“Há espaço para avançar na agenda climática”, diz presidente da Tetra Pak Brasil

Tetra Pak Brasil aposta fortemente no uso de recursos renováveis, na reciclagem, na redução das emissões de gases do efeito estufa.

O compromisso com a sustentabilidade e a adoção de medidas efetivas para reduzir o impacto ambiental já estão internalizados na estratégia de negócios de muitas empresas. Conceitos como neutralidade climática, economia de baixo carbono e economia circular se traduzem, na prática, no uso de energias renováveis na produção dos produtos, em processos de fabricação mais eficientes, capazes de reduzir o uso dos recursos naturais e evitar desperdícios, e em inovações logísticas que diminuem o uso de combustíveis fósseis.

Além de ser uma medida necessária para o planeta, essa estratégia impulsiona a competitividade das empresas, atraindo consumidores que valorizam a preocupação com a sustentabilidade e abrindo portas nos mercados interno e externo.

É o que tem sido feito na Tetra Pak, multinacional que é referência global na fabricação de embalagens. Segundo o presidente da empresa no Brasil, Marco Dorna, o tema tem avançado rapidamente no ambiente corporativo diante dos efeitos cada vez mais evidentes das mudanças climáticas, e ações para mitigar essas transformações têm se tornado mais urgentes. Ele destaca que mesmo antes dessa discussão ganhar a relevância que tem atualmente, a empresa adota a sustentabilidade em todas as frentes de atuação. Mas pontua que o Brasil ainda pode avançar nessa agenda, aproveitando seu potencial de liderar a caminhada rumo a uma economia de baixo carbono.

O executivo participou de painel que discutiu estratégias de neutralidade climáticas desenvolvidas por empresas no encontro Estratégia da Indústria para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na entrevista a seguir, Marco fala do comprometimento da Tetra Pak com a abordagem sustentável do negócio e detalha as iniciativas que a empresa vem implementando nesse sentido.


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Agência de Notícias da Indústria - Como as mudanças climáticas impactam nos negócios da Tetra Pak? 

Marco Dorna - O debate em torno da proteção e preservação ambiental passou por uma profunda transformação nos últimos anos, à medida que as mudanças climáticas foram surtindo efeitos cada vez mais perceptíveis na vida de milhões de pessoas ao redor do globo. No âmbito do consumo, um número cada vez maior de consumidores tem optado por comprar produtos de empresas alinhadas a práticas sustentáveis e que demonstram esforços consistentes no sentido de reduzir seu impacto ambiental. 

Neste contexto, a Tetra Pak assumiu o compromisso de desenvolver a embalagem de alimentos mais sustentável do mundo, que deve ser feita de materiais renováveis e/ou reciclados e de origem responsável, totalmente recicláveis e neutros em carbono, uso de polímeros reciclados e com tampas não removíveis (que reduzem a pegada de carbono das embalagens e favorecem a reciclagem, já que permanecem fixas a elas). Globalmente, investimos 100 milhões de euros por ano com foco no desenvolvimento de soluções sustentáveis para o nosso portfólio de embalagens, e temos diversos outros investimentos nas nossas linhas de processamento de alimentos e serviços para a indústria, sempre visando uma atuação sustentável.

Apesar dos avanços recentes na discussão ambiental, é importante salientar que a Tetra Pak é uma empresa que, há décadas - e mesmo antes dessa discussão tomar corpo – adota a sustentabilidade como um motor para todas as suas frentes de atuação. Temos o objetivo de tornar o ciclo de produção e consumo de alimentos mais sustentável, apostando fortemente no uso de recursos renováveis, na reciclagem, na redução das emissões de gases do efeito estufa e na liderança empresarial ambientalmente responsável. Tratamos o tema da sustentabilidade de forma ampla, englobando, além da produção de embalagens recicláveis e uso de recursos renováveis, a busca por modelos de produção mais eficientes, que reduzam impactos no processo produtivo, tendo em vista um crescimento sustentável e a manutenção de um ciclo positivo para empresas, sociedade e para o meio ambiente.

No que diz respeito à prestação de contas sobre nossa atuação em sustentabilidade, comunicamos a parceiros, entidades ambientais e sociedade todos os dados de gestão de recursos e destinação de resíduos, bem como de reciclagem das embalagens que colocamos no mercado e iniciativas de sustentabilidade desenvolvidas, publicando nossos dados ambientais desde 1999 e sobre questões de sustentabilidade mais amplas desde 2005. Somos signatários do Pacto Global da ONU, exigimos dos nossos fornecedores que endossem o Código do Fornecedor da Tetra Pak e verifiquem periodicamente a adequação do seu desempenho a esse conteúdo, por meio de avaliações documentais ou auditorias in loco, com o objetivo de garantir a conformidade e impulsionar uma melhoria contínua em toda a nossa cadeia de valor, usando uma abordagem colaborativa com os fornecedores.

Agência de Notícias da Indústria - De que maneira sua empresa vem se preparando para uma economia de baixo carbono?

Marco Dorna - A Tetra Pak está absolutamente comprometida com uma economia circular de baixo carbono tanto nas nossas operações quanto em toda a cadeia de valor, adotando o uso de energias renováveis, processos de fabricação eficientes e inovações logísticas que reduzam o uso de combustíveis fósseis. Temos algumas frentes de atuação neste sentido:

Renovabilidade: O tema está no cerne de uma economia circular de baixa emissão de carbono, visando reduzir o desperdício e manter os materiais em uso por mais tempo. A maioria dos materiais que compõem as nossas caixinhas são de origem renovável (porcentagem que pode chegar a até 88% a depender do modelo de embalagem), com papel certificado e plástico produzido a partir da cana-de-açúcar.

O papel-cartão, utilizado nas embalagens longa vida no Brasil, é fabricado por fornecedores como a Klabin e é 100% proveniente de florestas que possuem o certificado do Forest Stewardship Council (FSC), garantindo o manejo florestal responsável para clientes e consumidores. Em 2019, nos tornamos a primeira empresa do setor de alimentos e bebidas a obter a certificação Bonsucro de Cadeia de Custódia para o fornecimento de polímeros fabricados a partir de cana-de-açúcar para as embalagens, garantindo rastreabilidade em toda cadeia de fornecimento e a qualidade em todo o processo.

Por fim, ainda dentro de nossas embalagens cartonadas assépticas, uma camada de alumínio oito vezes mais fina que um cabelo humano fornece proteção vital contra o oxigênio e a luz, permitindo manter alimentos perecíveis sem refrigeração e conservados por meses, o que representa uma significativa economia de energia e emissões de gases do efeito estufa no armazenamento e distribuição dos produtos alimentícios. Estamos pesquisando barreiras alternativas ao alumínio, como as à base de fibras, para cumprirem esse papel de forma ainda mais sustentável. 

Temos tido resultados importantes dessa atuação ampla rumo a uma economia de baixo carbono. Em 2001, a Tetra Pak anunciou meta climática para, até 2020, limitar seu impacto em toda a cadeia de valor aos níveis de 2010. Esse objetivo não só foi atingido, como superado, reduzindo em 70% as emissões de gases de efeito estufa em nossas operações e em 19% se considerada toda a cadeira de valor, o que contribuiu para uma redução de 17 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa.

Operações de baixa emissão de carbono: Nos comprometemos com a RE100 para utilizar 100% de energia renovável em nossas operações até 2030 e zerar as emissões operacionais de gases do efeito estufa em nossas operações próprias no mesmo período. Até 2050, o compromisso se estenderá a toda a nossa cadeia de valor. Em 2021, reduzimos em 27% nossas emissões combinadas de GEE (escopos 1 e 2), impulsionadas pelo trabalho realizado para aumentar o uso de energia renovável em nossas instalações globalmente.

Nossa pegada operacional (escopos 1, 2 e viagens de negócios) foi reduzida em 36% em comparação com 2019. Na região Américas, a Tetra Pak trabalha com a meta de até 2030 reduzir em 50% o nível de emissões diretas dentro das suas operações (emissões escopo 1), tendo como base o ano de 2019.

