Na esteira das manifestações de rua que eclodiram em junho, os índices de confiança desabaram e chegaram ao fundo do poço em julho. Quase sem exceção, as pesquisas que indicam o ânimo de consumidores e empresários da indústria, comércio, serviços e construção foram a senha para sugerir que o terceiro trimestre do ano será mais fraco, com "provável" queda no Produto Interno Bruto (PIB) na comparação com o segundo trimestre, considerando o ajuste sazonal. A maioria dos índices, contudo, inverteu o sinal e voltou a crescer em agosto, uma mudança que ainda não aparece nos indicadores de produção e consumo.
Na sexta-feira, logo após o anúncio, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do surpreendente crescimento de 1,5% do PIB no segundo trimestre sobre o primeiro, economistas começaram a revisar para baixo a estimativa para o desempenho da economia no período julho-setembro, ao mesmo tempo em que elevaram as previsões para o ano, com a maioria passando a prever um crescimento acima de 2%, se aproximando, assim, da estimativa do próprio governo, de 2,5%. Pelas contas do Goldman Sachs, considerando estabilidade no terceiro trimestre e expansão de 0,5% no quarto trimestre, o país fecharia 2013 com crescimento de 2,7%.
O pessimismo com o terceiro trimestre leva alguns economistas a prever queda no PIB nesse período, em parte porque a base de comparação (o segundo trimestre) ficou mais forte. Na prática, porém, poucos dados fechados já foram divulgados, entre eles a queda na produção de automóveis e a desaceleração no crédito. Por outro lado, as pesquisas de confiança conduzidas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram recuperação na maioria dos índices em agosto.
As sondagens do Ibre mostraram que o índice de confiança do consumidor cresceu 4,4%, o de serviços, 4,3%, e o do comércio, 5,8%, em agosto na comparação com julho, feito o ajuste sazonal. No Ibre, a confiança ainda caiu na indústria (0,6%) e na construção (2,1%). Na indústria, foi o pior nível desde julho de 2009. Já na CNI, há clara recuperação da indústria, ainda que o índice seja fraco. O indicador mostrou uma recuperação de 2,6 pontos sobre julho. Em muitos casos, os índices estão abaixo de igual período do ano passado, mas o comércio teve o melhor índice do ano, enquanto a confiança do consumidor voltou ao mesmo nível do segundo trimestre.
Para o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o resultado positivo, acima das expectativas do mercado - a média de alta aferida pelo Valor Data era de 1% -, afetará a confiança positivamente e alentará as expectativas para o segundo semestre. "Isso pode beneficiar os leilões de concessões nos próximos meses", afirma, observando que os investimentos já ajudaram o PIB ao longo de todo o primeiro semestre. Para Belluzzo, existe um "pessimismo exagerado" entre os analistas de mercado e suas projeções. Ele prevê avanço de 2,5% no PIB em 2013.
Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, espera estabilidade no PIB do terceiro trimestre e, ao mesmo tempo, elevou sua estimativa para o ano de 2% para cerca de 2,3%. Os dados, diz ele, mostram confiança baixa, aumento de estoques e alguma retração do crédito, "indicando um terceiro trimestre bastante diferente do segundo". Para ele, elementos que reforçaram o pessimismo em julho ainda estão presentes. Foi neste início de terceiro trimestre, diz, "que o mercado financeiro ficou mais turbulento diante das preocupações referentes aos Estados Unidos, vieram as altas nos juros e no dólar, as manifestações populares."
Além da recuperação da confiança, há pouco dados concretos já divulgados sobre julho e agosto. Amanhã sai o resultado da produção industrial e espera-se queda moderada. A LCA Consultores projeta retração de 0,6%.
Outra incógnita para o segundo semestre é o comportamento do setor externo, uma das boas notícias do segundo trimestre. Sozinho, o setor externo contribuiu com 0,7 ponto percentual (quase a metade) do crescimento de 1,5% do PIB, na estimativa de Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil. Essa "ajuda" resultou de um salto de 6,9% das exportações e um avanço de 0,6% das importações.
Para Kawall, pode-se esperar um certo resfriamento das importações e uma melhor performance das exportações. Mas ele não considera que esse será um elemento importante para a economia no segundo semestre, porque o peso do setor externo do PIB é pequeno, algo próximo de 10%.
Solange Srour Chachamovitz, economista-chefe da ARX Investimentos, diz que o dólar, antes de ajudar, vai atrapalhar. "Ele afeta a demanda, porque provoca inflação, o que reduz o poder de compra da população", observa, acrescentando as incertezas geradas pela atual volatilidade do câmbio.