Imagem: Divulgação
Um crescimento de 16% seria festejado em quase todos os segmentos da economia, mas isso não é o que acontece no mercado de máquinas e equipamentos. Esse percentual representa o aumento no faturamento do setor em janeiro de 2010, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, mas não foi recebido com comemorações pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
Na opinião de Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq, o crescimento do setor em janeiro último está longe de significar uma compensação diante das perdas nos últimos tempos. Para um País que, em pouco mais de uma década, regrediu da quinta para a 15ª posição no ranking mundial dos maiores produtores de máquinas e equipamentos, o Brasil caminha para um arriscado cenário de desindustrialização, segundo a opinião de alguns economistas e especialistas do setor. Para isso contribui a crescente participação das importações no consumo interno de equipamentos, conforme explica Aubert Neto.
Em entrevista à Revista M&T ele lista medidas que podem contribuir para a recuperação da indústria brasileira que, na sua opinião, é muito competitiva em âmbito internacional. Ele pede maior isonomia no tratamento dado ao setor e diz que as recentes iniciativas do governo, como a isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor e a oferta de crédito a juros menores por parte do BNDES, não foram suficientes para recuperar o equilíbrio na feroz competição entre equipamentos importados e de produção local.
Vale ressaltar que os números apresentados por Aubert Neto se referem a toda a indústria de equipamentos, envolvendo desde os fabricantes de máquinas têxteis e gráficas, até os equipamentos usados em mineração, agricultura, construção, extração de petróleo e obras navais, entre outras. No segmento de equipamentos para construção, por exemplo, a Abimaq aponta que, em 2009, os fabricantes brasileiros registraram uma queda de 20% no faturamento bruto, o que representa uma perda de participação no mercado interno, associada à queda no volume de exportações.
M&T – O faturamento de aproximadamente R$ 4,6 bilhões que o setor de máquinas e equipamentos registrou em janeiro é 16% superior ao do mesmo período de 2009. Esse não é um bom número?
Luiz Aubert Neto – Se considerarmos que janeiro de 2009 foi um dos piores meses de nossa história, com certeza não é um bom resultado crescer apenas 16%. Esse tímido incremento, aliás, não será o suficiente sequer para alcançarmos os patamares de 2007. Atualmente, vemos uma movimentação discreta na maioria do setor de máquinas e equipamentos, com exceção das máquinas têxteis e das para produção de plástico, que contaram com financiamentos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e com a isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Os demais segmentos da nossa indústria, como os de máquinas hidráulicas e pneumáticas e o de equipamentos agrícolas, vivem outra realidade, com grande queda de faturamento na comparação entre janeiro de 2010 e dezembro de 2009. Por isso, a somatória de todos os setores analisados pela Abimaq aponta para uma queda total de 26% no faturamento da indústria de máquinas e equipamentos.
M&T – Mas não é comum que o mês de janeiro apresente resultados inferiores ao mês anterior?
Aubert Neto – Sim, mas a queda foi muito grande em 2010. Geralmente ela fica na faixa de 15%, o que permite a recuperação do setor nos meses seguintes. Com o resultado apurado em janeiro último, há uma demonstração de que estamos tendo os piores índices dos últimos cinco anos em termos de exportação e importação de equipamentos. Estamos, de fato, preocupados com o caminho que será trilhado pela indústria de máquinas e equipamentos em 2011.
M&T – Os financiamentos do BNDES e a isenção de IPI não ajudam a manter um equilíbrio entre importação e consumo local no ponto de vista da indústria nacional?
Aubert Neto – Ajudam, mas não são suficientes. O nosso levantamento de janeiro mostrou que as importações cresceram 300%, de 2004 a 2009, alcançando o montante mensal de US$ 1,6 bilhão. Já as exportações aumentaram apenas 50% no mesmo período, representando atualmente cerca de US$ 465 milhões/mês. Isso demonstra que cada vez mais estamos priorizando a exportação de matéria-prima, como minério de ferro e soja, e importando produtos acabados. Um bom exemplo disso é uma usina eólica importada da Índia, que chega ao País ao custo de cerca de US$ 1 mil por quilo. O detalhe é que esses componentes são basicamente de aço, material fabricado a partir do nosso minério de ferro, que é exportado ao valor de US$ 80 a tonelada. Por isso perguntamos: quando deixaremos de ser produtores de banana e passaremos a fabricar bananada?
M&T – Quais os motivos para que a indústria de máquinas e equipamentos apresente tal desempenho em termos de exportação?
Aubert Neto – De tudo o que exportamos, mais de 30% é destinado a países industrializados, detentores de alta tecnologia. Isso atesta o quanto somos competitivos e demonstra que também temos tecnologia e qualidade. Então, não é competência o que nos falta. Para sermos bem claros, os maiores inimigos no processo de exportação são o câmbio e nossa política tributária. Com a valorização da nossa moeda diante do dólar e os abusivos impostos praticados no Brasil, que dispensam comentários, arrisco-me a dizer que já começamos uma negociação internacional com nossos preços cerca de 35% acima dos de qualquer outro produtor mundial. Trata-se de uma briga desleal.
M&T – Essa briga “desleal” se estende ao mercado interno, no caso as importações?
Aubert Neto – Sim, principalmente quando observamos medidas provisórias absurdas como o Repenec (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste). Ela autoriza as refinarias de petróleo a comprarem máquinas importadas, mesmo no caso das que têm similar nacional, com custo zero de importação. Isso é um massacre, principalmente se considerarmos que o produtor brasileiro arca com uma carga tributária exorbitante. A concorrência, nesses casos, fica ainda mais desleal e permite entender o porquê dessa discrepância na balança comercial do setor de máquinas e equipamentos.
M&T – No caso do setor de equipamentos para construção, as importações ajudaram a suprir uma demanda que a indústria nacional não conseguia atender em 2008. Como o senhor analisa a situação nesse momento de retomada da demanda?
Aubert Neto – É preciso ficar claro que eu não sou contra as importações. Muito pelo contrário, sou a favor desde que representem uma alternativa para o consumidor de forma a aumentar a nossa capacidade competitiva e melhorar os processos produtivos. O que sou contra é a falta de isonomia em relação à indústria nacional de máquinas. Se os chineses e coreanos, que nos últimos dois anos ganharam mercado nesse e em outros setores, são tão bons, quero ver sua competitividade com uma base industrial instalada aqui no Brasil.
M&T – Mas algumas empresas chinesas e coreanas já estão anunciando a instalação de fábricas no Brasil para a produção de equipamentos de construção.
Luiz Aubert – É preciso analisar cada caso e verificar se eles gozam de incentivo fiscal, pois não vejo outra forma de subsistência para um projeto desse tipo sem alguma contrapartida. Além disso, temos de tomar cuidado com esses anúncios, pois montar fábrica é uma coisa e instalar uma montadora de máquinas é outra. Muitas dessas empresas começam a montar uma estrutura local apenas para apoio a sua estratégia de penetração no mercado, de forma a aumentar o estoque de componentes e melhorar a assistência pós-vendas, entre outros aspectos. Tudo isso sem fabricar um único componente no País.
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