Economistas avaliam que a piora acentuada dos indicadores de confiança e dos antecedentes da atividade observada em julho não chegou com a mesma intensidade ao mercado de trabalho. A expectativa é que os fundamentos do emprego continuem em desaceleração no terceiro trimestre, mas em ritmo bem mais modesto do que o esperado para o desempenho da economia. Neste cenário, está descartada uma alta expressiva do nível de desemprego no país.
Após a surpresa positiva com os dados de junho, quando foram abertos 123,8 mil postos de trabalho com carteira, a média de oito instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta criação de 106 mil vagas formais no mês passado. Em julho de 2012, o saldo líquido entre demissões e admissões foi positivo em 142 mil empregos.
As estimativas para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulga nesta quarta-feira (21), vão de 75 mil a 138,8 mil novas ocupações formais em julho. Sem informar números, o ministro da pasta, Manoel Dias, adiantou ontem (20) que o emprego cresceu no período, mas em "menor percentual."
Ontem (20), o ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse que os números devem mostrar perda de dinamismo no mercado de trabalho. "Cresceu, mas em menor percentual", afirmou. Após as declarações, surgiram rumores no mercado de que o Caged apontaria para um dado negativo, quando a quantidade de demissões é maior que de contratações. Ou seja, com fechamento de vagas no mês. No entanto, fonte do ministério rechaçou essa interpretação, informando que as admissões superaram as demissões em julho, porém o saldo positivo de vagas criadas no mês foi menor que os 142,5 mil postos de trabalho abertos em julho do ano passado.
Na quinta-feira (22), o IBGE vai divulgar a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas referente ao mesmo mês, para a qual 15 analistas consultados estimam 5,8%, em média, com intervalo de projeções entre 5,6% e 6%. Na leitura anterior, o percentual de desocupados em relação à População Economicamente Ativa (PEA) foi de 6%.
No piso das previsões para o Caged, André Muller, da Quest Investimentos, trabalha com saldo positivo de 75 mil vagas no mês passado, número que, se confirmado, representaria redução de 47% sobre o dado de igual período de 2012. Já a geração de postos acumulada em 12 meses passaria de 677 mil para 600 mil entre junho e julho, movimento que, em sua opinião, indica um ajuste "ainda lento", e para baixo, do mercado de trabalho.
Segundo Muller, a pesquisa do IBGE deve ir na mesma direção. Em julho, a Quest estima que a taxa de desemprego ficou em 5,9%. Com ajuste sazonal, o economista calcula que a desocupação vai ficar estável em relação a junho, em 5,7%. Mesmo assim, ele destaca que será a segunda vez seguida em que o percentual de desempregados vai subir na comparação com igual mês do ano anterior: em julho de 2012, o desemprego foi de 5,4%. "As empresas seguraram enquanto puderam as demissões na expectativa de uma melhora da atividade, mas acredito que chegaram no seu limite", disse.
Para Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, a retenção de mão de obra ainda impede um avanço maior da taxa de desemprego este ano, que, em seu cenário, não vai ultrapassar os 6%. Na média, Thaís calcula que a desocupação será de 5,7% em 2013, ante 5,5% no ano passado. O desaquecimento do mercado de trabalho, diz ela, seguirá em ritmo gradual, mesmo em um ambiente de perda de fôlego maior da economia, já que, no terceiro trimestre, é praticamente dado que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer perto de zero.
"Qualquer resposta do mercado de trabalho à atividade demora muito mais para acontecer do que de um mês para o outro", comenta a economista, para quem uma reversão do desânimo de consumidores e empresários mais à frente, assim como dos indicadores econômicos, vai evitar que os dados de emprego sejam totalmente contaminados pelo pessimismo que se abateu sobre o terceiro trimestre.
Na virada do primeiro para o segundo semestre, Sarah Bretones, da MCM Consultores, sustenta que o mercado de trabalho vai deixar uma trajetória de acomodação para entrar em uma rota mais clara de esfriamento. Mesmo assim, a economista afirma que a taxa de desemprego não terá expansão muito além dos níveis atuais nos próximos meses, em função da permanente escassez de mão de obra qualificada, que inibe demissões, e da entrada cada vez menor de jovens na força de trabalho. Em julho, a MCM estima desocupação de 5,9% nas seis principais regiões metropolitanas e criação de 138,8 mil empregos formais. (Colaborou Thiago Resende, de Brasília)
Por Arícia Martins/ Valor Econômico