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Com sede em Jundiaí, no interior de São Paulo, a Yvy Química Natural fabrica produtos de limpeza por meio de insumos naturais. A mais de mil quilômetros de distância, em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, a Green Next desenvolveu um sistema de acionamento remoto para bombas de irrigação. Ambas as empresas nasceram tendo a sustentabilidade como foco e a inovação como premissa para o desenvolvimento de seus produtos e serviços.
“A Yvy já nasceu com uma causa: transformar o setor de limpeza no Brasil. Desde 2018, ela traz ao mercado uma linha de produtos de origem natural, que realizam, de modo eficaz, toda a limpeza da casa. A marca não usa petroquímicos em sua formulação e suas matérias-primas são de fontes naturais e renováveis”, afirma Marcelo Erbert Ribeiro, cofundador da empresa. Segundo ele, o mercado consumidor está cada vez mais engajado nas causas ambientais e cobra da indústria soluções nessa direção.
“Trabalhamos com química verde, utilizando, portanto, apenas ingredientes naturais desde 2017. Iniciamos essa trajetória porque já acreditávamos, há mais de 15 anos, que a natureza era uma fonte gigantesca de inspiração para o desenvolvimento de produtos e negócios de menor impacto, fugindo da velha economia linear”, conta Ribeiro.
De acordo com o executivo, inicialmente foram desenvolvidos produtos baseados em ingredientes naturais para limpeza profissional, desengraxe e tratamento do ar. Depois que as formulações naturais já haviam sido testadas em hospitais, shoppings, escolas e edifícios comerciais, comenta, a transição para a limpeza da casa foi mais tranquila.
“Faltava endereçar a questão do plástico das embalagens, e fizemos isso por meio das cápsulas hiperconcentradas (tipo refil) e de borrifadores de uso permanente. Com as embalagens, reduzimos em seis vezes a quantidade de plástico doméstico no consumo de produtos de limpeza", detalha ele. Já o Hydra Active, tecnologia desenvolvida pela Green Next, permite reduzir o uso de água e tornar mais eficiente o consumo de energia elétrica no acionamento de bombas para irrigação.
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“O sistema coleta informações 24 horas por dia dos pontos de medição do nível de água, identificando padrões e indicando os melhores horários para ligar as bombas”, explica Lucas Cardoso, diretor-executivo da startup.
Com isso, diz ele, o produtor sabe quanto tempo deve manter as bombas ligadas para otimizar o uso. “Esse sistema permitiu ao produtor ter informações mais precisas sobre a quantidade de água e de energia usada e sobre como ele pode economizar com esses dois custos”, diz. Classificada como uma solução industrial para agricultura e silvicultura, o projeto da Green Next Automação consiste, basicamente, num sistema de monitoramento e acionamento inteligente de bombas para irrigação, com base em inteligência artificial e automação.
“Queremos, agora, incorporar ao sistema informações das estações meteorológicas”, afirma Cardoso. A bioeconomia e o uso de biomateriais, assim como o desenvolvimento de soluções industriais para a agricultura e a silvicultura, estão entre as áreas da indústria brasileira com mais oportunidades para a inovação, especificamente para a ecoinovação, conforme estudo realizado pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Também há oportunidades nas áreas de economia circular e gestão de resíduos sólidos, energias renováveis e conservação energética, mobilidade e logística de baixo carbono, e transformação digital e sustentabilidade. “A inovação é fundamental e é a base para o desenvolvimento sustentável da indústria e da economia brasileira”, diz Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI.
Ela lembra que está em curso no mundo uma corrida verde tecnológica, da qual o Brasil pode ser um dos protagonistas. “Temos capacidade instalada, fontes de energia renovável e uma grande biodiversidade, mas é preciso uma estratégia nacional clara, com uma política integrada de pesquisa de inovação”, defende.
Segundo ela, é preciso avançar mais e mais rapidamente, porque é necessário desenvolver novas tecnologias para reduzir a emissão de carbono, o que também trará ganhos de produtividade. Conforme o estudo da Cepal, a agenda de sustentabilidade está cada vez mais integrada ao ambiente corporativo industrial no Brasil e no exterior.
No Canadá, por exemplo, o financiamento emergencial a grandes empresas é condicionado ao aumento da transparência de seus compromissos climáticos. Os Estados Unidos, por sua vez, aprovaram o Inflation Reduction Act, com US$ 369 bilhões, e o Infrastructure Investiment and Jobs Act, com US$ 1,2 trilhão, para ações em praticamente todos os setores ambientalmente relevantes. Medidas similares foram adotadas na Europa e na China.
Nesse contexto, de acordo com o estudo Tendências, Desafios e Oportunidades da Ecoinovação para a Indústria no Brasil, de 2023, cresce a importância estratégica das inovações que reduzem o impacto ambiental, as chamadas ecoinovações.
Há um número crescente de empresas que fazem das ecoinovações parte integral de sua própria estratégia de negócio. Isso ocorre porque as ecoinovações têm se revelado uma estratégia competitiva cada vez mais sólida, que reduz custos e melhora a qualidade dos produtos.
