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A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que parte da resistência ao uso do etanol vem da oposição dos interesses ligados ao petróleo. Na segunda-feira (23), o secretário-executivo da Convenção da ONU para Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, ressaltou que o etanol brasileiro "não gera desmatamento" e é sustentável, mas criticou os biocombustíveis de outras fontes. Para ele, apenas o etanol que seja produzido de forma sustentável fará parte de uma solução final para garantir a redução de emissões de gás carbônico no mundo. E ainda alertou: "Uma solução climática no mundo não passa por abandonar um combustível por outro. Todos terão de estar envolvidos."
De Boer lidera os esforços da ONU para conseguir que, até o final de 2009, um acordo internacional estabeleça regras para reduzir as emissões de gás carbônico. Em sua avaliação, o mundo precisará de investimentos de até US$ 300 bilhões para reduzir as emissões até 2030 aos níveis de 1990. Pouco, em comparação com os US$ 20 trilhões que serão necessários em termos de investimento no setor de energia até 2030 para alimentar o mundo.
No que se refere ao etanol, De Boer admitiu que o assunto não é bem recebido pelos produtores de petróleo. "Cada país e setor tem seu interesse", disse. "O pessoal do petróleo não gosta desse debate (do etanol)", admitiu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já alertou no início do mês em Roma que os "dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão".
Mas o representante da ONU também alerta que os países emergentes e produtores de etanol devem aceitar debater um espaço para o petróleo e tecnologias limpas para esse setor. "O que precisamos é que todos se sentem à mesa para discutir. A solução para a questão climática não será a de escolher entre um ou outro combustível", disse. Ele nega que a solução nas emissões de gás carbônico tenha de passar pela substituição de combustíveis no mundo. "O que queremos é reduzir as emissões. Esse é o objetivo", disse.
Para ele, o debate sobre o futuro do etanol precisa ser mais "sofisticado". "Não há um só etanol. O que existe no Brasil não desmata e é sustentável", disse. Em sua avaliação, o critério de sustentabilidade será o que determinará se o etanol poderá ou não fazer parte de uma solução climática no mundo. "O biocombustível de óleo de palma desmata. Há também o etanol de milho, que está gerando a alta nos preços dos alimentos", alertou. "Portanto, sei que o etanol será ainda um tema polêmico nas negociações do clima", completou.