Imagem: Divulgação
Sem condições de competir em pé de igualdade com os chineses, empresas como a paulista Kone, fabricante de máquinas-ferramenta (tornos, furadeiras e fresadoras), apostam na revenda de equipamentos asiáticos, com o carimbo da marca, para se sustentar no mercado nacional. Há três anos importando, a empresa triplicou o faturamento e reduziu pessoal com a mudança de estratégia.
O motivo da troca das peças nacionais por importadas, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), com Luiz Aubert Neto não está na qualidade, mas na necessidade financeira. "Sob o ponto de vista técnico, os equipamentos nacionais são competitivos. Do ponto de vista financeiro, no entanto, a competitividade fica comprometida por questões como, por exemplo, a taxa de câmbio", diz.
O presidente da Kone, Marcelo Cruañem, justifica. "Já deixamos de fabricar a maioria dos nossos equipamentos e dentro de seis meses vamos avaliar se passaremos a ser exclusivamente importadores, coisa de que não gostaríamos". Com as importações, a empresa vem trabalhando "de vento em popa". As vendas pularam de 50 a 60 máquinas por mês para 270 a 320 unidades. O quadro de pessoal, que nos tempos áureos chegou a mais de 400 funcionários, hoje não passa de 100. Contudo, a lucratividade triplicou. "O preço de uma máquina chinesa não paga sequer a matéria-prima no Brasil. O quilo do ferro fundido aqui custa cerca de US$ 3, e eu compro máquina chinesa pronta por R$ 2,5 a R$ 3 o quilo."
Essa diferença, de acordo com um estudo recente da Abimaq, é resultado do impacto do chamado Custo Brasil maior que a indústria brasileira como um todo. De acordo com a Abimaq, o conjunto de custos internos, que só existem no País, onera em 36,27% a produção nacional de bens de capital comparada com a fabricação na Alemanha.
O caso da Kone não é um exemplo isolado. "Está havendo um processo de desindustrialização no Brasil", confirmou Neto.
Um dos segmentos mais prejudicados é o de válvulas industriais, equipamentos usados em obras de saneamento básico, indústrias de açúcar e álcool e petróleo, entre outros. "A participação de mercado dos equipamentos nacionais, que era de 60% há quatro anos, hoje não passa de 20%", disse o presidente da SMV Válvulas Industriais, Erfrides Bortolazzo Soares.
A fabricante de guindastes Madal Palfinger também sofre com o preço baixo chinês. O gerente da linha de produtos, Silvio Gatelli, diz que os equipamentos chineses custam cerca de 50% menos que os brasileiros. "O preço de um guindaste nosso de 30 toneladas é de em torno de R$ 1 milhão; por esse mesmo valor, os chineses oferecem uma máquina de 70 toneladas. Talvez a solução seja importar."
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