Para Adriana Machado, fundadora do Instituto Briyah, o mundo passa por um momento crucial. “Temos uma confluência de desafios que demandam um olhar mais amplo e, ao mesmo tempo, integrado, realmente sistêmico. Não podemos mais tratar os problemas de forma isolada, fragmentada, sem considerar o todo, sem levar em conta as interdependências”, afirma ela, confirmada como uma das palestrantes do painel “Bioeconomia e ativos do Brasil para promover a ecoinovação”, no 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria.
“Quando tratamos os problemas de forma isolada, geramos efeitos colaterais adversos que podem levar a consequências ainda mais severas e desafiadoras, como a pobreza e a desigualdade social extremas, além da poluição e da degradação dos solos, dos rios, dos oceanos, do planeta. A ecoinovação nos oferece mais possibilidades de sucesso”, afirma Adriana. “É a inovação que resulta em menor impacto ambiental, podendo ser tecnológica, como a geração de novos produtos e processos, e não tecnológica, ao gerar inovações institucionais ou organizacionais”, explica.
Para ela, esses novos parâmetros, que surgem a partir da incorporação de aspectos ambientais nas métricas e nos processos de tomada de decisão, “nos permitem avançar de forma mais sustentável como indivíduos, empresas, governos e humanidade”. “Não buscamos apenas utilizar recursos naturais ou renováveis, ou incluir a circularidade nos processos de produção, mas passamos a valorizar coprodutos, subprodutos e resíduos.
Usamos tecnologia para aprimorar técnicas existentes e para criar o novo a partir de uma visão de mundo igualmente renovada e ampliada”, detalha ela. Ganhos de produtividade, explica Adriana, costumam advir da adoção e da disseminação de novas técnicas e tecnologias. “A colaboração intencional e estruturada entre academia, empresas, governos e ONGs, em torno da ecoinovação, pode acelerar o processo de adoção e disseminação de técnicas e tecnologias mais sustentáveis e regenerativas, o que fortalece o ecossistema de inovação do Brasil como um todo e amplia as possibilidades de geração de valor e prosperidade das empresas e da economia”, argumenta.
Horácio Piva, membro do Conselho de Administração da Kablin e integrante da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), ressalta que os reais valores da ecoinovação virão com o tempo, com a análise do histórico de sua implementação. “O tema está presente, numa ação transversal que perpassa ESG (sigla em inglês que designa práticas ambientais, sociais e de governança), inovação, produtividade e inserção global. É impossível que uma empresa que tenha ambições não incorpore a ecoinovação, até porque o tema já saiu dos seus muros internos para a sociedade. Vai trazer muitos resultados, em especial se soubermos ter o sentido de urgência correto”, afirma. Segundo ele, o Brasil está numa posição privilegiada no processo de transformação da indústria verde.
“O país tem a produção de energia mais competitiva e renovável, além de uma mão de obra criativa, e sabe mais de economia verde e descarbonização do que a maioria dos seus pares”, complementa. Entre 2015 e 2018, conforme o estudo da Cepal, a maior parte dos pedidos de patente verde depositados no Brasil esteve ligada à produção de energia alternativa (31%), especialmente biocombustíveis (1.756 pedidos de patentes), aproveitamento de energia por meio da geração de resíduos (806), energia solar (467), energia eólica (412), hidroenergia (241) e células combustível (198).
Outro exemplo de pesquisa bem-sucedida vem da Energy, empresa brasileira que é a primeira e única no mundo a fazer reúso, reciclagem e reparo de baterias de lítio em um só lugar. “Tudo começou com o reúso. A ideia era produzir uma bateria de lítio de baixo custo para um mercado emergente como o nosso, que não tinha acesso a uma bateria de primeira vida e que possui até hoje um alto custo para aquisição”, explica David Noronha, cofundador da Energy e CEO da empresa.
“O caminho que nós encontramos foi utilizar células de lítio descartadas em baterias que tiveram seu primeiro ciclo de vida em patinetes, bicicletas elétricas e veículos leves da mobilidade elétrica. Transformamos essas baterias para serem usadas em outros mercados, como os de energia solar, backup de energia e telecomunicações”, detalha Noronha. “Todas as nossas tecnologias foram desenvolvidas com base em três pilares: impacto ambiental positivo, escalabilidade e viabilidade econômica”, complementa.
“O uso das inovações ambientais tem enorme importância na disseminação de uma indústria verde no Brasil. É ela que cria um novo paradigma de produção, argumenta Débora Carrer, mestranda da Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde pesquisa ecoinovações. Ela explica que a introdução de tecnologias ambientais aumenta a taxa de exportação empresarial.
“A maior dificuldade continua sendo o custo elevado. Uma das formas de suavizar esse custo é o apoio do governo às empresas, por meio de políticas públicas e ações como a Lei de Inovação ou Lei do Bem, que incentivam os investimentos em inovação”, avalia Débora.
*Imagem de capa: Depositphotos
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