O termo sustentabilidade está cada vez mais presente, inclusive nas indústrias. Algumas já investem em fábricas sustentáveis e buscam principalmente uma produção mais eficiente. Porém, especialista defende que as construções "verdes" são apenas o início de um amplo processo de transformação da indústria brasileira.
O grupo japonês Sumitomo Heavy Industries, que fabrica redutores de velocidade industrial - dispositivo usado em equipamentos como esteiras de transporte de minérios e torres de refrigeração - é uma das empresas que já colhem os resultados das práticas sustentáveis adotadas. Graças à instalação de 100 m² de telhas translúcidas em sua unidade industrial de Itu, a companhia economizou, até setembro deste ano, R$ 72 mil de consumo de energia elétrica.
“A instalação dessas telhas representa a economia de 209 lâmpadas ligadas”, declara o presidente da Sumitomo no Brasil, Mateus Botelhos. Além disso, toda a água utilizada na produção dos redutores e para consumo interno é captada de um poço artesiano. “Utilizamos cerca de 14 mil litros mensais, que são reaproveitados na jardinagem”, comenta Botelhos.
Os resíduos sólidos gerados na unidade também têm destino certo. Parte do material reaproveitado é doado para uma cooperativa de reciclagem de Sorocaba. Os restos de metais são destinados a uma siderúrgica da região. “São cerca de 35 toneladas de resíduos reciclados mensalmente”, quantifica o presidente da empresa.
A unidade foi inaugurada em novembro de 2011, conta com uma área construída de 20 mil m² e 110 funcionários. A companhia já conta com fábricas semelhantes na China, nos Estados Unidos, Alemanha, Bélgica e Vietnã.
Em outubro do ano passado, a SKF do Brasil inaugurou a segunda fábrica de rolamentos em seu parque industrial de Cajamar, no interior de São Paulo. A unidade tem o selo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), adaptado às condições ambientais e à realidade brasileira para certificação de edifícios sustentáveis.
O certificado é concedido pela ONG Green Building Council Brasil, braço do World Green Building Council, entidade criada por um grupo de líderes do setor imobiliário e de representantes de entidades ligadas a questões ambientais. “Esta fábrica é uma resposta ao novo cenário de eficiência ambiental”, afirma o presidente da SKF do Brasil, Donizete Santos.
Para adequar-se à certificação, o projeto da fábrica seguiu alguns critérios. O teto do galpão da fábrica é branco, o que melhora a luminosidade interna. As lâmpadas usadas na fábrica são de led, que não transmitem calor e consomem menos energia. “Tudo foi pensado para atender aos critérios ambientais. Temos 71% de redução do consumo de energia do prédio, comparando com um convencional”, explica o diretor industrial da SKF do Brasil, Amadeo Comin. A água dos bebedouros e dos vestiários também é reutilizada como água industrial.
Comin comenta ainda que estuda-se a possibilidade de ampliação ou até mesmo duplicação da planta em 2013, já que estão lançando dois novos produtos nesta fábrica, que fechará o ano com 952 mil rolamentos produzidos.
Apenas o começo
O coordenador da linha de pesquisa em Produção mais Limpa e Ecologia Industrial, da Universidade Paulista (UNIP), Biagio Fernando Gianetti, explica que o fato das indústrias investirem em construções verdes, que apostam em reuso da água e prédios sustentáveis, é apenas o início para estabelecer-se a pauta da sustentabilidade nas empresas.
"Se pensarmos que a vida útil de um prédio é de 50 anos e compararmos às operações da fábrica, materiais de consumo e o que emprega na produção, percebe-se que sustentabilidade é muito mais que investir em construções verdes. Na verdade, é pensar nos custos, benefícios e responsabilidade da produção", argumenta.
Gianetti avalia que é preciso uma mudança na cultura da sociedade como um todo, priorizando assim a qualidade e não apenas produzir e extrair mais. "O que importa é como fazemos e não quanto. Nesse aspecto, o governo tem um grande papel. Assim como ele pode gerar punições, pode gerar incentivos e é isso que falta no Brasil", comenta.
O coordenador acredita que as expectativas para os próximos anos são muito boas, pois as indústrias brasileiras passam por uma fase na qual começam a assumir um compromisso com a sustentabilidade e divulgam amplamente suas ações. "Em um pequeno e médio prazo, essas empresas deverão apresentar dados mais precisos e claros. Terá que haver uma espécie de contabilidade verde. Já a longo prazo, devemos ter a padronização dessas ações para comparações entre essas empresas", conclui Gianetti.
Por Karine Wenzel/ CIMM