Fonte: Agência Brasil - 19/04/07
O país precisa redefinir o perfil de seu parque industrial para evitar o risco de apagão nos próximos anos. Em vez de atividades que consumam energia em larga escala, o Brasil deve apostar em indústrias capazes de utilizar os investimentos que utilizem os recursos naturais de forma mais racional e gastem menos eletricidade.
Essa é a opinião do professor Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, a maior parte da pressão sobre o consumo de energia do país atualmente se concentra em seis setores da indústria: siderurgia, cimento, papel e celulose, alumínio, petroquímica e ferro-liga. “Essas atividades, que estão em expansão nos últimos anos, respondem por 30% da demanda de energia”, ressalta o especialista.
Segundo Bermann, o Brasil terá de estimular a produção de bens mais elaborados e com maior valor agregado, como os setores de alta tecnologia, para reduzir a participação da indústria pesada na economia do país. “Não estou defendendo o fechamento desse tipo de indústria”, esclarece o acadêmico. “O ideal é que a produção passe a ser orientada para setores que consumam energia de forma menos intensiva”, completa.
Diferentemente do Instituto Acende Brasil, que divulgou na semana passada um estudo no qual alerta para o risco de apagão a partir de 2010, Bermann acredita que qualquer avaliação nesse sentido é precipitada. “Como as chuvas foram muito boas no início deste ano e o país está com excesso de energia das hidrelétricas, ainda não é possível avaliar se haverá racionamento nos próximos três anos”, afirma.
Bermann, no entanto, não descarta o risco de problemas a médio prazo. “Se as indústrias pesadas mantiverem o ritmo de crescimento, aí sim corremos risco de enfrentar racionamento na próxima década”, adverte.
Além de mudanças na indústria brasileira, o professor sugere medidas para estimular o país a aumentar a geração de energia sem contar apenas com as obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e no Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica. “Existem medidas mais baratas que permitirão ao governo gerar mais eletricidade sem construir nenhuma usina”, destaca.
A primeira iniciativa é o investimento na redução das perdas durante a transmissão de energia. “Segundo os cálculos oficiais, 15% de toda a eletricidade gerada se perde antes de chegar ao consumidor final”, diz Bermann. “Se esse desperdício diminuísse para 10%, haveria um grande ganho.”
A segunda medida, segundo o acadêmico da USP, está na melhoria da eficiência na geração de energia, com a recuperação de cerca de 70 usinas hidrelétricas que operam no país há mais de 20 anos. “Esse é um investimento com custo baixo e que precisa ser planejado pelo governo”, ressalta. De acordo com o especialista, essa iniciativa poderia fornecer 8 mil megawatts adicionais de eletricidade, o que equivale a mais da metade dos 12.386 megawatts previstos no PAC e representa cerca de 10% dos 98.141 mil megawatts gerados no Brasil atualmente.
Na avaliação de Bermann, além de dispensar a construção de novas unidades, essas duas iniciativas têm repercussão ambiental porque diminuem a necessidade de termelétricas, usinas movidas a combustíveis poluentes e que predominam entre os empreendimentos cadastrados para o leilão de energia nova da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) previsto para o final de maio.
Para que a recuperação das hidrelétricas existentes seja bem-sucedida, no entanto, o professor salienta que é necessário planejamento e urgência por parte do governo. “Como a usina precisará ser desativada durante esses trabalhos, as autoridades têm de traçar um cronograma para que o consumidor não seja prejudicado”, observa. Ele destaca que esse é o momento ideal para iniciar esses procedimentos. “Como hoje existe um excesso na oferta de energia, o governo pode melhorar as usinas existentes, mas daqui a três anos não deve haver tanta folga”, alerta.
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