No Brasil, utilizamos apenas energia elétrica 100% renovável desde 2012. Globalmente, nos últimos sete anos, nosso uso de energia elétrica renovável aumentou em mais 60%, chegando a 83% em 2020. Estabelecemos metas rígidas de emissões de dióxido de carbono também para nossos fornecedores de folhas de alumínio e estamos continuamente inovando para reduzir o quanto usamos, ao mesmo tempo em que pesquisamos materiais de barreira alternativos.

Como reduzir o desperdício de alimentos: A Tetra Pak foi fundada nos pilares de segurança, proteção e disponibilidade dos alimentos em todos os lugares. Além disso, nossos sistemas de processamento e envase foram projetados para maximizar a produção de alimentos e bebidas e reduzir desperdícios. Todo novo equipamento que colocamos no mercado precisa ser mais eficiente em termos de consumo de água, energia e insumos em comparação à sua versão anterior.

Reciclagem: Há mais de 25 anos fomentamos o desenvolvimento da cadeia de reciclagem no Brasil, desenvolvendo tecnologias para a reciclagem das caixinhas e conectando os diferentes atores desta cadeia para que a caixinha pós-consumo sirva de matéria-prima para a confecção de novos produtos. Hoje, mais de 30 recicladoras utilizam as embalagens da Tetra Pak pós-consumo em seu processo de produção. Em 2021, cerca de 100 toneladas de embalagens longa vida foram recicladas no Brasil.

No mais, a área de Sustentabilidade da Tetra Pak atua ativamente em toda esta cadeia e desenvolve projetos a fim de educar e conscientizar diferentes comunidades sobre reciclagem. O trabalho envolve diferentes públicos – estudantes, professores, cooperativas de materiais recicláveis, empresas recicladoras –, pois acreditamos que o desenvolvimento da cadeia de reciclagem no Brasil depende do fortalecimento de cada um desses elos.

Importante dizer que a Tetra Pak foi a primeira da indústria de processamento e embalagens de alimentos no mundo a receber a aprovação da Science Based Targets Initiative (STBi) em relação a metas científicas para reduzir o impacto climático. Em 2020, a empresa estabeleceu objetivos de redução de emissões alinhados com o STBi, que identifica e promove abordagens inovadoras para a fixação de metas ambiciosas e significativas de redução de emissões de gases e efeito estufa (GEE) industrial. Trata-se de um pioneirismo relevante, visto que nossas metas são claras e transparentes e demonstram nossa contribuição para uma economia de baixo carbono.

Agência de Notícias da Indústria - Como sua empresa avalia a condução desse tema pelo Brasil e pela comunidade internacional?

Marco Dorna - A Tetra Pak avalia com bons olhos a disseminação das discussões sobre mudanças climáticas e sustentabilidade de forma ampla em todos os âmbitos da sociedade no Brasil e no mundo. No ambiente corporativo, o tema tem avançado rapidamente à medida que as transformações decorrentes das mudanças climáticas ficam mais evidentes e ações para mitigá-las ficam mais urgentes.

Há estudos que mostram, no entanto, que a América Latina e o Brasil aproveitam pouco do seu potencial de liderar a caminhada rumo a uma economia de baixo carbono, como um relatório publicado este ano pela consultoria Janus Henderson, que aponta que o tamanho do mercado de títulos de dívida ligados a metas climáticas chegou a 45 bilhões de dólares na América Latina, um valor importante, mas abaixo do que poderia ser, e que o Brasil, apesar de ser o maior mercado da região e segundo maior em emissões de dívidas verdes, atrás apenas do Chile, está muito aquém de seu potencial para crescer em energia renovável e do tamanho do mercado de títulos verdes e sustentáveis no mundo, que é de 1 trilhão de dólares.

Ou seja, há espaço para avançar na agenda climática e, junto a entidades governamentais, o setor empresarial tem enorme potencial de contribuição a questão.