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A FIESP conversou com a especialista em ESG, vice-presidente do Conselho Superior Feminino da Fiesp (Confem) e sócia da TPA Saúde, Grácia Fragalá, para conhecer os aspectos sociais do ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) que as indústrias de todos os portes podem desenvolver.
Para Grácia, as empresas já têm muitas práticas sociais, porém não são associadas ou reconhecidas como integrante da dimensão S. Confira a entrevista:
Fiesp: Por que os aspectos sociais do ESG são tão relevantes para a indústria?
Grácia Fragalá:Temos constatado que a pauta ESG ganha cada vez mais destaque entre empresas e investidores que buscam estabelecer boas práticas ambientais e sociais e que, das três dimensões consideradas, a Social é a que traz maior dificuldade de mensuração de resultados e interpretação. Os fatores que integram o “S” foram estabelecidos com base em instrumentos internacionais, como a Declaração dos Direitos Humanos e as Convenções da Organização Internacional do Trabalho – OIT e incorporam, portanto, questões de direitos humanos, trabalhistas, de segurança, impactos das cadeias produtivas, relacionamento com a comunidade, diversidade, equidade e inclusão, entre outros. Podemos, assim, afirmar que a dimensão social (o “S” do ESG) se constitui também numa oportunidade para as empresas inserirem o cuidado com as pessoas, em âmbito interno e externo, como elemento estratégico e, embora muitas empresas já reportem ações relacionadas a esses fatores nos seus relatórios de sustentabilidade e responsabilidade social, não havia grande visibilidade para o tema.
A pandemia de Covid-19 colocou o “S” no centro das discussões – tanto para empresas quanto para investidores, trazendo maiores exigências em relação às ações no campo social e à transparência na comunicação, tanto em relação à atenção com os colaboradores, quanto com a sociedade. Segundo a pesquisa ‘10 Principais Tendências Globais de Consumo 2021’, publicada pela Euromonitor International, no mundo “pós-pandemia”, o ativismo de marca ganhou um novo significado social, forçando empresas a priorizar ações sociais e auxiliando no desenvolvimento de produção e estilos de vida mais sustentáveis. O estudo mostrou que 69% dos profissionais esperam que consumidores se importem mais com a sustentabilidade do que antes da Covid-19; já 73% acreditam que iniciativas de sustentabilidade são essenciais para o sucesso das marcas. Outras pesquisas apontam na mesma direção demonstrado que o comportamento do consumidor passou por mudanças substanciais nos últimos anos.
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Mudou também o olhar do investidor. Para a indústria e para as empresas, de modo geral, a atenção com a dimensão social do ESG é fator de competitividade, produtividade e alinhamento com as melhores práticas. Investir nas pessoas que conduzem as empresas tem sido fator de sucesso para as organizações. As dificuldades impostas pela pandemia comprovaram que países e empresas que tinham ações estruturadas e governança bem definida enfrentaram melhor os desafios.
Fiesp: Quais são os aspectos sociais do ESG que as indústrias mais conhecem e quais ainda não são tão conhecidos?
Grácia Fragalá: Empresas e investidores têm buscado soluções para preencher as lacunas relacionadas à prática da dimensão social. Como já mencionei, embora os relatórios de sustentabilidade e responsabilidade social tragam dados relativos aos fatores que compõem a dimensão social, este ainda é um aspecto que requer melhorias. De toda forma, sabemos que as empresas, quando olham para a dimensão social, voltam-se para ações em favor da sociedade, valendo-se da filantropia e do investimento social privado o que, considerando-se as enormes carências de recursos no país, é sempre comemorado. Neste campo, temos muitos exemplos de empresas e fundações que investem em educação, saúde, redução das desigualdades, e outras áreas importantes. O que constamos é que, muitas vezes, falta dar visibilidade para as ações que já realizam – e as quais podem ser ainda potencializadas, para o público interno. Se na dimensão social estão os temas relacionados aos direitos humanos e trabalhistas, há uma enorme gama de boas práticas nas organizações que não são percebidas como relacionadas ao “S” do ESG e que podem ser destacadas.
