Depois de ter inflado os resultados de setores beneficiados no terceiro trimestre, o IPI mais baixo seguiu aquecendo as vendas e a produção de automóveis e linha branca em outubro e, segundo expectativas de empresários, pode levar à antecipação de mais compras no fim de ano. Economistas dizem, contudo, que a indefinição quanto a novas prorrogações do desconto traz preocupações para 2013, quando o imposto pode voltar a subir.
Instalada em Betim, em Minas Gerais, a Fiat diz que de modo geral o segundo semestre é melhor para as montadoras, mas que este está sendo excepcional. Com 80,8 mil carros emplacados, as vendas de outubro superaram as de setembro em 13,3 mil unidades, aumento de 19,7%. A prorrogação do IPI até o fim do ano traz à empresa a perspectiva de que muitas pessoas anteciparão a compra do automóvel que ocorreria em 2013.
Foi a redução do IPI, associada à queda dos juros e ao destravamento do crédito, de acordo com a Fiat, que ajudou a reverter o quadro desanimador para as vendas das montadoras no primeiro semestre. De janeiro e outubro, a companhia viu 692,4 mil carros emplacados, 11,9% a mais que em igual período de 2011. No período, o aumento médio do setor foi de 7,2%.
A Renault, com fábrica de automóveis em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, informou que teve o melhor outubro para a marca no Brasil. No mês, foram emplacadas 21,2 mil unidades, 14,6% mais que em outubro de 2011. De janeiro a agosto, foram 201,4 mil veículos emplacados, alta de 33,6% na comparação com igual período de 2011.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Investimentos, a prorrogação do IPI reduzido, principalmente para automóveis, e uma melhora gradual nos demais setores, garantirão que a queda da produção industrial de setembro não se repita mais neste ano, mas há dúvidas quanto ao forte crescimento esperado para a indústria em 2013, de 4,1%, segundo o consenso do mercado.
"Essa estimativa é um pouco otimista, porque mesmo após vários meses de queda de juros os demais setores da economia não estão crescendo tanto como o automobilístico", diz Velho, que reduziu de 3,7% para 3,2% sua projeção para o crescimento do próximo ano.
Segundo ele, caso o benefício fiscal não seja estendido no início de 2013, o efeito imediato será aumento de preços dos veículos, o que tirará força das vendas e, com isso, da produção. "As isenções fiscais tiveram seu efeito, mas não foi generalizado. O PIB do terceiro trimestre terá um bom crescimento por causa dessas medidas, mas a sustentação vai depender da persistência delas." Outro ponto é que muitos consumidores anteciparam compras de bens duráveis. Além disso, o nível de endividamento é elevado.
Por Marcos de Moura e Souza, Tainara Machado, Arícia Martins e Marli Lima/ Valor Econômico