Ferro-gusa no limite econômico e sustentável

Na encruzilhada na qual chegou o setor de ferro-gusa em Minas Gerais, apenas um caminho é apontado como alternativa para fugir da tormenta sem fim iniciada com a crise financeira mundial: modernizar o pátio para reduzir custos e diversificar a produção. E, como se não bastasse o franco retrocesso das vendas externas, o gusa enfrenta ainda a ameaça da matéria-prima – o carvão vegetal. O setor não conseguiu cumprir metas de sustentabilidade que deveriam ser atingidas em 2012.

O prazo foi estendido para 2017, mas especialistas desconfiam que, ainda assim, a data pode não ser suficiente para os guseiros conseguirem plantar florestas suficientes e se livrar da pressão do carvão com origem nas matas nativas.

De janeiro a junho deste ano, as exportações do estado encolheram 33% frente a 2009, uma base fraca de comparação. A queda corresponde a mais que o dobro do percentual nacional, que no mesmo período caiu 19%. Enquanto em 2008 Minas exportou, em média, 300 mil toneladas/mês, este ano a expectativa do Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG) é que o estado só atinja a antiga média mensal no acumulado de janeiro a setembro.

“A crise do gusa é estrutural, não é consequência apenas do câmbio. Existe excesso de oferta, o setor é especulativo e precisa de investimento em tecnologia para reduzir custos”, diz José Elísio Batista, secretário-adjunto de Fomento Econômico da Prefeitura de Divinópolis, polo produtor no Oeste do estado. “A solução para o setor é verticalizar (unir a produção de gusa com a fundição) ou começar a fabricar aço.”

Segundo o secretário-adjunto de Divinópolis, outra questão que pesa nos custos é o desperdício. “Há 60 anos o gás que poderia tornar uma usina autossuficiente e ainda se tornar em um excedente vendido como energia é jogado fora. As termoelétricas são importantes para reduzir os custos. Só quem investe em tecnologia está de pé”, aponta Batista. Segundo ele, das oito empresas do setor concentradas no Oeste do estado, 50% já têm projetos para diversificar a atividade. Três já têm projetos para integrar a fabricação do gusa à fundição, e uma quarta empresa já está trabalhando com a fabricação do aço.

Os empresários do gusa iniciaram esta semana a discussão sobre a viabilidade de se investir em uma aciaria, (usina para produção de aço) voltado para construção civil. A ideia é montar uma planta com capital conjunto do setor, espécie de cooperativa, que compraria a matéria-prima excedente agregando valor ao gusa e ao, mesmo tempo, aproveitando o mercado superaquecido da construção.

O projeto está sendo ressuscitado depois de já ter sido lançado e abandonado por duas vezes nas décadas de 1960 e 1980. “Toda a produção atual é consumida pelo mercado interno”, aponta Paulino Cícero presidente do Sindifer. Ele aponta que a corda está sufocando especialmente o gusa para aciaria, que corresponde a 75% da produção do estado e tem menor valor agregado, sendo por isso a principal frente de preocupação do setor.

Mercado interno
No mercado interno, o gusa para fundição tem preços 40% inferiores aos valores praticados em 2008. Já o produto para aciaria está variando entre R$ 700 e R$ 800. Há dois anos, os valores chegaram a US$ 900. O presidente da TMG Siderurgia, Gerson Montessi, localizada em Divinópolis, explica que a empresa está com o investimento de R$ 4 milhões em banho-maria. Visando agregar valor ao gusa, a TMG começou a investir na fundição, integrada ao parque siderúrgico. “Estamos avaliando a continuidade do projeto, porque o momento é de insegurança no mercado”, diz. Montessi considera positiva a ideia de produzir aço. “Tanto os fornecedores de minério como os compradores do aço são clientes fortes, mas acredito que o setor tem condições de ser competitivo.”

Outro gargalo apontado pelo secretário de Fomento Econômico de Divinópolis são os eucaliptos. “Não existe financiamento para florestas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).” De acordo com ele, os custos elevados do investimento, que deve ser feito por conta própria, deixa o setor submetido às altas do carvão, além de enfrentar problemas com o desmatamento ilegal.


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