Licitações de retroescavadeiras e motoniveladores, em volumes sem precedentes, estão movimentando o mercado de máquinas para construção no Brasil. Para quatro empresas que ganharam contratos até o momento, Caterpillar, JCB, Randon e CNH, representam vendas que já garantiram bom desempenho entre 2012 e este ano.
No âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo federal decidiu que cada município pequeno, de até 50 mil habitantes, terá uma retroescavadeira e, recentemente, estendeu essa "universalização" a motoniveladoras. Os equipamentos ajudarão em obras urbanas, como manutenção de esgotamento sanitário, mas principalmente para restaurar estradas e facilitar o escoamento da produção agrícola.
Fora o aspecto social de levar tecnologia a essas cidades que, de outra forma, não teriam o equipamento, há o peso dessas compras em termos de negócios. Considerado o número de 4.855 municípios atendidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que está realizando os leilões, as encomendas ultrapassarão nove mil máquinas.
Só no ano passado, que foi um ano ruim em todo o setor de bens de capital, entraram no mercado 1,7 mil retroescavadeiras, vendidas na primeira grande licitação, realizada no fim de 2011. O número é representativo até em termos das vendas totais de máquinas de linha amarela (que incluem outros equipamentos, como escavadeiras e rolos compactadores).
Um estudo feito pela Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema) mostrou que foram vendidos no Brasil, no ano passado, 29,7 mil equipamentos dessa linha, em um recuo de 3% em relação a 2011. Sem as vendas de retroescavadeiras para o MDA, esse recuo teria sido de 8,5%.
Para 2013, já estão licitadas 4,8 mil máquinas. Número que provavelmente chegará a 5,6 mil unidades, por R$ 1,38 bilhão, via aditivos. Outra licitação, de cerca de duas mil motoniveladoras, será realizada para completar a oferta de um equipamento de cada linha para cada município pequeno.
Se no mercado como um todo, o impacto disso tudo é relevante, para as empresas que vencem os lotes, é expressivo. "Em concorrência de máquinas, quando se fala em dez unidades já é algo grande, então essas compras são totalmente fora do padrão até em níveis mundiais", disse o diretor para América Latina da JCB, Carlos Hernández.
A multinacional britânica foi a maior vencedora da primeira concorrência. Ela levou o fornecimento 1.240 retroescavadeiras, incrementando seu faturamento de 2012 em R$ 200 milhões. O valor garantiu a alta no faturamento da companhia no país, que passou de R$ 600 milhões, em 2011, para cerca de R$ 720 milhões, no ano passado. No fim de 2012, a empresa ganhou mais três lotes que podem chegar até R$ 148,6 milhões, considerado o teto dos contratos.
A Randon, única de origem brasileira a atuar nesse mercado, foi a segunda vencedora da licitação de 2011, com R$ 90 milhões, e saiu-se bem também nas compras do fim do ano passado, com lotes que podem chegar a R$ 100,5 milhões. "Sem dúvida essas vendas para o MDA ajudaram a Randon Veículos a ter bons anos", disse o diretor corporativo da Randon Implementos e Veículos, Norberto Fabris. Ele admitiu que, sem as vendas na primeira licitação de retroescavadeiras, a divisão não teria apresentado expansão em 2012.
O porte das concorrências atraiu a Caterpillar, que não costuma entrar em licitações no país. A americana trouxe os preços mais competitivos e ganhou a maior fatia dos lotes da segunda licitação de retroescavadeira e da primeira de motoniveladoras. O total, em contratos já assinados, provavelmente superará R$ 880 milhões.
Apesar de se dizer mais resistente a oscilações de mercado, pela variedade de portfólio e pela forte presença que tem no Brasil, inclusive como base de exportação, a Caterpillar admite a relevância dessas encomendas para o faturamento da subsidiária brasileira. "Não podemos negar que foram negócios importantes e que impulsionam as vendas aqui, compensando uma menor atividade do mercado local", afirmou Luiz Carlos Calil, presidente da empresa no Brasil. A Caterpillar não divulga faturamento por país, mas a receita na América Latina, em 2012, somou US$ 8,8 bilhões, segundo balanço da companhia.
A CNH, do grupo Fiat, ficou com as menores participações nas disputas fechadas no fim do ano passado e, ainda assim, mostrou-se contente. Com a marca Case, levará até R$ 53,3 milhões na licitação de retroescavadeiras, e, com a New Holland, vai faturar até R$ 193 milhões em motoniveladoras. "Existia certa pressão da matriz para ganharmos mais, mas acho que levamos um bom lote", disse o diretor da Case Construction Equipment para a América Latina, Roque Reis. A New Holland, apesar de ter ficado bem atrás da concorrente Caterpillar, se mostrou satisfeita. "Esse volume equivale a cerca de oito meses de produção", disse Marco Borba, diretor comercial da marca para a América Latina. A New Holland tem garantida a venda de 459 motoniveladoras, número que pode chegar a 603 com aditivos.
Por Ana Fernandes/ Valor Econômico