O Inovar-Auto irá incentivar o uso de materiais verdes em veículos, já que estipula uma redução de 12,08% no consumo de combustível dos automóveis. Porém, a utilização desses materiais não é novidade para algumas empresas.
A Lanxess, fabricante de plásticos de engenharia, químicos para borracha e borrachas sintéticas, atua em mais de 31 países e tem cerca de 1000 empregados só no Brasil. Atualmente, o País responde por 10% do faturamento global da empresa do setor químico. Segundo o presidente da Lanxess no Brasil, Marcelo Lacerda, a companhia espera que a nova regulamentação proporcione um aumento significativo nas vendas, uma vez que seus produtos possibilitam a produção de veículos mais ecológicos e econômicos.
"Temos dois exemplos nessa linha, o primeiro são os plásticos de engenharia, que podem substituir peças de metais nos automóveis, tornando-os mais leves, mas sem comprometer a segurança. O outro são as borrachas sintéticas de alta performance, que possibilitam a produção dos chamados pneus verdes", explica Lacerda.
Ele afirma que esse tipo de pneu possui uma menor resistência ao rolamento, o que permite a diminuição do consumo de combustível e reduz as emissões de CO2 à atmosfera. "Estudos mostram que 20% a 30% do consumo de combustível de um carro e 24% das emissões de CO2 estão relacionados com os pneus", argumenta.
Segundo dados apresentados pela Lanxess, os pneus verdes podem economizar cerca de 1 litro de combustível a cada 100 km rodados. Ou seja, de acordo com cálculos da empresa, se todos os pneus no mundo fossem produzidos com borracha sintética de alta performance, haveria uma economia anual de 20 bilhões de litros de combustíveis e redução de 50 milhões de toneladas de emissão de CO2.
Montadora
A Fiat Automóveis é uma das montadoras que já investem em materiais verdes na produção de seus veículos. O Uno Ecology é exemplo de um carro conceito que apresentou algumas propostas no campo dos materiais verdes e algumas delas estão sendo desenvolvidas pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento da fabricante para viabilizar a sua utilização nos veículos comerciais.
O analista sênior de engenharia de produto da Fiat, Júlio Souza, cita alguns exemplos de materiais ecológicos utilizados."A Fiat aplica óleo de soja na produção das espumas dos bancos; fibras vegetais com reforço em alguns componentes de acabamento plástico; materiais reciclados e usa materiais isentos de metais pesados e outras substâncias perigosas", diz.
Souza afirma que o Grupo Fiat Chrysler investe continuamente em pesquisas voltadas para o emprego das fibras vegetais como reforços mecânicos para materiais poliméricos, que além de possibilitar a redução do peso dos componentes, também diminui o nível de emissões de gases de efeito estufa do produto. Além disso, também desenvolvem processos de reciclagem, com foco na produção de componentes de alto desempenho a partir de materiais reciclados de resíduos urbanos e industrias.
"Veículos de menor impacto ambiental são, e serão cada vez mais, requeridos pelo mercado e pela sociedade. As possibilidade de desenvolvimento e aprimoramento na área de materiais verdes, aliadas a outras iniciativas de engenharia, representam um papel estratégico para o desenvolvimento de produtos cada vez mais amigáveis ambientalmente", defende.
Pesquisa
O professor Alcides Lopes Leão, do Departamento de Recursos Naturais da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em Botucatu, estuda há décadas a utilização e o processamento de fibras naturais.
Seus estudos mais recentes comprovam que as folhas de curauá e abacaxi são ideais para a utilização pela indústria, devido a sua finura. Curauá, planta da região amazônica, inclusive é promissora como reforço de termoplásticos, pois esta fibra apresenta valores de resistência à tração e módulo de elasticidade comparáveis aos da fibra de vidro.
Atualmente, eles seguem estudando os nanocristais de celulose, porém o custo ainda é muito alto, o que, para Leão, ainda impede o uso massivo pela indústria. "Os polímeros naturais e as diversas fibras naturais representam uma excelente fonte de matéria-prima para os nanocompósitos. As vantagens da presença das nanopartículas em compósitos incluem: redução de peso, melhoria das propriedades mecânicas, melhor transferência de tensão e redução da quantidade de reforço/carga", comenta Leão.
O engenheiro afirma que atualmente todas as indústrias já utilizam fibras naturais em sua produção, porém a maior aceitação parte do setor automotivo. "As fibras naturais apresentam um módulo de elasticidade maior do que o aço e isso é particularmente importante para a indústria automotiva que visa à redução de peso em seus veículos", avalia. O pós-doutor em engenharia de materiais estima que nos próximos anos, as montadoras devem consumir anualmente 40 mil toneladas de fibras naturais no Brasil.
Por Karine Wenzel/ CIMM