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Cansada de lutar contra um desenvolvimento econômico desintegrado de questões ambientais e sociais, a ministra do meio ambiente, Marina Silva, entregou ontem sua carta de demissão ao presidente do país, Luis Inácio Lula da Silva, que recebeu a notícia enquanto almoçava.
"Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem pela frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para agenda ambiental", afirmou Marina Silva na carta, onde reclamava da resistência que enfrentou no governo. A nomeação de Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) para coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS) foi apontada como uma possível ‘gota d´água’ para a situação vivida pela ministra no governo.
“Foi ruim para o governo, foi ruim para o Brasil, pois mostra que a questão ambiental ainda não foi totalmente integrada nos planos de desenvolvimento do país”, comenta o vice-presidente para a América do Sul da Conservação Internacional, José Maria Cardoso da Silva.
O diretor da campanha de Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario, concorda."O pedido de demissão da ministra Marina comprova o descaso do governo Lula com a causa ambiental e também com a proteção da Amazônia", afirma.
Para Cardoso da Silva, a saída de Marina é um passo adiante conquistado pelo setor ruralista mais conservador, que vive de subsídios do governo, não respeita legislações ambientais e que vinha trabalhando duro para conseguir o afastamento da ministra. “Eles é que estavam mais incomodados com a pressão ambiental, fiscalização mais firme e com a presença da Marina”, diz.
Cardoso comenta que o setor é arcaico e não percebe oportunidades de negócios com a questão das mudanças climáticas. “Eles não conseguem inovar e a única coisa que conhecem bem é viver de apoio do governo”, ressalta.
O agronegócio tradicional atrapalha muito o desenvolvimento do setor no Brasil, na avaliação de Cardoso. “Eles trabalham com políticos buscando somente obter subsídios do governo, sem se preocupar com a opinião pública”, afirma. Já a chamada vertente ‘moderna’ do agronegócio é diferente, segundo ele, pois se preocupa com o mercado internacional, utiliza tecnologia e enxerga longe, combinando negócios de hoje com o futuro.
Divergências
A gestão de Marina Silva no Ministério de Meio Ambiente foi marcada por embates principalmente com Dilma Russef, da Casa Civil, que é conhecida como a ministra forte do presidente Lula. Marina, que chegou a ser a apelidada de “Ministra dos Bagres” por causa das dificuldades do governo para aprovar a construção da Hidrelétrica do Rio Madeira, lutou para mostrar que o planejamento econômico tem que incluir o social e o ambiental e conquistou o respeito internacional pela defesa da Amazônia.
Mas sozinha, ela não conseguiu vencer os altos índices de desmatamento, que no governo Lula somaram mais de 118 mil km2, sem considerar os números de 2008, segundo dados do INPE (período de agosto de 2001 a agosto de 2007). Este total corresponde a mais de cinco vezes a área total do estado do Sergipe.
Para Paulo Adario, a ex-ministra leva junto com sua saída a credibilidade que tinha transferido para o governo Lula nos últimos cinco anos."Ela vai embora e leva junto essa roupa de credibilidade ambiental, deixando o rei Lula completamente nu", critica Adario.
Cadeira vaga
O primeiro nome indicado pelo presidente Lula para assumir o ministério havia sido o atual secretário do meio ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc (PT-RJ), mas que em entrevista de Paris para a Rede Globo disse ter “jurado de pé junto” ao governador Sérgio Cabral que não iria para Brasília. Na avaliação do comentarista da mesma emissora, Alexandre Garcia, a sugestão foi dada pelo presidente quando ainda estava de ‘cabeça quente’. Depois de ‘esfriar a cabeça’, segundo Garcia, o presidente havia lembrado de Jorge Viana e, por isso, viria esta explicação de Ming hoje pela manhã.
Desde a saída de Jorge Viana do governo do Acre, onde cumpriu dois mandatos pelo PT, o presidente já vinha dizendo que queria trazê-lo para o governo. Agora parece ter chego o momento certo. Lula se reúne hoje com Viana e, segundo alguns interlocutores, pode definir ainda hoje o nome que substituirá Marina Silva no ministério.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, um grupo de petistas aponta como fundamental a escolha de Jorge Viana, por ser integrante de um Estado que compõe a região denominada Amazônia Legal (que reúne nove Estados).
Cardoso da Silva comenta que Viana não tem o mesmo nível da Marina. “Eles possuem diferenças gritantes. Parece-me que ele fez um bom governo no Acre, mas a análise ambiental aponta várias críticas”, avalia.
Algumas diferenças entre os dois, apontadas por ele, são a forma de conduzir os processos e a capacidade técnica para o cargo. Cardoso da Silva diz que Marina tem uma base social e um método de trabalho onde ouve todo mundo e depois toma as decisões perante seus princípios.
“Acho que a Marina foi muito leal ao presidente, mesmo sofrendo bastante pressão em confrontos com outros ministérios. O governo sempre tentou buscar uma agenda econômica sem puxar o lado do desenvolvimento sustentável e acho que ela chegou no limite”, analisa Cardoso.