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A indústria ainda é o setor que mais apresenta pedidos de financiamento ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas já não é quem mais recebe. Nos 12 meses encerrados em abril (últimos dados disponíveis), a indústria respondeu por 37% das consultas apresentadas à instituição, enquanto o setor de infraestrutura foi responsável por 32% dos novos projetos apresentados. Na ponta do desembolso, tem ocorrido o contrário. A participação da indústria tem recuado e chegou a 27,4% nos 12 meses encerrados em abril, a menor participação nos últimos dez anos, pelo menos.
A infraestrutura - alçada a prioridade do banco - tem recebido uma parcela crescente de recursos, ainda que a participação nos desembolsos totais já tenha sido superior aos 35,5% do acumulado dos últimos 12 meses. Nesse período recente, até o setor de comércio e serviços, reforçado pelos desembolsos para os governos estaduais, recebeu mais recursos que a indústria, ficando com 28,2% do total.
A comparação entre o total de consultas (indicador que equivale aos novos projetos que chegam ao banco) e desembolsos mostra uma diferença entre infraestrutura e indústria. Enquanto na indústria sem Petrobras - praticamente 100% dos projetos da estatal são aprovados pelo banco - essa proporção é constante e tem variado em torno de 65% ao longo dos anos, na infraestrutura essa parcela é crescente (embora cíclica) e chegou a 81% nos últimos 12 meses. Há um descasamento normal entre consultas e desembolsos, por isso olhar uma série de 12 meses permite enxergar melhor o fluxo de recursos dentro da instituição.
Claudio Leal, superintendente da área de Planejamento do BNDES, diz que não existe uma "reserva orçamentária" na instituição para um ou outro setor, e que a decisão de apoiar um ou outro projeto decorre da aplicação da política operacional do banco (revisada em janeiro) e também do suporte da instituição às políticas governamentais. Os atuais desembolsos para o setor de infraestrutura se enquadram na segunda questão. O impacto da nova política operacional - onde a infraestrutura é uma das prioridades - ainda não começou.
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No recente programa de concessões federais, o apoio do banco foi previamente anunciado, inclusive como uma garantia de suporte aos investimentos que o novo operador privado deveria fazer em áreas como aeroportos e rodovias, além do já consolidado apoio ao setor elétrico. No caso desses projetos, lembra Leal, o projeto chega ao banco já associado ao leilão, pois o financiamento compõe, muitas vezes, as regras da concessão, inclusive em termos de taxas e prazos.
Além da correlação com as concessões federais e também com programas estaduais de infraestrutura (como o transporte urbano, incluindo o metrô paulistano), os projetos de infraestrutura costumam envolver volumes mais expressivos de investimento e têm tempo de maturação maior, pondera o executivo do BNDES. Um exemplo, diz ele, é a hidrelétrica de Belo Monte, que sozinha representou um apoio da instituição de R$ 2 bilhões.
No caso da indústria, observa, os projetos são mais regulares e pulverizados. Além disso, os dados mais recentes de apoio ao setor industrial foram contaminados pela suspensão temporária de duas linhas destinadas ao setor, a Progeren (capital de giro) e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) Exportação. O volume de desembolsos dessas duas linhas somadas passou de R$ 19 bilhões nos 12 meses encerrados em abril do ano passado para R$ 6,1 bilhões em abril deste ano. "Essas linhas estiveram fechadas nos primeiros cinco meses deste ano e sua retração explica 90% da queda recente nos desembolsos para indústria", argumenta Leal, explicando que o PSI-Exportação já foi reaberto.
Os dados do BNDES relativos a consultas também sugerem que pode haver, no futuro, uma queda ainda maior nos investimentos apoiados pela instituição. Nos 12 meses encerrados em abril, o volume de consultas já caiu 14%, passando de R$ 308 bilhões em abril do ano passado para R$ 265 bilhões em abril deste ano. A queda nos novos projetos apresentados pelo setor de infraestrutura segue a média (13% menos), enquanto a indústria reduziu seus pedidos em 7% na mesma comparação.
Nos desembolsos, o recuo ainda não aparece. Em abril do ano passado, as liberações acumuladas em 12 meses somavam R$ 176 bilhões, valor que chegou a R$ 190 bilhões no fechamento do ano passado e em abril estava em R$ 195 bilhões.
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