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O Brasil iniciou o segundo semestre de 2021 com recordes de produção de energia de fontes renováveis. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgados pela Agência Brasil. De acordo com o ONS, a energia eólica hoje representa 10,9% da matriz elétrica brasileira e a expectativa é que chegue a 13,6% ao fim de 2025. Já a energia solar representa 2% da matriz, com projeção de atingir 2,9% até o fim deste ano. Diante do atual cenário de crise hídrica no Brasil, a energia gerada pelas tecnologias eólica e fotovoltaica é uma alternativa estratégica.
O setor de energia eólica comemorou no Dia Mundial do Vento, em 15 de junho, a marca de 19 GW de capacidade instalada, com 726 parques eólicos e mais de 8,5 mil aerogeradores. Essa infraestrutura gerou, no ano passado, 57 TWh de energia, o que, na média mensal, é suficiente para abastecer 28,8 milhões de residências por mês. Desde 2019, a energia eólica é a segunda fonte da matriz elétrica brasileira.
O Ministério de Minas e Energia planeja investir R$ 2,7 trilhões para garantir a expansão da produção de energia renovável pelos próximos 10 anos no país. Em termos de investimentos privados, o setor fotovoltaico já atraiu mais de R$ 26 bilhões em todo o Brasil desde 2012, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), que estima que a geração distribuída no país deve saltar de 4,4 para 8,3 gigawatts ainda este ano, com investimentos superiores a R$ 17 bilhões.
Já os investimentos na matriz eólica superaram R$ 187,1 bilhões na última década no Brasil, e a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEeólica) projeta que o valor chegue a R$ 72,3 bilhões até 2029. No ano passado, essa indústria investiu R$ 20,6 bilhões no Brasil, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance (BNEF).
Estes dados representam um impacto significativo também nos setores da indústria que atuam na produção de equipamentos para a área de energia limpa.
Um segmento de mercado que cresce no Brasil é a geração fotovoltaica, como os telhados solares, utilizados para geração da energia em residências e empresas. Segundo levantamento do Portal Solar, o interesse em projetos deste tipo em telhados e pequenos terrenos cresceu 117% de janeiro a maio deste ano. O custo do kit de painéis para geração de energia solar parte, em média, de R$ 15 mil.
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Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo mostra que as importações das células solares, que formam os painéis para geração de energia fotovoltaica, subiram 84,5% no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2020, e totalizaram R$ 5,35 bilhões, de acordo com o Ministério da Economia. Os equipamentos são trazidos, em maior parte, da China. No primeiro semestre de 2021, foram importadas 24,1 milhões de unidades de células solares, número que corresponde a 97,5% do que foi comprado do exterior em todo o ano passado.
E não são apenas os painéis que garantem a geração de energia solar: toda uma cadeia da indústria está envolvida no processo. A Nextracker, empresa especializada na produção de rastreadores solares, tem o trabalho focado na implementação destes equipamentos em usinas fotovoltaicas. Na cidade de Pirapora, em Minas Gerais, por exemplo, há uma das maiores plantas de energia solar em funcionamento no Brasil, com cinco quilômetros de extensão e 1,2 milhão de painéis solares. Essa planta, que foi construída em um ano e meio, pode funcionar durante 25 a 30 anos. As estruturas que formam os rastreadores são fabricadas no Brasil.
Nelson Falcão, diretor sênior de vendas da Nextracker, explica o funcionamento dos equipamentos: “Para instalar os painéis, eu preciso prender em uma estrutura. É aí que entra a Nextracker. O painel vai produzir mais energia se estiver voltado para o sol. O que o tracker faz: acompanha o movimento do sol, de maneira que esses painéis produzam mais energia do que se estivessem parados numa mesma posição”.
Na cadeia produtiva, 70% da estrutura é composta por aço. São materiais pré-galvanizados ou galvanizados a quente, que envolvem as usinas siderúrgicas, que fornecem a matéria-prima; as transformadoras, que fazem os cortes, por exemplo; e ainda as galvanizadoras. É nessa cadeia, também, que reside o maior desafio.
“Como a gente vai fazer para ter uma indústria que possa produzir aço em maior quantidade e com preço mais competitivo? A gente sempre esteve com o pé no acelerador, mas depende de as siderúrgicas produzirem e entregarem o aço”, explica Falcão. Ele aponta que, hoje, a capacidade fotovoltaica instalada no país contempla mais de 100 mil toneladas de aço, e a projeção é que o volume dobre nos próximos dois anos.
O que move esse setor são os empréstimos. O produto é financiável pelo BNDES e, para isso, é preciso fabricar pelo menos 50% do material no Brasil. “Estamos hoje fornecendo material para uma planta que é duas vezes maior que a de Pirapora. São obras de grande porte e o setor metalúrgico está de olho nisso”, completa Falcão.
Para atender a demanda, também é necessária a contratação de profissionais pelas empresas que atuam na área. De acordo com a Absolar, o setor deve abrir cerca de 118 mil vagas de emprego no Brasil neste ano.
O aumento do risco de racionamento levou o Governo Federal a acionar todas as termelétricas fósseis disponíveis no país, mais caras, poluentes e que têm elevado a conta de luz. Além disso, o Brasil ficou mais dependente dos países vizinhos, já que passou a importar energia elétrica do Paraguai, Argentina e Uruguai.
Segundo a Absolar, a possibilidade de contribuir com o meio ambiente e a de economizar tem atraído clientes. A associação estima que um sistema fotovoltaico pode reduzir os gastos com eletricidade em até 95%. “A tecnologia fotovoltaica é essencial para a recuperação da economia e para aliviar a escassez de água dos reservatórios hidrelétricos, bem como para ajudar na redução da conta de luz de todos os consumidores”, defende o presidente-executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia.
O baixo impacto ambiental e alta capacidade de produção também impulsionam a produção eólica frente à atual crise hídrica. “No ano passado, a eólica foi a fonte que mais cresceu, sendo responsável por 43,17% da nova capacidade instalada total adicionada à matriz. A energia produzida pelos ventos é renovável; possui baixíssimo impacto ambiental; contribui para que o Brasil cumpra o Acordo do Clima; não emite CO2 em sua operação; tem um dos melhores custos benefícios na tarifa de energia; permite que os proprietários de terras onde estão os aerogeradores tenham outras atividades na mesma terra; gera renda por meio do pagamento de arrendamentos; promove a fixação do homem no campo com desenvolvimento sustentável; e gera empregos”, resume Elbia Gannoum, presidente-executiva da ABEEólica.
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