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Os fabricantes de máquinas e equipamentos continuam preocupados com os impactos da crise econômica do país sobre o desempenho da indústria e da falta de medidas do governo para que ajudem a reverter esse cenário. "Estamos há quatro anos mergulhados numa situação crítica", desabafa João Marchesan, presidente da Abimaq, entidade que reúne as empresas do setor.
A entidade elaborou um estudo para alertar as autoridades em Brasília sobre o "estrago" causado pelo processo de desindustrialização na cadeia da indústria de base. O segmento de bens de capital mecânicos passa pela sua pior crise. O faturamento mensal hoje é metade do que era no auge da demanda, em 2013. "O caminho está errado há tempos", diz Marchesan, em entrevista ao Valor.
Nesse período, o setor já enxugou 90 mil postos de trabalho, fruto da queda da receita da indústria de base. Apenas neste ano, a redução no emprego é de 5,7%, informa o dirigente da Abimaq. Ele relata o desaparecimento de empresas de vários segmentos, como fundição de aço e calderaria pesada. O processo, na avaliação do diretor de competitividade, Mário Bernardini, "é irreversível". "Para recriar esses elos, o Brasil precisaria de um longo ciclo de crescimento".
O estudo mostra como a indústria de transformação perdeu nos últimos anos a participação no Produto Interno Bruto, de 18% para 11%. Esse efeito, dizem, também pode ser observado entre os associados. "Produtos não seriados" - ou seja, que são fabricados sob encomenda e normalmente são direcionados para os investimentos pesados, em infraestrutura - perderam peso na receita. O espaço foi ocupado por máquinas agrícolas, que já têm 20% do total.
É o que ajuda a explicar o aumento da receita em maio, em base anual, primeira alta depois de 25 ciclos de queda consecutivos. Soma-se a isso o movimento inicial de maior demanda por "produtos seriados", de prateleira, em geral usados em reposição de peças ou manutenção. É sintomático que a Abimaq seja comandada por um executivo da área de máquinas agrícolas. Marchesan é da família fundadora da empresa que leva seu nome, em Matão (SP).
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O estudo aponta que a agricultura paga "juros decentes" e tem uma carga tributária menor que a da indústria. "A agropecuária, que é 7% do PIB, responde por 3,4% da arrecadação e os juros que o setor paga para investir são de 7,5% a 8,5% ao ano", diz. Já a indústria de transformação, com 11% do PIB, responde por 20% da arrecadação e tem custo de investimento superior a 15% ao ano.
O documento traz ainda a avaliação de um ano de governo de Michel Temer. Diz que houve "demasiada confiança" no efeito da reversão de expectativas em função do impeachment, das reformas anunciadas, da equipe escalada pelo governo e da recuperação de índices de confiança. "Após a aprovação do teto dos gastos, continuou um otimismo exagerado com a possibilidade de passarem no Congresso as reformas trabalhista, da previdência, política e tributária", diz o relatório.
Além disso, aponta que, no cenário macroeconômico, as boas notícias "se resumem" à queda de 110 pontos base no risco país e à redução da inflação, mencionando que "Como Delfim [Neto, economista e ex-ministro da Fazenda] ensinou nos anos 80, não há inflação que resista a uma boa recessão".
A entidade elenca ainda a valorização do real em mais de 15% de janeiro a maio sobre o mesmo período de 2016; o aumento dos juros reais de 4,5% para 7,5% ao ano; redução da oferta de crédito para as empresas em mais de 10% e o aumento do desemprego. Uma crítica forte é feita à política adotada pelo BNDES nesse período. "Os financiamentos caíram à metade e a indústria deixou de ser prioridade", afirma.
As demandas prioritárias, afirmam, não são novas e já foram levadas mais de uma vez a interlocutores políticos e ministros em Brasília. Mas o setor continua a colecionar derrotas. Dentre elas, a definição da política de conteúdo local para os projetos de exploração de petróleo e gás.
Segundo Marchesan e Bernardini, medidas de incentivo à produção precisam superar a ideia de ajuste fiscal puro e simples para resolver os problemas da economia. "Precisamos ir além. Estamos há três anos só discutindo ajuste fiscal e corrupção". Segundo eles, a equipe do ministro Henrique Meirelles, comete o mesmo erro: "tem uma visão apenas financeira, de contador".
No curto prazo, dizem ser crucial a redução dos "spreads" bancários e não apenas da taxa básica. "Eu não tomo dinheiro emprestado à Selic, tomo a juros de mercado", reclama Bernardini. Pede ainda um câmbio mais competitivo, meio de um comitê de política cambial e controle de entrada de capitais.
Apesar do encolhimento do faturamento, a entidade mantém uma projeção relativamente otimista. Fala em chegar ao fim deste ano mantendo os cerca de R$ 66 bilhões obtidos no ano passado. A meta parece difícil de se concretizar e já há dúvidas entre integrantes do setor. O problema é que, até maio, a indústria de máquinas já acumulou queda de 7%. Para atingir a previsão, as fabricantes terão de entregar crescimento dessa ordem na segunda metade de 2017.
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