É consenso entre os fabricantes de bens de capital que 2013 será melhor que 2012, mesmo porque o ano que passou foi de um desempenho muito fraco no setor. Até outubro, no último dado coletado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o faturamento bruto das fabricantes nacionais recuava 2,3% em relação a período equivalente de 2011. Foi a primeira queda nessa série desde o tombo provocado pela crise, em 2009.
O nível de utilização da capacidade instalada alcançou o patamar mais baixo em 40 anos, segundo a Abimaq, e nove mil empregos foram cortados em doze meses. Na pesquisa mais recente de produção física industrial do IBGE, referente a novembro, bens de capital despontaram como a categoria de uso com maior retração, 1,1% abaixo do nível visto em outubro, na série ajustada sazonalmente (na média das categorias, o recuo da produção foi de 0,6%). No acumulado dos primeiros onze meses do ano, o recuo chegou a 11,6%. Na série da Abimaq, que desconsidera alguns itens contabilizados pelo IBGE, como eletrodomésticos, a queda até outubro é de 5,6%.
Quanto às perspectivas para este ano, ainda há um certo receio no ar, principalmente em torno da capacidade das medidas do governo em impulsionar os investimentos produtivos. Debate-se o quanto a intervenção do Estado na economia pode estar acima ou abaixo do ideal. O que vai acontecer com o cenário brasileiro e internacional em termos macroeconômicos também é difícil de se prever.
Poucos arriscam números de crescimento para o faturamento do setor em 2013, mas para o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, algo entre 5% e 7% é factível, se não acontecer algo "muito fora do esperado". Ele afirma que essa alta será possível, principalmente, graças à prorrogação do PSI/Finame, mesmo que com uma ligeira alta na taxa (a linha de financiamento para compra de máquinas do BNDES passou de juros anuais de 2,5% para 3%, neste primeiro semestre, e chegará a 3,5%, na segunda metade do ano), e à queda de juros como um todo na economia.
"Não vou ser muito otimista, mas, se o governo continuar nesse caminho, com visão de que estamos evoluindo de uma economia do consumo para uma economia voltada para investimento, acho que vemos a luz no fim do túnel", disse Aubert. A entidade elogia as medidas como o PSI, a desoneração da folha de pagamentos e o pacote de concessões com a iniciativa privada. Aubert, por vezes, classificou como corajosa a postura da Presidência da República de enfrentar bancos e elétricas, por juros mais baixos e queda nos preços da energia.
A reclamação principal, contudo, é da falta de política industrial mais bem definida. A Abimaq critica a falta de visão de longo prazo por parte do governo. Como exemplo, Aubert diz que as medidas de incentivo a investimentos não deveriam ter prazo fixo. "Tem de pensar algo com pelo menos uma visão de cinco anos, porque ninguém investe com uma visão de três ou seis meses, principalmente em máquinas e equipamentos." Hoje, por exemplo, estão definidas as regras de financiamento do Finame até o fim do ano e as condições de desoneração da folha de pagamentos valem até 2014.
Um ponto que a Abimaq continua a bater é o câmbio. A desvalorização, que elevou o dólar de R$ 1,60 para R$ 2, na avaliação de Aubert, ajudou. Números compilados pela associação mostram que, de janeiro a outubro, as exportações de máquinas avançaram 29% em relação ao mesmo período de 2011. No mesmo período, as importações avançaram 20%, levando o déficit do setor a recuar pela primeira vez depois de 2009. No acumulado até outubro, somava US$ 14,36 bilhões, 2,1% a menos que em igual intervalo de 2011.
Aubert afirma, no entanto, que a alta não recupera por completo a perda de competitividade da indústria de máquinas, pois um câmbio de equilíbrio estaria mais próximo de R$ 2,80, e cobra uma postura mais ousada do governo. "O governo tem razão em não deixar subir de uma hora pra outra [o câmbio], porque a gente já tem esse histórico de inflação, mas desvalorizar o câmbio de 1% a 2% ao mês não geraria problema nenhum".
Por Ana Fernandes/ Valor Econômico