A alta no volume de importações de insumos industriais sem o crescimento da produção doméstica aponta que a troca de produtos nacionais por estrangeiros continuou em 2013. De janeiro a maio, ante o mesmo período de 2012, o volume das compras externas de bens intermediários cresceu 9,5% segundo levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), enquanto a produção industrial de bens intermediários aumentou 0,23% na mesma comparação, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O movimento de substituição de importações, que cresceu em 2011, e havia perdido força no segundo semestre de 2012, parece ter recebido impulso neste ano, pelo menos antes da recente desvalorização do real frente ao dólar, segundo analistas.
O aumento da presença de importados, contudo, não aconteceu só em bens intermediários. O déficit comercial da indústria subiu, de novo, neste ano e encerrou o período entre janeiro e maio em US$ 38 bilhões, valor 26% superior ao do ano passado. O aumento no déficit decorreu de uma queda de 4,7% nas exportações industriais e de um aumento de 7% nas mesmas importações, em valor. Do 26 segmentos que têm o comércio exterior detalhado pela Secretaria de Desenvolvimento da Produção, do Ministério do Desenvolvimento, 20 registraram déficit comercial até maio, um a mais em relação a igual período de 2012.
A indústria tem déficits expressivos nos setores de químicos e de máquinas e equipamentos mecânicos. A importação de produtos químicos, em valor, aumentou 17,1%, trazendo para a balança um déficit de US$ 7,3 bilhões. Por outro lado, o IBGE aponta que a produção brasileira de insumos industriais básicos encolheu 6% de janeiro a maio, enquanto a de insumos industriais elaborados caiu 0,8%. Em bens de capital, descontando equipamento de transporte industrial, o recuo na produção fídica foi de 9,3%, enquanto a importação de máquinas e aparelhos elétricos aumentou 9,3, em valor.
Para Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp, o "grande ímpeto importador" da indústria, verificado há dois anos, dá indícios de ter voltado a ganhar força em 2013.
"Ainda é preciso esperar mais alguns meses para cravar, mas os últimos dados mostram que a importação tem crescido muito acima da produção, o que sugere essa substituição. Há uma nova investida de exportadores para o Brasil, que oferecem prazos maiores aos importadores e preços mais baixos, em um cenário no qual a indústria luta para ganhar competitividade", afirma.
No levantamento da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) sobre a indústria de máquinas e equipamentos, o setor apresenta queda de 7% na produção de janeiro a maio, ante o mesmo período do ano passado. Como 40% do consumo nacional de máquinas e equipamentos provem de produtos nacionais, o aumento de 6,4% na importação do setor no período faz o desempenho dessa indústria "andar de lado" neste ano, segundo Mario Bernardini, assessor econômico da associação.
"O aumento de empréstimos do BNDES ao setor não sugere retomada do investimento produtivo no país, como parece indicar. O que aconteceu foi que, antes, as empresas captavam 70% de seus financiamentos no mercado. Agora, com o incentivo do banco, essa fatia caiu para 35%. As importações estão tapando o buraco da queda da produção nacional", diz.
Bernardini afirma que "há uma expressiva substituição", principalmente nas cadeias intermediárias da indústria. O câmbio recentemente desvalorizado tem algum efeito no longo prazo. "A desvalorização em junho não está nos números, mas esse é um processo que demora para chegar à cadeia produtiva, no mínimo seis meses. Se o patamar ficar estabilizado, só depois disso vai dar para saber se o dólar mais caro terá algum impacto nas importações", diz.
A constatação é similar à de Rodrigo Branco, economista da Funcex. Além de máquinas e equipamentos e químicos, ele coloca o setor siderúrgico na lista daqueles com dificuldades em competir com o importado, em função da queda do preço do minério de ferro e, principalmente, da oferta maior de aço chinês, que está entrando com mais força neste ano no mercado brasileiro.
Principalmente em 2012, diz Branco, havia uma correlação entre a produção industrial e a importação de intermediários: quando um subia o outro era puxado. "Isso mudou neste ano. Havia um argumento de que era em função do nível de estoque, que estava alto. Ou seja, importou-se mais, mas a produção não foi vendida e isso provocaria reflexos nos indicadores de atividade posteriores", afirma o economista da Funcex. "Mas se olharmos os dados anualizados, vemos os estoques crescendo e a curva de produção e importação em direções opostas."
A banda de R$ 2,20 para o dólar é considerada insuficiente por Branco para inibir as compras externas de forma substancial. "Talvez tenha algum efeito, mas isso só será refletido mais na frente e, se houver, será pequeno."
O apetite maior por insumos e intermediários importados para a produção da indústria nacional volta o foco do comércio exterior às entradas de produtos estrangeiros no país, na visão de Almeida. A queda nos preços de exportação e no volume de manufaturas vendidas ao exterior era o vetor de preocupação para o resultado da balança deste ano. "Agora está havendo uma virada para esse tipo de importação, mais estrutural", diz.
Na sexta-feira (5), o ministro da Fazenda Guido Mantega informou que o governo pode reduzir alíquotas de importação, dependendo do comportamento do câmbio. A medida tem como objetivo ajuda o controle da inflação.