É possível observar o crescimento das ações de inclusão dos grupos socialmente minorizados: mulheres, negros, público LGBTQIA+. As grandes companhias, sobretudo, definiram áreas e orçamentos específicos para a inclusão da diversidade e o tema, hoje, parece integrar a agenda da alta liderança. Também os investimentos em saúde do trabalhador são relevantes. Para algumas empresas, os valores destinados aos planos de saúde consomem em média 11% da folha de pagamento. Há que se destacar ainda as ações destinadas à segurança e saúde, com prevenção de acidentes e adoecimentos relacionados ao trabalho, ações de bem-estar, com ênfase mais recentemente para atenção à saúde mental, inclusive (tema antes de difícil abordagem em grande parte das empresas). As ações de Recursos Humanos, destinadas ao equilíbrio vida pessoal X profissional também se inserem no “S” do ESG: horário flexível, licença maternidade/ paternidade estendidas (pela adesão ao Programa Empresa Cidadã), as políticas de benefícios alimentação e refeição, educação e qualificação dos trabalhadores, e outras ações que muitas vezes não são associadas ou reconhecidas pela empresa como integrante desta dimensão.
Fiesp: Filantropia faz parte do ESG?
Grácia Fragalá: Constatamos um aumento das doações, principalmente durante a pandemia de Covid-19, como revela o Relatório BISC 2020 – Benchmarking do Investimento Social Corporativo, segundo o qual “as empresas investiram R$ 5 bilhões – um aumento maior que 95% em relação à 2019” (BISC, 2021). Entendo a relevância da filantropia, como já destaquei, principalmente se levamos em consideração o doador individual, pessoa física, que escolhe suas causas individualmente, conforme seus valores e crenças. Também como mencionei, diante das imensas necessidades, esses investimentos devem ser estimulados e serão sempre bem recebidos. No entanto, quando pensamos nas empresas e na estratégia ESG, pensamos sempre no investimento social corporativo alinhado à estratégia do negócio e, mais recentemente, ao investimento de impacto. No investimento social corporativo, a empresa irá alinhar seu investimento social à estratégia organizacional, definindo políticas claras, áreas e orçamentos específicos para garantir a sustentação da ação no tempo. No investimento social de impacto, se obtém retorno financeiro e ao mesmo tempo em que se apoia negócios sociais – que tem o impacto positivo como parte do seu modelo de negócios.
Fiesp: Quais os primeiros passos para a empresa que quer integrar o S do ESG, independente do porte?
Grácia Fragalá: A primeira etapa para construção de uma estratégia é realizar um diagnóstico para identificação dos desafios e oportunidades em relação aos aspectos sociais do ESG que sua organização pode enfrentar. Para ajudar na identificação, você poderá usar várias técnicas, entre elas o “brainstorming”. Após a sessão de brainstorming, vem a etapa de analisar e priorizar as ideias. Após a priorização, são estabelecidas as estratégias para o enfrentamento dos desafios e potencialização das oportunidades identificadas. Com a estratégia definida, é preciso encontrar maneiras de planejar como ela será implementada. Para isso, se estabelece o plano de ação, que mostrará o caminho para implementar o projeto desenvolvido. Além disso, com ele será possível monitorar o desenvolvimento de cada etapa e fazer possíveis ajustes.
O CIESP oferece para as empresas associadas a Jornada da Indústria pela Sustentabilidade, uma capacitação para as empresas que tenham interesse em incorporar os critérios ESG à estratégia, com ênfase para a dimensão social.
Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected].
Fiesp: Como medir o impacto das ações sociais do ESG?
Grácia Fragalá: Existe uma crescente preocupação pela definição de padrões e indicadores para avaliar os impactos da dimensão social. Os investidores se ressentem da falta de informações sobre os aspectos sociais. Análise realizada pela “Global Reporting Initiative (GRI) em parceria com o Deutsche Bank, mostra que apenas 14% das classificações “sociais” compiladas pela GRI são direcionadas a investidores. Em contraste, 97% das classificações ambientais e 80% das classificações de governança têm investidores como seu público principal. Em janeiro de 2020, o Conselho Internacional de Negócios do Fórum Econômico Mundial (WEF-IBC) propôs um conjunto de indicadores ESG universais que foram apresentados na reunião de inverno em Davos-Klosters, no relatório “Toward Common Metrics and Consistent Reporting of Sustainable Value Creation”.
O relatório propõe um conjunto básico comum com 21 métricas básicas e 34 métricas expandidas baseadas em quatro pilares: Princípios de Governança, Pessoas, Planeta e Prosperidade que os membros do IBC poderiam usar para alinhar seus relatórios principais e incentivar o progresso mais rápido em direção às soluções sistêmicas. Avaliar os resultados também é uma decisão estratégica e passa por responder a questões básicas: o que medir, por que medir e como medir. Indicadores se prestam a tomadas de decisão, desta forma, as metodologias, mais do que precisão na captura de dados, precisam deter-se sobre o desdobramento e impacto das ações. Avaliar apenas o que está aparente e ignorar as causas e fixar-se obsessivamente na solução de um problema sem considerar a complexidade na qual ele está inserido pode levar a decisões erradas.
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