Na esteira dos incentivos do governo para estimular a demanda por bens de capital, a indústria de caminhões começa a dar os primeiros sinais de reação. As vendas em outubro alcançaram o maior patamar em sete meses, com crescimento de 47,4% sobre o fraco resultado de setembro, quando apenas 8,5 mil caminhões tinham sido emplacados.
Números preliminares mostram que ao redor de 12,5 mil caminhões foram licenciados no mês passado, num desempenho que, segundo analistas, é reflexo do corte nos juros dos financiamentos desse veículo para a casa de 2,5% ao ano.
Ainda que timidamente, algumas montadoras passaram a retirar alguns dos ajustes feitos ao longo do ano para adequar a produção ao consumo mais retraído. A Ford - que vinha adotando a semana curta, de quatro dias úteis, em São Bernardo do Campo (SP) - diz que normalizou a produção e seus operários voltaram a trabalhar de segunda a sexta-feira, em um turno de trabalho.
O mesmo aconteceu na fabricante de motores a diesel Cummins, que restabeleceu nesta semana a jornada de cinco dias. Desde agosto, a fábrica da empresa em Guarulhos (SP) vinha operando em apenas quatro dias da semana.
Os números da economia, contudo, ainda são conflitantes e levam a posições mais conservadoras por alguns fabricantes. Apesar da melhora nas vendas de veículos pesados, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou na semana passada que a atividade industrial voltou a ceder em setembro, após três meses seguidos de alta.
Por isso, não se descarta que a retomada nos licenciamentos de caminhões esteja mais ligada a um movimento de antecipação de compras, diante da possibilidade de que os incentivos dados ao setor não sejam mantidos no ano que vem. "A maioria das forças contrárias ao mercado se exauriram, mas a gente não sabe quanto dessa reação se deve à antecipação", comenta Alcides Braga, presidente da Anfir, a entidade que representa os fabricantes de implementos rodoviários.
Cautelosa mesmo após receber uma encomenda de 2,1 mil veículos comerciais do governo, a Mercedes-Benz segue com o programa que prevê paradas de produção até janeiro, junto com a dispensa temporária de até 1,5 mil operários no ABC Paulista.
Desde abril, o governo promoveu três cortes nas taxas dos financiamentos de caminhões cobradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que estavam em 10% ao ano. A última redução, de 5,5% para 2,5%, aconteceu no fim de agosto, com prazo de validade até 31 de dezembro.
Para garantir um ambiente de negócios mais favorável no ano que vem, a indústria pressiona o governo a manter as condições, que ainda incluem a depreciação acelerada para os caminhões comprados neste ano. Nas contas da MAN, líder de mercado com a marca Volkswagen, 2013 poderá repetir o desempenho de 2010, quando 157,7 mil caminhões foram licenciados, caso os estímulos sejam mantidos.
"Ainda é cedo para falar em recuperação, mas ficou claro que o governo acertou em cheio com as medidas", diz Raphael Galante, analista da Oikonomia.
Diante da resistência das transportadoras à linha de caminhões menos poluentes - até 15% mais caros - e da desaceleração econômica, a tendência é que as vendas de caminhões fechem o ano com queda de 15% a 20% em relação ao volume recorde de 2011, de 172,6 mil unidades. No acumulado do ano, a produção ainda mostra queda de 40%.
Dados compilados pela Oikonomia indicam que o mercado ainda consome o estoque residual da linha antiga, chamada de Euro 3. Em setembro, esses caminhões representaram 16,5% das vendas. Hoje, a Fenabrave, entidade que abriga as concessionárias de veículos, divulga o resultado consolidado das revendas no mês passado.
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico