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A exportação brasileira de manufaturados tem pelo menos um bom indicador nos embarques de janeiro a maio. A exportação desses bens para os Estados Unidos cresceu 7,2% nesse período, contra iguais meses do ano passado, em sentido contrário à média da exportação total brasileira do segmento, que caiu 8,9% na mesma comparação.
A elevação, segundo analistas, é reflexo da recuperação americana. A venda de bens industriais aos EUA não chega a compensar a queda dos embarques para a Argentina, mas com o desempenho dos primeiros meses, os americanos alcançaram no consumo de bens industriais brasileiros fatia praticamente igual à da Argentina, principal destino de manufaturados exportados pelo Brasil.
Com a crise argentina, a exportação de bens industriais para o país vizinho sofreu redução de 20% de janeiro a maio deste ano, na comparação com igual período de 2013. A queda fez a participação da Argentina na compra de manufaturados brasileiros cair de 20,2% para 17,8%. Em sentido inverso, os americanos aumentaram a sua fatia de 14,5% para 17% na mesma comparação, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Essa alta foi provocada por elevações de exportações de aviões, máquinas e aparelhos para terraplenagem e perfuração, além de motores e turbinas de avião de suas partes. A recuperação americana, segundo a Funcex, pode explicar esse aumento na contramão da tendência geral de embarque de manufaturados.
Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, concorda com a análise. Ele lembra que a economia americana decepcionou no primeiro trimestre. "Mas o entendimento é que os problemas foram pontuais no início do ano, como a questão climática e o ajuste de estoques. A partir de março e abril, os indicadores melhoraram e o que se espera é que passem a se comportar conforme a expectativa de recuperação".
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Campos Neto diz que, por conta do desempenho do início do ano, a Tendências deve revisar o crescimento americano para o ano, de 2,7% para algo em torno de 2,3%. A análise, porém, é que os primeiros meses foram um "ponto fora da curva". Com isso, a recuperação americana pode continuar a incentivar a exportação brasileira de manufaturados. "Não haverá compensação integral da perda de exportação para a Argentina. Mas as vendas para os EUA amenizam a situação".
José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que houve elevação nos embarques de máquinas de terraplenagem, tornos mecânicos e prensas nos primeiros meses do ano. "Esse aumento se deve à recuperação da economia americana. É uma recuperação pontual, mas que teve efeito".
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, ressalva que é preciso verificar se o nível de elevação dos embarques vai se sustentar durante o ano, porque parte do aumento foi resultado da exportação de aeronaves e turbinas. Esses bens, diz, possuem ciclo longo de produção e pode ser que o embarque tenha se concentrado no início do ano.
Os dados da Funcex mostram que, apesar da boa notícia com a exportação aos americanos, o embarque de manufaturados brasileiros não sofre somente com a crise na Argentina e na Venezuela. Dados de redução de embarques para outros destinos da América do Sul mostram, segundo analistas, que as vendas de manufaturados ao exterior também caem por conta de desvio de comércio, que acontece quando o fornecedor mais eficiente, externo ao bloco comercial do qual se faz parte, é substituído por outro menos eficiente, mas pertencente ao bloco e, por isso, favorecido pelo diferencial de tarifas.
Nos primeiros cinco meses do ano, a exportação brasileira de manufaturados caiu 8,9% contra igual período do ano passado, segundo a Funcex. Os países da América do Sul respondem por 34,5% do total de manufaturados vendidos pelo Brasil ao exterior - a Argentina é responsável por 17,8% e a Venezuela, por 2%. Em crise, os dois países provocaram a queda de 15,7% nos embarques de bens industriais para a região. As vendas de manufaturados para os argentinos caíram 20% de janeiro a maio, em relação a igual período de 2013. Para a Venezuela, a redução foi de 37,1%.
A queda também ocorreu entre os demais destinos sul-americanos que respondem por 14,7% do total dos embarques de bens industriais brasileiros. Do total de nove países mais importantes para os quais o Brasil exporta manufaturados na América do Sul, em sete houve redução de embarques. A exportação para os chilenos caiu 11,8% e para o Peru, 10,7%. Para a Colômbia, houve queda de 10,2%, sempre na comparação janeiro-maio de 2013 e deste ano. Juntos, esses três destinos têm fatia de 7,8% do embarque de manufaturados.
Para Barral, a redução de exportação para a América do Sul, principalmente para Colômbia, Peru e Chile, reflete provável perda de mercado em razão de desvio de comércio. "São países que intensificaram os acordos comerciais, o que tem resultado numa maior densidade de comércio com os países e regiões nos quais cada um deles possui tratados". O Peru tem 19 acordos comerciais vigentes. A Colômbia soma 13 e o Chile, 23.
Os dados incluem todo tipo de acordo, desde os tratados de livre comércio até os de complementação econômica. "O desvio de comércio acontece por conta da vantagem dada pela redução de tarifas e esses países ampliaram muito os acordos de livre comércio", diz Barral.
Castro tem opinião semelhante. A perda de embarques brasileiros para países como Chile, diz ele, pode ser um reflexo da vantagem dada a outros fornecedores de países integrantes de acordos comerciais. Entre as exceções à queda de exportação de manufaturados para destinos sul-americanos importantes, estão Paraguai e Bolívia. A venda de bens industriais para os bolivianos cresceu 1% e para os paraguaios, 6,6%.
No caso do Paraguai, diz Castro, é possível que haja influência das maquiladoras, as empresas que, atraídas por incentivos fiscais e mão de obra barata, produzem bens destinados a exportação com alto grau de insumos importados. Segundo Castro, há parcela importante de importação de manufaturados brasileiros por conta de empresas brasileiras instaladas lá. (Colaborou Rodrigo Pedroso, de São Paulo)
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