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Samanta Luchini    |   08/01/2018   |   Desenvolvimento Humano   |  

A Dinâmica das Crenças

Nossa maneira de pensar determina os comportamentos que mostraremos ao mundo externo e, consequentemente, os resultados que alcançamos. Crenças impulsionadoras em geral empurram a vida para a frente e trazem resultados positivos. Já as crenças limitadoras, podem deixar sua vida estagnada e comprometer seus resultados. Compreender a dinâmica das crenças e a sua influência é o primeiro passo para o processo de mudança e desenvolvimento.

Escrever no mês de janeiro tem um estímulo especial para mim.

No início de cada ano, as pessoas costumam criar ou revisitar aquelas famosas listas de resoluções de ano novo, onde registram seus objetivos e principalmente as mudanças que precisam ser implementadas para que a vida possa ser vivida de forma mais plena, produtiva e satisfatória. Geralmente essas listas são elaboradas com elevados níveis de motivação e comprometimento, ingredientes fundamentais para que as metas possam sair do papel e adentrar à esfera da realidade. Sem contar ainda que, a sensação de ter cumprido cada item da lista, se converte em combustível adicional para a continuidade da jornada.

De certo modo, esse exercício (ou algo parecido) já está integrado ao nosso cotidiano, tanto para os objetivos pessoais como principalmente para as metas de trabalho e carreira. Talvez você já até esteja com as suas listas feitas e aprovadas, pronto para dar a largada.

Sendo assim, gostaria de propor uma reflexão a mais, que pode ser uma grande aliada na conquista dos objetivos que você traçou para esse ano. Quero falar sobre a dinâmica das crenças e da expressiva influência que elas exercem sobre o nosso comportamento.

Você já deve ter reparado que a nossa maneira de pensar é determinante para as nossas ações no mundo externo e para os resultados que elas constroem. E assim como uma boa lista de resoluções de ano novo pode te ajudar na vivência de um ano mais positivo, rever alguns padrões de pensamento pode ter um impacto ainda maior.

Antes de mais nada, a palavra crença nesse contexto não possui nenhum viés religioso ou espiritualista. Ela remete aos nossos modos habituais de pensamento, que também podem ser chamados de paradigmas ou modelos mentais. Prefiro usar a palavra crença, pois semanticamente me parece mais forte e intensa, podendo assim ser mais convidativa à reflexão e à mudança.


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As crenças definem nosso modo de perceber o mundo externo e, por consequência, agir sobre ele.  Elas representam nossas verdades individuais, que são configuradas a partir do nosso histórico familiar e da nossa formação cultural, social, educacional e organizacional.

As crenças se integram ao nosso cotidiano de forma tão profunda e adquirem uma dinâmica tão natural, que na grande maioria das vezes, nem percebemos que nossos comportamentos são meros produtos dessas crenças e que eles acabam por validá-las, o que faz com que elas sejam reforçadas mais e mais. Funciona mais ou menos assim: a crença produz um comportamento; a comportamento produz um resultado; o resultado justifica e reforça a crença.

Até este ponto, não há problema algum. Trata-se de um funcionamento orientado pela lógica, que dificilmente abre precedente para questionamento. O que merece nossa atenção é tipo de crença e a dinâmica com a qual ela se manifesta.

As crenças impulsionadoras são aquelas que nos movem para frente, que trazem aprendizado e desenvolvimento. Elas geralmente produzem comportamentos que aumentam nossa motivação fazem a vida melhorar.

Uma crença impulsionadora bastante conhecida é aquela que diz “Deus ajuda a quem se ajuda”. Vamos tomar como exemplo uma pessoa que tenha aprendido isso no seio de sua família e, desde então, carrega essa crença como uma verdade individual. Já sabemos que as crenças produzem comportamentos, que produzem resultados, que justificam e reforçam a crença. Sendo assim, essa pessoa geralmente sente-se inspirada a fazer o seu melhor, se esforça, está sempre disposta diante dos desafios da vida e assume verdadeira responsabilidade pelos assuntos que lhe cabem. Uma pessoa que age dessa maneira, em geral, obtém muitos resultados positivos e percebe que seu esforço é recompensado. Logo, a crença de que “Deus ajuda a quem se ajuda” se justifica e faz todo sentido para essa pessoa, que se vê compelida a carrega-la sempre consigo.

Outros dois exemplos de crenças impulsionadoras que muitos de nós aprendemos com nossos pais e que fazem nossa vida seguir um curso positivo também merecem ser apresentados.

O primeiro exemplo é a crença que diz “tudo aquilo que desejo chegará até mim através do meu trabalho”. Sendo assim, as pessoas que carregam essa crença geralmente atribuem um valor especial ao trabalho, executando-o de maneira comprometida e dedicada, aplicando a cada tarefa suas melhores intenções e competências. Esse tipo de crença faz as pessoas persistirem, mesmo diante das maiores dificuldades que o trabalho pode apresentar. Esses comportamentos contribuem para a construção de um desempenho acima da média, que por sua vez, proporciona reconhecimentos e recompensas especialmente significativos para a pessoa. E voilà! A crença de que “tudo aquilo que desejo chegará até mim através do meu trabalho” se justifica e faz todo sentido, por isso merece ser alimentada.

Você sabe tão bem quanto eu que existem inúmeras maneiras de se ganhar dinheiro e adquirir bens materiais com mais facilidade e menos estresse do que com o trabalho em si. Mas o fato de alimentarmos essa crença impulsionadora nos mantem no campo da decência, da dignidade e da honestidade, algo que se constitui num verdadeiro diferencial. Especialmente em dias como esses em que estamos vivendo hoje.

O segundo exemplo é a crença que diz “o que é certo é certo, mesmo que ninguém esteja fazendo; e o que é errado é errado, mesmo que todo mundo esteja fazendo”. Pessoas que pensam dessa maneira, sempre agem de modo íntegro e correto. Respeitam as regras em todas as situações, dizem a verdade, não se apropriam daquilo que não lhes pertence ou que não lhes seja de direito. Um agir assim possibilita uma vida guiada pelo trilho da ética e dos bons exemplos. Vida esta que provavelmente não experimentará nenhum conflito de credibilidade ou reputação e que, por consequência, fornecerá os melhores ensinamentos. Por essa ótica, a crença de que “o que é certo é certo, mesmo que ninguém esteja fazendo; e o que é errado é errado, mesmo que todo mundo esteja fazendo” se justifica e faz todo sentido. Fico pensando em como seria a sociedade brasileira e o mundo em geral, se mais pessoas compartilhassem dessa crença e ajustassem seus comportamentos de acordo com ela.

No campo das crenças impulsionadoras, quanto mais melhor. Além de manter aquelas que já carregamos, podemos também compartilhar das crenças adotadas pelas pessoas que exercem impacto positivo sobre nós. Líderes, professores, familiares, amigos, filósofos e até mesmo personagens de filmes podem ser veículos de crenças impulsionadoras.

Mas nem só de crenças impulsionadoras se compõe o nosso sistema de crenças. Existe uma outra categoria que faz com que nossos pensamentos e percepções fiquem obsoletos e limitados, constituindo uma vida estagnada e que por vezes, até anda para trás. Refiro-me às crenças limitadoras e elas ocupam um bom pedaço do nosso sistema.

As crenças limitadoras são aquelas que produzem comportamentos inadequados ou incoerentes diante dos nossos objetivos, necessidades e das diversas situações do nosso dia-a-dia.

Tal como aquela pessoa que acredita firmemente que “se for franca com os amigos, a amizade pode ficar abalada”. Então, ela prefere dizer apenas o que os amigos gostam de ouvir e com isso, fica sempre tudo bem, as conversas são sempre leves e divertidas. O comportamento de não dizer o que realmente precisa ser dito, justifica e reforça a crença limitadora de que a franqueza pode abalar a amizade. Mas, é possível caracterizar como amizade uma relação na qual as pessoas não dizem o que realmente precisa ser dito? Eu penso que não.

À medida que identificamos as crenças limitadoras, fica muito mais fácil entender porque as pessoas agem do modo que agem.

