Petrobras vê 2013 pior e ações despencam 8%

Presidente da Petrobras prevê ano pior que 2012 e diz que buscará reajustes.

Para a Petrobras, que venha 2014. Sem meias palavras e com uma sinceridade que surpreendeu os analistas que participaram ontem (5) da apresentação dos resultados de 2012, a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, disse que este ano será pior do que foi 2012, quando seu lucro encolheu 36% em relação ao ano anterior. Segundo Graça, a produção deve cair 2% este ano, não serão feitos novos investimentos, e a empresa continuará buscando um reajuste nos preços dos combustíveis, para elevar a geração de caixa. Sem dinheiro, a companhia alterou a distribuição de dividendos de 2012 para os investidores que detêm ações ordinárias (ON, com direito a voto). A medida fez com que os papéis despencassem ontem (5) 8,28% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). É o menor valor das ações ON desde dezembro de 2005.

Com o tombo das ações, o valor de mercado da Petrobras encolheu mais US$ 4,33 bilhões, para US$ 113,47 bilhões. No ano, a perda chega a US$ 11,21 bilhões, o equivalente ao valor da Natura. Quando terminou sua megacapitalização, em outubro de 2010, a petroleira valia US$ 223,5 bilhões na Bolsa. Em pouco mais de dois anos, a companhia vale a metade. Em Nova York, os recibos de ações ordinárias (ADRs) fecharam em queda de 7,93%.
 
Para Mantega, aumento não é oportuno
Em 2013, segundo Graça Foster, a companhia prevê perdas de R$ 6 bilhões com poços secos (não econômicos). No ano passado, esse prejuízo foi de R$ 7,058 bilhões. Somente no segundo semestre deste ano é que, segundo a executiva, a companhia retomará a trajetória de crescimento. Graça afirmou ainda que vai continuar brigando e trabalhando pelo reajuste dos preços dos combustíveis.
 
"O ano de 2013 será mais difícil que 2012. No primeiro semestre terão que ser feitas paradas em plataformas para manutenção. E no segundo semestre será a partida para a recuperação da nossa produção. A gente não tem como chegar ao segundo semestre sem passar pelo primeiro semestre. É um ano difícil e tudo tem que funcionar", afirmou Graça.
 
Ela explicou que em 2012, apesar de o preço do petróleo tipo Brent ter ficado em US$ 111, perto dos US$ 110 de 2011, a desvalorização cambial gerou defasagem (em relação ao mercado internacional) de 17% nos preços da gasolina e do diesel. Por isso, afirmou, não foi possível recuperar a diferença com os reajustes concedidos. Graça garantiu que a busca por novos aumentos para o fim dessa defasagem é contínua. A estatal prevê mais importação de gasolina, passando de 90 mil barris por dia, em 2012, para 110 mil barris por dia, este ano.
 
"No início do ano, chamei todos os coordenadores de programas e disse que 2013 vai ser muito mais difícil que 2012, mas estamos melhor preparados. É brigar, trabalhar e buscar a convergência de preços. É buscar a eficiência e a produtividade. É dever da companhia mostrar para nossos conselheiros as consequências negativas dessa diferença, na nossa capacidade de fazer caixa, e buscar o mínimo de captação no exterior",  destacou Graça, ao lembrar que a área de abastecimento da empresa teve prejuízo de R$ 22,9 bilhões.
 
Mas, à noite, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que não considera "oportuno falar em um novo aumento" da gasolina neste momento. O ministro disse, no entanto, que a tendência é acompanhar mais de perto a evolução dos preços do petróleo no exterior - o que deixa uma brecha para algum reajuste, na interpretação de fontes do mercado.
 
"É claro que a nossa tendência é acompanhar mais a evolução dos preços do petróleo porque o preço da gasolina tem de ter uma correção com o preço do barril de petróleo internacional. Procuraremos estar mais colados à variação de preços do barril de petróleo lá fora para que não haja nenhum prejuízo para a Petrobras", afirmou.
 
Para cumprir seus R$ 97,7 bilhões de investimentos previstos para 2013, Graça admitiu que em alguns momentos deste ano a relação entre o endividamento líquido e a sua geração de caixa poderá superar o número de 2012, que foi de 2,77 vezes. Ela não escondeu a preocupação com o risco de a companhia perder o grau de investimento concedido pelas agências risco:
 
Para gerar mais caixa, a Petrobras adotou uma medida polêmica: alterou a forma de distribuição de dividendos relativos ao exercício de 2012, com o objetivo de economizar cerca de R$ 3,5 bilhões. A redução dos dividendos atingirá quem tem ações ONs, como o governo federal e o BNDES, controladores da companhia. Com a mudança, o dividendo da ON cai pela metade, para R$ 0,47 por ação, contra R$ 0,96 das ações preferenciais (PN, sem direito a voto). Até então a Petrobras estendia para as ONs o mesmo critério das PNs.
 
"A mudança é para manter o caixa e continuar os investimentos. Por isso, fizemos essa diferenciação. Com esse valor (R$ 3,5 bilhões) é possível construir uma unidade e produzir 150 mil barris por dia, que renderá receita futura", disse Graça.
 
Dividendos caem de R$ 12 bi para R$ 8 bi
No total, a Petrobras vai pagar R$ 8,8 bilhões em dividendos referentes a 2012, segundo o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa. Sem a mudança, pagaria R$ 12,3 bilhões. Por isso, as ONs atingiram ontem o menor patamar desde 2005. As PNs fecharam em alta 0,44%.
 
"A reação negativa era esperada após a empresa anunciar que pagaria 49% dos dividendos que serão pagos pelas ações PN", avaliou relatório do banco J.P. Morgan. Analistas do Bank of America Merrill Lynch classificaram a decisão como um "precedente negativo".
 
A venda de ativos é outra estratégia da empresa para fazer caixa. Graça anunciou que abrirá um data room (banco de dados com informações dos projetos dos quais a empresa quer vender) em abril para se desfazer de ativos (participações acionárias em blocos) tanto no Brasil quanto no exterior. Disse ainda que vai buscar sócios para as refinarias que serão construídas no Maranhão e no Ceará.
 
A executiva afirmou que desistiu de vender neste momento a refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A polêmica refinaria, comprada por US$ 1,1 bilhão, deverá passar por um programa de melhorias para ser vendida posteriormente.
 
Com recursos escassos, a Petrobras será "seletiva e criteriosa" na escolha das áreas que pretende disputar nos leilões que a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Segundo Graça, a companhia buscará também parceiros para reduzir riscos. Além disso, manterá um forte programa de redução de custos, que deverá atingir R$ 32 bilhões até 2016, além do aumento na eficiência das plataformas - a meta deste ano na Bacia de Campos é de 76%. Para cumprir seu programa de investimentos, a Petrobras prevê uma captação de recursos de US$ 20 bilhões neste ano.
 
O estudo identificou que a maioria desses profissionais (58%) atua em uma companhia de grande porte. Também há 24% trabalhando em empresas de médio porte e 13% atuando em organização de pequeno porte. Uma pequena parcela (3%) presta serviços para microempresas e 2% revelaram ser autônomos.
 
Por Ramona Ordoñez, Bruno Rosa/ O Globo