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O Brasil ocupa a 64ª posição no ranking mundial de inovação. No índice, produzido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e pela Cornell University, nos Estados Unidos, o Brasil aparece como oitavo colocado entre os países latino-americanos, ficando atrás de Chile (46º), Uruguai (52º) e Argentina (56º).
Mas o que esse índice quer dizer, em termos práticos, para a ciência brasileira? Não muito, segundo pesquisadores que participam esta semana da reunião magna 2014 da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, que tem como título “Da ciência básica à tecnologia e inovação nas empresas”.
“A inovação não substitui a ciência. É preciso, sim, fortalecer a ciência para que ela se transforme em inovação”, disse o físico Vanderlei Bagnato, coordenador da Agência USP de Inovação e do Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (Cepof/IFSC) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiados pela Fapesp.
Segundo Bagnato, no que diz respeito à inovação, o país encontra-se atualmente em fase de definir as ações que são importantes e direcionar os protagonistas (universidade-empresa).
“Não somos os melhores, mas estamos longe de sermos os piores. A cada dois dias, a USP [Universidade de São Paulo] assina um contrato com empresas, e o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, por exemplo, é hoje o maior centro de óptica da América Latina”, disse.
Em uma mesa que discutiu a inovação em materiais, em Física e em Química, Bagnato falou da inovação como responsabilidade social, citando como exemplos projetos desenvolvidos pelo Cepof que mostram a expertise do país nessas áreas.
Como o raio X digital, protótipo de um scanner a laser que possibilitará o desenvolvimento no Brasil da radiologia digital, tecnologia que substituirá as placas radiográficas ainda utilizadas hoje, diminuindo os riscos de pacientes e profissionais de saúde à exposição pela radiação.
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“Temos que identificar as necessidades da sociedade como oportunidade”, afirmou ele, salientando que as terapias fotônicas são hoje uma realidade no país graças às pesquisas realizadas que utilizam essas novas técnicas. Um exemplo é o sistema de detecção e tratamento do câncer de colo de útero que, por meio da fotodinâmica, leva somente as células cancerosas à morte.
O método é similar ao adotado em outro projeto pioneiro desenvolvido anteriormente no IFSC para o tratamento do câncer de pele: nele, uma pomada é aplicada no local da lesão e uma luz especial ativa uma substância chamada porfirina, que age matando as células cancerosas.
De acordo com o pesquisador, a terapia fotodinâmica já vinha sendo utilizada há mais de dez anos no país. “Nosso trabalho foi direcionar a adequação do método à realidade do Brasil, onde é grande a incidência de casos de câncer de pele. Com o aumento da expectativa de vida para 80 anos até 2020, os casos podem crescer ainda mais. Nossos projetos têm como objetivo ultrapassar obstáculos econômicos e sociais do tratamento dessas doenças, levando a tecnologia a toda a sociedade”, disse Bagnato.
Para Elson Longo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara, coordenador do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDFM), outro CEPID apoiado pela Fapesp, apesar da 64ª posição do país no ranking da OMPI, o cenário não é tão negativo. “Precisamos de tempo”, disse o professor, lembrando que a sinergia entre universidade-empresa já foi mal vista.
“Quando comecei na academia, fazer inovação não era rotina na universidade. Diziam que estávamos nos vendendo. Obviamente há muito a ser feito, mas, comparado com o passado de nosso país, estamos bem em inovação. Precisamos agora qualificar recursos humanos e buscar produtos inovadores que sejam competitivos”, observou Longo.
Também presente na mesa, Francisco Moreto, do Instituto Atlântico, argumentou que, a fim de que o país vença os desafios em C&T, é necessário desenvolver habilidades para transformar recursos em conhecimento e conhecimento em riqueza.
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