Em tempos de automação de tudo, pode parecer estranho que uma equipe de pesquisadores queira "revolucionar o trabalho manual".
Mas este é justamente o objetivo do projeto ManuVAR, que reúne nada menos do que 18 instituições de oito países europeus.
Apesar da automação crescente, e da importância dos robôs industriais, o fato é que a maior parte do trabalho nas indústrias ainda é feito por operários humanos. Isso inclui, é claro, manipular ferramentas e controlar máquinas.
A montagem de um liquidificador ou de um satélite espacial, a manutenção de usinas de geração de energia, a operação de equipamentos complicados ou mesmo o projeto dos produtos, tudo é baseado no conhecimento e na habilidade de trabalhadores que operam manualmente suas ferramentas de trabalho.
Quanto mais especializados os trabalhadores, e quanto mais alto o nível de suas tarefas, menor é a chance de automatizar o trabalho. Como a automação não é a solução nesses casos, os pesquisadores querem dar a esses trabalhadores o máximo de suporte tecnológico.
"O sistema ManuVAR melhora todos os aspectos do trabalho manual para todos os atores envolvidos no ciclo de vida do produto, dos engenheiros e gerentes, aos operários e operadores de máquinas," afirma o Dr. Boris Krassi, do Instituto VTT, na Finlândia, coordenador do projeto.
Segundo ele, essas melhorias resultarão em melhor qualidade, maior valor agregado para os produtos e menor tempo para que um projeto se transforme em um produto comercial.
Outras realidades
Embora envolvam medidas como a ergonomia e técnicas de gerenciamento, dando mais liberdade aos trabalhadores, o lado tecnológico que mais chama a atenção é o uso da realidade aumentada e da realidade virtual.
Os trabalhadores poderão olhar o projeto ou o esquema da peça a ser montada na própria linha de produção, por meio de projeção ou óculos especiais, ou ainda visualizar a própria peça como ela deverá ser depois de pronta, bem ao lado da que está sendo montada.
Mas esta será apenas metade da história, já que o sistema incorpora mecanismos para que o trabalhador insira dados e o seu próprio conhecimento na base de dados, relatando, por exemplo, dificuldades na execução do trabalho, sugestões para melhoria no projeto ou passos específicos para facilitar a montagem.
"O uso dessa tecnologia vai criar um fluxo de conhecimento de mão dupla. Isso permitirá que o conhecimento empresarial seja acumulado, arquivado, compartilhado e reutilizado," diz o engenheiro.
Desumanização
Segundo a equipe, o ManuVAR é na verdade uma reação a algumas consequências nefastas da globalização, como a dispensa de trabalhadores qualificados para redução dos custos de mão-de-obra ou a terceirização no exterior. Isso tem levado a problemas como perda na qualidade dos processos e dos produtos e atrasos nos prazos de entrega.
A proposta é que a tecnologia possa ajudar a reverter esse quadro de depreciação da mão-de-obra mais qualificada, defendem os engenheiros, acrescentando é que necessário dar um passo além da fabricação enxuta, ou otimizada (lean manufacturing).