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Autores: Alexandre Favaretto, Coordenador de Engenharia de Processos da Tritec Motors e Márcio Rezende, Gerente Industrial da SNR Rolamentos do Brasil
O desenvolvimento de novas tecnologias, sejam elas de informação ou de gestão, tem aumentado a competitividade de maneira exponencial a cada ano. O mundo tornou-se plano. A competição aberta entre mercados é marcada por incertezas: há grande dificuldade em fazer previsões quanto ao crescimento (ou declínio) das economias, ciclo de vida dos produtos, desenvolvimentos tecnológicos e novas formas de se fazer negócio. Este novo ambiente tem exigido das empresas agilidade, flexibilidade no atendimento à demanda, foco intenso nos clientes, ciclos de vida de produtos abreviados, atenção permanente ao surgimento de novas tecnologias e o desafio da redução de custos.
No mundo automotivo, dentro desse contexto, somam-se à complexidade e ao alto grau de desenvolvimento tecnológico de seus processos e produtos, as necessidades crescentes de diferenciação pelos baixos custos e flexibilidade. Uma parte significativa dos custos nesse segmento é representada pelos processos de usinagem de componentes, onde as ferramentas de corte são consideravelmente onerosas.
Os custos representados pelas ferramentas de corte vão muito além dos de aquisição. A etapa de concepção, a logística, treinamento dos usuários são componentes que merecem atenção primorosa. Caso não sejam realizados adequadamente, podem ter impactos negativos no resultado global do sistema produtivo, através de:
Esses são apenas alguns dos freqüentes problemas que envolvem ferramentas de corte e que incidem diretamente no custo do produto acabado. Para controlá-los, é necessário haver uma gestão específica, cujo conjunto de práticas é chamado de Gerenciamento de ferramentas.
O que é gerenciamento de ferramentas de corte?
Em resumo, o gerenciamento de ferramentas é uma prática que visa otimizar a ramificação da cadeia produtiva por onde passam as ferramentas de corte, ou seja, descreve todas atividades requeridas para a melhor utilização do ferramental – seja ele perecível ou não – desde a seleção, passando pela utilização e reutilização até chegar ao descarte, durante toda sua vida útil.
O gerenciamento eficaz de ferramentas é considerado hoje um importante diferencial competitivo. A crescente compreensão da importância do papel do ferramental na manufatura hoje coincide com o interesse no tema Gerenciamento de Ferramentas. Nunca se falou tanto no tema como atualmente.
Alguns autores o definem como uma estratégia que visa a resolução dos problemas relacionados às várias atividades que envolvem o uso de ferramentas, incluindo aquisição, armazenagem, desenvolvimento de base de dados de ferramentas, seleção e alocação de ferramentas, inspeção, preparação (preset), entrega às linhas, troca, monitoramento e controle de inventário. Colocam ainda que o gerenciamento de ferramentas é uma abordagem organizada visando garantir as ferramentas disponíveis para atingir os objetivos da produção, contribuindo para o aumento da produtividade e eficiência.
Uma empresa pode utilizar o gerenciamento de ferramentas em diferentes níveis, podendo ser totalmente interno (utilizando-se uma estrutura interna existente) ou gerenciamento terceirizado total, onde uma empresa externa assume toda a estrutura de compras, estoques, pessoal especializado (preset, suporte de processos, reafiação) e logística interna, chegando a fixar um preço por peça produzida. Dentro deste perímetro, todas as variações podem ser encontradas no mercado.
Um entendimento incompleto ou inadequado dos níveis de gerenciamento pode ser um dos grandes obstáculos à sua implementação. Quando se trata da definição de gerenciamento de ferramentas de corte, um equívoco freqüente diz respeito à utilização de terceirização, softwares dedicados e mesmo a aplicação de “vending machines” como sendo o gerenciamento propriamente dito. A adoção dessas soluções pode ser uma opção interessante, porém algumas empresas investem nestas ferramentas com a esperança de resolver seus problemas com o ferramental, o que dificilmente ocorrerá sem uma estratégia adequada e entendimento claro dos objetivos do gerenciamento de ferramentas. A abordagem do tema precisa ser feita de forma sistêmica, organizada e com uma definição exata de perímetro.
A terceirização do gerenciamento de ferramentas de corte vem sendo considerada uma alternativa por várias empresas. Por exemplo, para que um processo de terceirização do gerenciamento de ferramentas seja realizada com sucesso, trazendo ganhos reais, é de grande importância que a empresa contratante detenha o know-how internamente e tenha conhecimento detalhado de seus custos com a administração de ferramentas. Muitas empresas, com o desejo de “transferir o problema” e transformar seus custos com ferramentas - muitas vezes desconhecidos - em custos fixos, optam pela terceirização completa e apressam sua implementação, podendo trazer prejuízos para ambas as partes. Nesse caso, as probabilidades de sucesso são muito reduzidas.
