Ricardo Cappelli toma posse na ABDI e pede por mais investimentos na indústria

Ricardo Cappelli tomou posse como novo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

Ricardo Cappelli tomou posse como novo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) para um mandato de quatro anos.

A cerimônia contou com a presença de várias autoridades e teve fortes discursos em defesa da indústria nacional. Cappelli, por meio de recortes históricos, listou movimentos de oposição à industrialização e ao desenvolvimento nacional que marcaram as eras Vargas e JK e se estenderam aos últimos anos. “Essa não é uma batalha fácil na história do Brasil. Ela mostra como o debate sobre o desenvolvimento do país está presente em toda a nossa história”, destacou.

“As críticas de então”, prosseguiu o presidente da ABDI, “são exatamente iguais às apresentadas hoje à Nova Indústria Brasil (NIB)”, afirmou, referindo-se à política industrial lançada em janeiro deste ano pelo governo federal com aportes de R$ 300 milhões para retomar, modernizar e alavancar o setor industrial brasileiro por meio, entre outras medidas, da transformação digital e do incentivo à inovação. “Precisamos que o setor público perca o medo de investir em inovação”.      

“A nova indústria, ela é inovadora. A nova indústria é sustentável. A nova indústria é digital”, destacou Cappelli.

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Políticas industriais

O presidente da ABDI sustentou a necessidade de uma política industrial nacional com dados de um relatório mundial do Fundo Monetário Internacional emitido em janeiro deste ano que apontam a criação, em 2023, de 2,5 mil novas políticas industriais. “Isso é velho?”, perguntou. “Os que criticam e chamam de velho querem colocar uma bola de ferro no pé do Brasil na corrida em curso, no mundo, pela neoindustrialização”.


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A utilização de compras públicas com conteúdo nacional como instrumento de política industrial, igualmente criticada por opositores, embora largamente executada na América do Norte, também foi defendida por Cappelli. “Qual é a velha política? A que em 1973 criou a Embrapa, que fez da agricultura brasileira, hoje, potência mundial? É a política que, em 1969, criou a Embraer e, junto com o ITA e com o CTA fez dela, hoje, a terceira maior empresa do setor no mundo?”, questionou, antes de assegurar o auxílio da ABDI no monitoramento e elaboração de metas e resultados da NIB.  “Agora à frente da ABDI, vamos realinhar a Agência à Nova Indústria Brasil, lançada pelo presidente Lula e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, com algumas missões e desafios bem definidos”.

“A primeira questão central é auxiliar no estabelecimento de metas de monitoramento e de indicadores que possam aferir a qualidade dos investimentos públicos. A segunda é estimular o investimento público na inovação e as encomendas tecnológicas. Por último, vamos atuar para tornar a estrutura regulatória do país mais eficiente”, explicou.

“Não tem nada mais importante neste momento do que fazer o país voltar a se desenvolver, gerar emprego de qualidade, porque é isso que vai fazer as pessoas acreditarem que a democracia melhora a vida delas. Quando a democracia se mostra incapaz de melhorar, as pessoas deixam de acreditar. E é isso que a gente tem que entregar neste país”, completou Cappelli. 

Oportunidades e desafios

As autoridades que integraram a mesa da cerimônia representaram diferentes frentes de atuação para o desenvolvimento nacional. O presidente da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Jamal Jorge Bittar, celebrou a retomada do setor com a expectativa de um cenário crescentemente favorável que forneça condições para que a indústria nacional se desenvolva e gere empregos. “É impossível trabalhar com taxas de juros que ainda são escorchantes”, alertou. “O brasileiro não quer viver de bolsa-família, ele quer viver de trabalho, com boa renda, que são coisas que a indústria promete”.

O papel do Estado no fomento à industrialização com olhos para a integração sul-americana, por sua vez, foi lembrado pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento,  Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, como elemento essencial ao desenvolvimento nacional. Mercadante destacou, também, a necessidade de atenção às micro e pequenas empresas e do cooperativismo para a economia nacional, setores integrados, segundo ele, por 15 milhões de trabalhadores no MEI, 7,5 milhões de empresas no Simples e 20,5 milhões de trabalhadores organizados em cooperativas no país.

As parcerias público-privadas em favor da indústria foram lembradas por Simone Tebet, ministra do Planejamento, como importantes alternativas para setor. “Só investimento privado não faz o Brasil crescer, gerar emprego e se desenvolver, mas só investimento público, também não”, afirmou. “Na parte de investimento privado, é preciso olhar para o interior do interior do Brasil. É preciso que as indústrias cheguem nas fronteiras do país”, disse, ressaltando a importância da integração sul-americana exemplificada pelo mercado argentino, terceiro maior parceiro comercial do Brasil. “Mais de 40% dos produtos semielaborados de tecnologia no Brasil nós não exportamos para a Europa, nós exportamos para a América do Sul e para a América Latina”, revelou. “Sem crescimento nós não temos desenvolvimento. Com desenvolvimento, nós temos tudo”.

Ao término da cerimônia, o vice-presidente Geraldo Alckmin reafirmou a importância da indústria exportadora e do comércio exterior na América do Sul. Ao ressaltar a importância de uma indústria exportadora, apontou incentivos à inovação presentes na NIB e o aumento de 130% de recursos destinados a ela pelo BNDES, no ano passado. Destacou, por fim, a importância da energia limpa e o caráter sustentável do programa. “O Brasil é campeão da energia limpa, renovável, nós podemos fazer hidrogênio verde, de baixo carbono, com energia hidráulica, eólica, solar e biocombustíveis”.