Indústria de transformação é principal responsável pelo pior déficit da balança comercial em 16 anos

A análise é do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp.

A balança comercial brasileira apresentou déficit de US$ 3,96 bilhões em 2014, pior saldo desde 1998. Esse resultado foi influenciado pelo déficit de US$ 58,86 bilhões da indústria de transformação, o maior de sua história. Os demais setores (agricultura, indústria extrativa e outros) apresentaram superávit de US$ 54,90 bilhões, aponta levantamento elaborado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

A análise do Decomtec apura ainda que desde 2007, o saldo comercial brasileiro vem apresentando tendência de queda, puxado pelo mau comportamento do setor industrial. "Isto decorre dos problemas enfrentados pela indústria, como o elevado Custo Brasil e a taxa de câmbio sobrevalorizada, que foram agravados a partir de 2008, período no qual o resultado comercial do setor se tornou deficitário, ampliando [o saldo negativo] com o passar do tempo", afirma o presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São (Fiesp e Ciesp), Paulo Skaf.

A participação da indústria de transformação na pauta exportadora brasileira caiu de 78,2% em 2006 para 61,6% em 2014. "Isso evidencia a reprimarização da pauta exportadora brasileira, com a consequente perda de participação da indústria de transformação nas exportações", diz o diretor-titular do Decomtec, José Ricardo Roriz Coelho. "Esta reprimarização torna o país dependente dos preços externos das commodities e mais vulnerável a choques negativos externos", acrescenta.

Saldo industrial

O estudo do Decomtec analisa separadamente o saldo comercial da indústria de transformação em 10 categorias que combinam o uso dos fatores produtivos e a intensidade tecnológica.

As importações da indústria de transformação (US$ 122 bi), que aumentaram cerca de quatro vezes mais do que as exportações no período de 2007 a 2014, se concentraram principalmente nos setores intensivos em escala de média-alta tecnologia.


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A análise destaca que esses setores apresentavam um saldo comercial ligeiramente positivo em 2006, de US$ 0,9 bilhão, em oposição ao déficit de US$ 44,1 bilhões em 2014, maior déficit dentre as categorias analisadas. O resultado reforça a já sabida substituição no consumo brasileiro de produtos nacionais por mercadoria importada.

Por outro lado, a categoria de setores intensivos em recursos naturais de baixa tecnologia se destacou com saldo comercial positivo de US$ 43,7 bilhões. Em 2014, esse segmento representou 38,4% da pauta exportadora da indústria, um acréscimo de nove pontos percentuais sobre a participação de 2006.

Embora as exportações da indústria de transformação tenham registrado um aumento de 28,7% (US$ 31 bi) em 2014 em relação ao registrado em 2006, 69,7% (US$21,6 bi) desse incremento corresponde aos setores intensivos em recursos naturais de baixa tecnologia.

"Portanto, a pauta exportadora da indústria de transformação está ficando menos diversificada, com o avanço de setores intensivos em recursos naturais de baixa tecnologia e retração da maioria das demais categorias. Isso significa um deslocamento relativo em direção a atividades com menor produtividade e menores salários", afirma Roriz.

"Para que haja a recuperação da indústria, é fundamental que a taxa real de câmbio brasileira se ajuste em um nível compatível com nossa realidade econômica", completa o diretor de Competitividade da Fiesp.