Você já deve ter ouvido a frase “se eu não disse nada é porque está tudo bem”, vinda da boca de líderes, pais, parceiros e cônjuges. Essas pessoas estão sempre a postos para apontar nossos erros e critica-los com todo rigor. Já os elogios, não são necessários porque o acerto é praticamente uma obrigação. Como consequência, as pessoas seguem com suas ações, pois sabem que o elogio nunca virá mesmo. Pronto, crença justificada e reforçada.

Por mais que esse comportamento silencioso acerca dos elogios e feedbacks positivos seja bastante frequente, ele não condiz com o verdadeiro papel daqueles que se interessam de fato pelo do outro. Ou seja, pensar que “quando tudo está indo bem não é preciso dizer nada” é uma crença limitadora para o cuidado e para o desenvolvimento das pessoas.

Muitos outros exemplos cabem nessa conversa. O que você acha daquele “depois que casa engorda mesmo”? Confesso que eu mesma fui vítima dessa crença, juntamente com diversos amigos e familiares. E até agora não consegui encontrar a lógica de como um documento intitulado Certidão de Casamento (ou similar) tem influência sobre a minha circunferência abdominal. Acho que nem se eu comesse o documento, literalmente, ele produziria tal efeito!

Vamos então, analisar a dinâmica dessa crença. Imagine que uma pessoa acredite firmemente nisso, tendo inclusive várias evidências dentro de sua própria família. Quais seriam os comportamentos produzidos por essa crença? Logo depois que se casam, as pessoas querem curtir a casa nova e o novo status da relação. São muitos filmes acompanhados de pipoca e refrigerante, todo sábado tem pizza, na celebração do primeiro mês saem para jantar, no segundo mês tem flores e bombons. E como a vida a dois impõem mais tarefas e responsabilidades, que geralmente se somam às do trabalho, as pessoas acabam optando por uma alimentação mais prática e compatível com esse novo ritmo de vida, que quase sempre é mais calórica. Ao final do terceiro mês de casamento, cada um soma cinco quilos a mais na balança. Bingo! Depois que casa engorda mesmo! Uma crença limitadora que rebaixa o nível de autocuidado e preocupação com saúde e com o bem-estar.

Pense agora naquele aluno que vive dizendo para si e para os outros “não sou bom com números”. Ele acredita firmemente que seu melhor desempenho se aplica à gramática, à interpretação de texto e à redação. Quando o professor de matemática anunciar a data da prova, quais serão os comportamentos desse aluno? Ele provavelmente vai estudar apenas o básico e necessário da matéria, restringindo-se somente aos exercícios realizados em sala, afinal seu ponto forte está na língua portuguesa. Esse tipo de preparação para uma prova de matemática raramente é suficiente. Aí chega a nota, condizente a esse grau de dedicação e olha que interessante: ele não é bom com números mesmo, pois tirou nota 5 numa prova que valia 10! Uma crença limitadora que dificulta a aprendizagem e impede a superação das próprias dificuldades.

Com a apresentação destes poucos exemplos você deve ter concluído que essa dinâmica ocorre de forma tão automática, inconsciente e repetida por tanta gente, que fica difícil detectar a presença das crenças limitadoras. Você está certo, mas no dia-a-dia existem algumas pistas que podem ajudar.

Não é muito raro nos depararmos com aqueles comportamentos que à primeira vista podem até trazer algum resultado positivo, mas que ao final não nos deixam experimentar a verdadeira sensação de satisfação. Aquelas situações nas quais despendemos uma enorme quantidade de tempo e energia, para a obtenção de resultados minimamente satisfatórios. Ou ainda, aquela terrível frustração que experimentamos todas as vezes que as pessoas não correspondem às nossas expectativas.

Tudo isso acontece no campo das crenças limitadoras. E se não nos tornarmos conscientes disso, é pouco provável que nossas estratégias de melhoria e resoluções de ano novo funcionem.

Como diz a frase de Frank Zappa “a mente é como um paraquedas, só funciona se estiver aberta”, o que inclusive funciona como uma belíssima crença impulsionadora. Aproveite o início deste novo ano para criar o hábito de manter sua mente livre e receptiva a novas percepções e possibilidades. Pensamentos limitadores servem apenas para impedir seu crescimento.

Um grande abraço e Feliz 2018!

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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