Objetivos do gerenciamento de ferramentas
Boogert (1994) coloca como objetivos macro do gerenciamento de ferramentas:
Baseado nesses objetivos gerais, pode-se resumir como objetivos específicos do gerenciamento de ferramentas: reduzir estoques e obsolescência; padronizar as ferramentas utilizadas; eliminar a falta de ferramentas; aumentar a produtividade; reduzir o custo com ferramentas; controlar a localização e fluxo de ferramentas no chão de fábrica; reduzir os tempos de preparação de máquinas; reduzir quebras de ferramentas; garantir a disponibilidade de informação precisa e atualizada; fortalecer relacionamento com fornecedores; garantir qualidade dos serviços de afiação e preparação de ferramentas; garantir a qualidade do produto produzido; garantir atualização tecnológica; fornecer dados para melhorias de processo; e garantir o uso ecologicamente correto de ferramentas de corte.
O gerenciamento de ferramentas deve ser tratado como uma estratégia interdepartamental, sendo fundamental o apoio e comprometimento da alta gerência. Os objetivos só serão atingidos através do pleno entendimento, cooperação e compartilhamento de objetivos e informações entre todos departamentos da empresa envolvidos com o gerenciamento, bem como na formação de parcerias do tipo “ganha-ganha” entre a empresa e a terceirizada (para o caso de gerenciamento externo).
Principais benefícios
A conscientização a respeito do impacto das ferramentas de corte nos custos de produção, bem como a atual diversidade e complexidade dos modernos sistemas de manufatura, indicam que a gestão correta do ferramental de corte não pode ser ignorada. Ao mesmo tempo em que se busca extrair o máximo das máquinas e ferramentas de corte, busca-se minimizar os custos diretos e indiretos relativos ao seu uso e a redução do impacto que os problemas relativos a sua utilização têm no processo produtivo. Busca-se, também, a redução de obsolescência e a eliminação de paradas de linha por falta de ferramentas. Junto a isso, a necessidade de produzir maior variedade de produtos, com lead-times reduzidos e a produção em pequenos lotes - características da produção enxuta - exigem que as ferramentas de corte estejam disponíveis no local e momento necessários a sua utilização, na qualidade adequada e ao menor custo possível. É nesse ponto que o gerenciamento de ferramentas de corte tem grande impacto na eficiência do sistema produtivo: afeta, ao mesmo tempo, a disponibilidade de equipamentos, a qualidade do produto, a flexibilidade e o fluxo da produção, a disponibilidade de capital de giro – pela redução e controle dos estoques e os tempos de preparação de máquina.
Desafios à implementação e conclusão
De acordo com Boogert (1994), para alcançar todos os benefícios propostos pelo gerenciamento de ferramentas deve-se focar simultaneamente e de forma integrada o planejamento estratégico, logístico e técnico. O planejamento técnico lida com a seleção e uso de ferramentas; o planejamento logístico, com a disponibilização das ferramentas no local e tempo certos; o planejamento estratégico envolve decisões que, por exemplo, podem limitar a variedade e quantidade de produtos que podem ser produzidos com o ferramental disponível.
O gerenciamento de ferramentas descreve todas atividades requeridas para uma efetiva utilização do ferramental durante toda sua vida útil. Contudo, muitas empresas abordam o tema sob a perspectiva isolada da engenharia, ou da produção, ou da logística. O gerenciamento de ferramentas é multidisciplinar e interdepartamental, somente pode ser bem sucedido se aplicado de forma sistêmica. A integração e cooperação entre os diversos departamentos envolvidos no gerenciamento de ferramentas é de vital importância para o bom andamento do processo como um todo. A troca de informações essenciais deve ser constante e as metas devem ser compartilhadas, de forma a não incentivar ações isoladas visando somente interesses unilaterais.
A falta de estratégias claras e bem definidas para importantes atividades do gerenciamento, como, por exemplo, pontos de reabastecimento de estoque e controle de vida útil de ferramentas, é uma importante dificuldade a ser superada.
O estabelecimento de políticas claras e objetivas para formação de parceiras com fornecedores de ferramentas de corte pode ser um grande facilitador no atendimento dos objetivos do gerenciamento de ferramentas de corte.
Todos esses fatores o tornam um importante fator estratégico de competitividade. Dessa forma, não deve ser considerado como um porto onde a empresa irá simplesmente depositar todos os seus problemas com ferramentas de corte. A prática do gerenciamento de ferramentas eficiente (seja ele interno ou terceirizado) é uma necessidade em empresas com mentalidade enxuta, como forma de combate aos desperdícios que envolvem ferramentas de corte e de estabilização dos processos de usinagem para promoção de melhoria contínua.
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