Os novos recursos modelados pela Inteligência Artificial (IA) e pela automação - base da indústria 4.0 - estão entre os avanços tecnológicos que mais devem impactar o mercado de trabalho global até 2030.
As tendências indicam grande vantagem para perfis profissionais especializados, sobretudo com foco em IA, Big Data e aprendizado de máquina, enquanto funções administrativas e operacionais encaminham-se para uma substituição gradual pelas tecnologias digitais. É esperado que a chegada das novas tecnologias no mercado de trabalho tornem obsoletas até 2030 cerca de 39% das habilidades hoje existentes.
A conclusão é do estudo “Futuro do Trabalho”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), em parceria com o Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC). A pesquisa ouviu mais de 1 mil empregadores globais entre maio e setembro de 2024 e reuniu perspectivas para o período de 2025 a 2030.
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Dos que responderam à pesquisa, 60% apostaram na ampliação ao acesso digital como a transformação de maior impacto no mercado de trabalho dos próximos anos. Dentro deste recorte, IA e processamento de informações são os exemplos mais citados (86%), seguidos de robótica e automação (58%) e geração, armazenamento e distribuição de energia (41%). O levantamento destaca o rápido crescimento da IA Generativa, tanto pelo aumento dos investimentos quanto pela adoção cada vez mais comum da ferramenta em setores de serviço financeiro, educacional e de consultoria.
O cenário de incerteza econômica também deve impulsionar mudanças no mercado de trabalho. 50% dos entrevistados acreditam que pressões como inflação e volatilidade política podem influenciar no cenário futuro. Outros 42% citam o crescimento econômico em ritmo lento, enquanto 34% também consideram a tensão e fragmentação geoeconômicas como motores de risco para o comércio e cadeias de suprimento global, e, portanto, elementos que devem ser considerados ao se analisar a tendência da conjuntura laboral até 2030.
Fatores vinculados à sustentabilidade não foram deixados de fora. 47% dos entrevistados preveem aumento dos esforços e investimentos das empresas em práticas de transição verde, e 41% em aceleração na adoção de medidas para adaptação às mudanças climáticas - ambas impulsionando uma demanda crescente pelos “empregos verdes”.
Empregos em alta
De acordo com o estudo, é esperado que as novas tendências criem e também eliminem vagas de empregos. A análise prevê 170 milhões de novos postos de trabalho - cerca de 14% dos empregos atuais - e a substituição de outras 92 milhões de vagas, resultando na criação efetiva de 78 milhões de postos até 2030.
O desempenho fundamental das atividades baseadas em Inteligência Artificial está no cerne das novas vagas. Os empregos tecnológicos, afinal, estão em crescimento acelerado. Terão papel de destaque as seguintes funções:
- Especialistas em Big Data
- Engenheiros de Fintech
- Especialistas em IA e Machine Learning
- Desenvolvedores de Software e Aplicações
- Especialistas em Gestão de Segurança
- Especialistas em Armazenamento de Dados
- Especialistas em Veículos Elétricos e Autônomos
- Designers de Interface e Experiência do Usuário (UI e UX)
- Especialistas em Internet das Coisas (IoT)
- Motoristas de Serviços de Entrega
- Analistas e cientistas de Dados
- Engenheiros Ambientais
- Analistas de Segurança da Informação
- Engenheiro de DevOps
- Engenheiros de Energia Renovável
Empregos em baixa
Por outro lado, quanto menos vinculados às tendências transformadoras, mais chances de substituição terão postos que hoje empregam parcela significativa da população. As funções em declínio são as que têm alto risco de substituição pela Inteligência Artificial e suas atividades derivadas. Entre elas, estão:
- Funcionários de Serviços Postais
- Caixas bancários e cargos relacionados
- Operadores de entrada de dados
- Caixas e atendentes
- Assistentes administrativos e secretárias executivas
- Trabalhadores de impressão e cargos relacionados.
- Contadores, auxiliares de contabilidade e de folha de pagamento
- Atendentes e condutores de transporte
- Assistentes de registro de materiais e controle de estoque
- Vendedores porta a porta, vendedores de jornal, ambulantes e cargos relacionados. Designers gráficos
- Peritos de seguros, examinadores e investigadores
- Oficiais jurídicos
- Secretárias jurídicas
- Operadores de Telemarketing
Novas habilidades
A ascensão das novas tecnologias no mercado de trabalho tende a tornar obsoletas até 2030 cerca de 39% das habilidades existentes. Portanto, “o treinamento, requalificação e aprimoramento de habilidades estão no centro das estratégias das empresas para lidar com essas mudanças, com 85% dos empregadores planejando priorizar o upskilling de sua força de trabalho”, diz o estudo.
“Nesse sentido, as habilidades mais demandadas incluem pensamento analítico, resiliência, flexibilidade, agilidade, liderança e influência social. Habilidades como pensamento analítico são essenciais para resolver problemas complexos, especialmente em setores como tecnologia da informação e serviços financeiros, onde a análise de grandes volumes de dados é fundamental. Resiliência e flexibilidade são cruciais em setores afetados por mudanças rápidas, como o varejo e a manufatura, permitindo que os trabalhadores se adaptem rapidamente a novas condições de mercado”. Dentre as principais habilidades exigidas estão:
- Pensamento analítico (69%)
- Resiliência, flexibilidade e agilidade (67%).
- Liderança e influência social (61%).
- Pensamento criativo (57%).
- Motivação e autoconhecimento (52%).
- Alfabetização tecnológica (51%).
- Empatia e escuta ativa (50%). ]
- Curiosidade e aprendizado contínuo (50%).
- Gestão de talentos (47%).
- Orientação para o serviço e atendimento ao cliente (47%).
- IA e Big Data (45%).
- Pensamento sistêmico (42%).
- Gestão de recursos e operações (41%).
- Confiabilidade e atenção aos detalhes (37%).
- Controle de qualidade (35%)
No Brasil, 53% dos empregadores indicam que estas serão áreas prioritárias de requalificação nos próximos cinco anos - o que não será tão simples. Conforme a pesquisa, a lacuna de habilidades segue como a principal barreira para a transformação dos negócios. Cerca de 9 em cada 10 empresas no país planejam, assim, aprimorar as habilidades da sua força de trabalho nos próximos cinco anos, com foco em IA, Big Data, pensamento crítico, alfabetização tecnológica e lógica geral.
A conclusão é que estarão mais aptos a enfrentar os novos desafios e a aproveitar melhor as novas tendências países que investirem em infraestrutura digital, promoverem a inclusão e acessibilidade à tecnologia, e apoiarem programas de requalificação e aprendizado contínuo. Mas o estudo faz um alerta e considera como essencial que "o avanço da IA seja acompanhado de estratégias adequadas, incluindo regulamentações e incentivos econômicos, para que ela contribua para a melhoria das capacidades humanas e não para a substituição de empregos, evitando, assim, um aumento do desemprego e das desigualdades sociais".
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*Imagem de capa: Depositphotos.com