O momento pode ser de intensa volatilidade para os mercados financeiros, o que deixa investidores mais inseguros com relação aos próximos meses, mas está longe de ser um cenário de pânico. Pelo menos é com bastante cautela que Axel Christensen, diretor-executivo e chefe de estratégia de investimento para América Latina e Ibéria da BlackRock - gestora de recursos com mais de US$ 3,7 trilhões sob gestão globalmente - se posiciona sobre o contexto econômico atual.
Para o executivo, que assumiu novo cargo na gestora americana em abril, o momento é, acima de tudo, de ajustes nas expectativas. Há algum tempo, investidores têm se adiantado a mudanças de rumo nos Estados Unidos, em meio a sinais graduais de recuperação e, talvez, ainda mais importante, à desaceleração da China. Um dos maiores impactos para economias emergentes como a brasileira tem sido a saída de fluxo estrangeiro e a consequente piora do mercado acionário, mas Christensen não considera o Brasil mais prejudicado que seus vizinhos.
Na visão do diretor, que conversou com o Valor em rápida passagem pelo país, os mercados enfrentam uma situação bastante desafiadora de forma geral, o que impõe aos investidores a necessidade de repensar estratégias para avaliar as oportunidades, mas não necessariamente mudá-las.
Sobre a economia brasileira, o chileno chama atenção para as mudanças de comportamento das autoridades governamentais, com medidas que voltaram a ter como alvo a meta de inflação e as tentativas para manter o país atrativo aos estrangeiros. E qual o maior desafio no momento? Passar segurança para o investidor.
"O principal nesse novo cenário é ter uma mensagem clara em termos de que as coisas podem estar mudando, mas que há certas questões que não vão ser alteradas para o estrangeiro, como o quadro institucional, a forma como os negócios são conduzidos no país", afirma o diretor da BlackRock.
O executivo não considera que o Brasil está sofrendo mais que outros países latinos e atribui a depreciação dos ativos principalmente à exposição às commodities. "Estamos vivendo um período de readaptação das expectativas. Nesse processo de volatilidade, certamente alguns investidores vão se retirar e outros verão boas oportunidades. Vai depender um pouco do perfil, do horizonte dos seus investimentos", diz Christensen, que vê certo exagero nos movimentos recentes.
"Em geral, quando estamos ajustando nossas expectativas, tendemos a ficar mais pessimistas e o oposto ocorre do outro lado. Quando as coisas estão melhorando, achamos que ficarão fantásticas para sempre. Os dois extremos são parte da natureza humana."
Os mercados se anteciparam à decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de iniciar a redução dos estímulos econômicos, mas Christensen não vê motivos para desespero. "Temos sempre que lembrar que essas são medidas extraordinárias que estão há algum tempo sendo tratadas como normais. Quando a economia volta para um nível de crescimento perto do potencial, devemos esperar que essas medidas sejam retiradas", afirma o executivo. Na semana passada, o Fed sinalizou que o programa de afrouxamento quantitativo deve ser gradualmente encerrado até meados de 2014.
Ainda que seja difícil para os investidores brasileiros se animarem, em meio a rendimentos pífios ou negativos ao longo deste ano, Christensen diz acreditar que as mudanças macroeconômicas estão sendo em direção a um cenário melhor, principalmente com base na evolução da economia americana. Mas a transição em curso na China segue como uma grande incógnita. "A China ainda está evoluindo muito rapidamente, mas o problema é que temos que entender como o país está crescendo, o que o governo está tentando fazer", afirma.
Ao focar em um menor ritmo de expansão, o país asiático está estimulando a instabilidade dos mercados financeiros, diante de uma série de prognósticos sobre o real impacto da desaceleração para a economia global.
Apesar das ressalvas, o executivo da BlackRock deixa claro que uma redução do crescimento chinês pode ser até benéfica se o país começar a optar por um crescimento mais qualitativo. Christensen chama atenção para a necessidade de se analisar o processo para aproveitar as oportunidades. "A China é a segunda maior economia mundial e rapidamente será a primeira. Se o país conseguir lidar com a volatilidade, terá como crescer de forma sustentável. Seria muito mais como um país adulto que não cresce tanto, mas é mais estável", diz.
Segundo o executivo, a possível mudança de foco da China para um crescimento que leve mais em consideração o componente demanda interna resultaria em maior equilíbrio e poderia despertar novas oportunidades a mercados de economias emergentes, ainda que também levasse a um ajuste nas estimativas de taxas de crescimento de indústrias mais associadas às exportações.
"Seria como aconteceu em países como o Brasil, com o crescimento da classe média. Na China, os consumidores poderão ser, por exemplo, mais sofisticados em termos de alimentação, o que poderá ser uma oportunidade para a indústria de alimentos", afirma.
Por Beatriz Cutait/ Valor Econômico