O mercado de aço da China é acompanhado atentamente pelas siderúrgicas de todo o mundo. Produtores da Europa, América do Norte e Ásia aumentam ou cortam a produção, em parte, com base na demanda chinesa. Preços e níveis de estoque, bem como a compra de matérias-primas como carvão e minério de ferro, refletem a saúde do mercado chinês.
Mas sem dados firmes da China o cálculo da oferta e demanda mundial de aço e o planejamento de acordo com ele se torna um exercício de adivinhação. Na sexta-feira, a Associação Mundial do Aço, que compila as estatísticas do setor, estimou que a China produziu 7,1% mais aço em abril do que no mesmo mês um ano antes. A China produziu cerca de 625 milhões de toneladas em 2010 e 2011 está se configurando como um ano de produção recorde no país.
A Associação Mundial do Aço baseia sua estimativa de produção em dados fornecidos pela agência de estatísticas do governo e pela Associação do Ferro e do Aço da China. A associação nacional, que afirma representar cerca de 75% dos produtores do país, incluindo a Wuhan Iron and Steel Co. e a BaoSteel Group Corp., a maior siderúrgica da China, depende de que seus membros divulguem voluntariamente números de produção precisos.
Os dados não incluem centenas de usinas menores, administradas independentemente, que não costumam divulgar a produção ou não a informam integralmente por motivos políticos ou logísticos. "Há uma área na qual não temos realmente fontes claras", diz Soo Jung Kim, porta-voz da Associação Mundial do Aço, que tem sede em Bruxelas. Ainda assim, ele disse que a associação tem confiança em seus números.
Na China, algumas siderúrgicas afirmam prontamente que não veem motivo para gastar tempo divulgando sua produção. "Informar nossa produção? Não, não precisamos fazer isso. Ninguém nos pediu para informar nosso número de produção", disse um homem de sobrenome Meng que se identificou como gerente de uma usina que fabrica 300.000 toneladas de aço por ano em Huanxizhuang, um vilarejo nos arredores de Tangshan, na província de Hebei, norte do país. Da mesma maneira, o gerente de uma usina próxima na cidade de Xinjuntun, de sobrenome Wen, disse que não vê necessidade em tornar públicos os detalhes de sua produção anual de 400.000 toneladas: "Somos uma empresa privada, a quem preciso informar?"
Peter Fish, da Meps Ltd., uma consultoria siderúrgica do Reino Unido, diz acreditar que a informação de produção inferior à real é, em parte, resultado da pressão política no setor de "cumprir metas antigas" de fechar usinas ineficientes até o fim do ano passado. "No papel isso foi conseguido com sucesso, mas na realidade muitas dessas usinas continuaram a produzir e evitaram o fechamento ao não submeter" dados de produção, diz.
Fish diz acreditar que os números anunciados pela agência de estatísticas chinesa e pela associação de siderúrgicas do país são inferiores à produção real em 45 milhões de toneladas, ou 7% a 10% da produção divulgada de 2010. Siderúrgicas menores podem passar despercebidas porque às vezes geram a própria eletricidade e a malha elétrica do país não está desenvolvida. Em vez disso, elas fabricam principalmente aço de baixa qualidade em usinas movidas a carvão.
"Ninguém realmente sabe quantas siderúrgicas existem na China", diz o analista Charles Bradford, da Bradford Research Inc. Segundo ele, os dados chineses são tão pouco confiáveis que nos últimos 30 anos ele prestou mais atenção ao consumo de eletricidade do país para ter uma ideia de quanto a produção de aço deve estar aumentando. Ele diz que a falta de informação sobre quanto aço é fabricado pode provocar volatilidade no mercado mundial.
O aço, diferentemente do cobre ou de outros metais, não é negociado numa bolsa como a Bolsa de Metais de Londres. Em vez disso, é comprado e vendido geralmente por meio de contratos privados entre a siderúrgica ou intermediário e um usuário, como uma montadora de automóveis. Pode haver muito mais aço armazenado na China do que outros produtores imaginam. Se a economia chinesa desaquecer, boa parte desse aço pode vir a ser exportada, o que derrubaria os preços ao redor do mundo.
Os preços do aço começaram a subir na China no mês passado, agora que passa o desaquecimento de inverno, mas os preços estão de maneira geral ainda abaixo - em 10% a 15% - dos da América do Norte e de algumas partes da Europa. O resto da indústria siderúrgica está observando se os preços na China vão cair de novo nos próximos meses, uma indicação de que há mais oferta que demanda no país. Peter Marcus, analista siderúrgico da World Steel Dynamics, diz que a política tributária da China também encorajou níveis mais altos de estoque de aço.
A China impõe impostos elevados sobre a exportação de aço bruto, como meio de encorajar a manutenção do produto no país e seu uso para a produção de items de maior valor, como automóveis, eletrodomésticos e produtos de engenharia. Esses bens acabados podem então ser exportados. As siderúrgicas menores, que tendem a não divulgar a produção, podem ser forçadas a armazenar aço que teriam exportado se os impostos não fossem tão altos.
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