Diante da seletividade dos bancos nas liberações de crédito, as vendas de motos no Brasil retrocederam a níveis próximos aos volumes de três anos atrás, quando o setor era atingido com força pelos efeitos da crise financeira global iniciada em 2008.
Mas mesmo com resultados tão críticos no mercado doméstico - com retração de 20% nas vendas, para 1,64 milhão de unidades -, a indústria de motocicletas nacional tem pelo menos um motivo para comemorar neste ano: as exportações voltaram a superar 100 mil unidades e alcançaram o melhor desempenho em quatro anos.
Dados da Abraciclo, a entidade que representa o setor, mostram que os embarques subiram 48% até novembro, para 95,5 mil motos. As montadoras, conforme estimativas da associação, caminham para fechar o ano com 105 mil motos exportadas, marcando um crescimento de 43,1% sobre 2011 e confirmando o maior volume desde 2008, quando as vendas externas chegaram a 132 mil motocicletas.
Ainda é uma parcela pouco significativa em meio a uma produção que supera a marca de 1,7 milhão de motos. Mas não deixa de ser um alívio, ainda que marginal, aos fabricantes nos momentos de baixa no mercado interno, como aconteceu neste ano.
Junto com a recuperação do dólar, levando os produtos brasileiros a uma situação melhor de competitividade, o desempenho foi puxado pelo consumo na Argentina, principal parceiro da indústria automobilística brasileira, e a recuperação das vendas a países andinos, que entraram para a lista dos principais destinos das montadoras brasileiras.
Esses mercados ajudaram a compensar a derrocada nas exportações ao México, que era até 2011 o segundo principal consumidor das motos brasileiras. A posição passou a ser ocupada neste ano pela Colômbia, cujas compras somaram 7,4 mil motos brasileiras entre janeiro e novembro, 80% a mais do que o volume de um ano antes. Na sequência aparece o Peru, para onde foram exportadas 6,6 mil motos em igual período, cinco vezes mais do que o volume dos onze primeiros meses de 2011.
Já a Argentina, maior consumidor das motos brasileiras no exterior, aumentou em 68,1% as compras, que chegaram perto de 60 mil unidades entre janeiro e novembro, apesar das restrições, vindas de ambos os lados, nas relações comerciais entre o Brasil e seu país vizinho. Também ocupam posição de destaque na lista os Estados Unidos, com alta de 24,7%, e o Equador, cujas importações de motocicletas brasileiras sobem 63,3% em 2012.
Apenas Honda e Yamaha exploram o comércio exterior e as posições das marcas nesse terreno são quase uma repetição do que acontece na distribuição do mercado interno. Assim como ocorre nos emplacamentos de motos no Brasil, onde detém quase 80% do total, a Honda tem posição hegemônica nas exportações, respondendo por 83,3% do total. As duas montadoras atuam, principalmente, em mercados emergentes, sem ter grande exposição aos países em recessão na Europa.
A Honda exportou para 31 países neste ano. A montadora possui representação comercial em todos os países na América do Sul, sendo que opera com filial própria em mercados como Argentina, Peru, Chile e Venezuela. Desde 2006, a Honda tem uma fábrica na província de Buenos Aires, que monta modelos, como a Honda Biz, a partir de equipamentos enviados pela fábrica da Zona Franca de Manaus. Com essa estrutura comercial e industrial, as exportações da marca crescem a um ritmo próximo a 60% neste ano, somando quase 80 mil motos até novembro.
Por sua vez, a Yamaha, com 16,7% das exportações totais, tem crescimento de 8,7% nas vendas externas, para 16 mil unidades. A empresa tem aproveitado o crescimento da demanda na América do Sul para ingressar em novos mercados, como o Uruguai e diz que as exportações contribuíram para melhorar o lucro na região.
Mas a Abraciclo prevê que, após três anos seguidos de alta, as exportações perderão força no ano que vem e ficarão estagnadas na faixa de 105 mil unidades - ainda longe do pico de 163,4 mil motos de 2006. "Vai ser muito difícil repetir em 2013 um salto tão grande como vimos neste ano", diz o diretor-executivo da entidade, José Eduardo Gonçalves.
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico