superior do Brasil e do exterior. Essas instituições formam os chamados nós da rede, que são articulados para desenvolver estudos sobre gestão e transformação organizacional, engenharia de ciclo de vida de produtos, processos de fabricação e automação industrial e gestão do desenvolvimento de produtos e de cadeias de suprimentos. Por meio de um portal na internet (www.ifm.org.br), o IFM coloca à disposição do mercado um banco de dados abastecido por cada um dos nós da rede com uma extensa lista de pesquisadores, informações sobre resultados de pesquisas e mapeamento das demandas das indústrias.
Desde o início de seu funcionamento, a rede de pesquisas já interagiu com mais de 400 empresas do setor de manufatura, como Embraer, Fiat, Rhodia, Embraco e TRW, resultando em cerca de 50 projetos de pesquisa de mestrado ou doutorado que se transformaram efetivamente em soluções para o setor produtivo. Com a TRW, por exemplo, em um dos projetos que o IFM colaborou, o objetivo foi melhorar o desempenho das atividades de fabricação de válvulas para motores automotivos. Novos processos e novas condições de trabalho foram desenvolvidos. Tais tecnologias são hoje utilizadas por diversas fábricas da empresa na Ásia, nos Estados Unidos e na Europa.
Os trabalhos realizados pelos pesquisadores vinculados ao IFM já resultaram em 17 patentes de tecnologia industrial, numa prova do potencial inovador da rede e da capacidade de melhorar a produtividade das empresas nacionais.
Entre as patentes se destaca a de um novo óleo de corte, para processos de usinagem e retificação de peças em indústrias de manufatura. A novidade do produto criado por pesquisadores associados ao IFM é que ele é biodegradável e, por isso, não causa danos ao ambiente.
"Os problemas industriais nos ajudam a formar recursos humanos com uma visão muito mais realista do mercado, com um claro entendimento do negócio em si, com domínio de tecnologia de informação e de manufatura e maior poder de criar inovações", diz Oliveira. "Com isso, nossos pesquisadores conseguem entender o sistema empresarial de forma mais pragmática e, atuando como verdadeiros ‘clínicos gerais', são capazes de diagnosticar problemas e propor soluções." A visão de mercado está intimamente ligada ao conhecimento acadêmico. Nos últimos cinco anos, os 30 coordenadores dos nós da rede do IFM publicaram mais de 280 artigos em revistas científicas.