Até agosto, nenhuma das grandes montadoras instaladas no Brasil conseguia crescer mais do que a japonesa Nissan. No embalo da bem-sucedida investida no mercado de carros populares, com o compacto March, as vendas mais do que dobravam, levando a marca a morder mais de 3% dos emplacamentos de automóveis e comerciais leves.
O desempenho ia bem até a Nissan esbarrar na cota de importações do México, de onde traz mais de 70% dos carros que vende no país. A partir daí, seus modelos mais vendidos - o March e o Versa - sumiram das lojas e os emplacamentos, que vinham numa média de 10 mil carros por mês, caíram para abaixo de 5 mil unidades em setembro e, conforme estimativas da própria montadora, também em outubro.
Segundo a direção da empresa, a Nissan está entrando em uma fase de transição no Brasil, com taxas de crescimento mais conservadoras e desaceleração na abertura de concessionárias. Ao mesmo tempo, desenvolve rotas de importação alternativas às restrições do comércio com o México e corre para inaugurar o quanto antes a fábrica que está erguendo em Resende (RJ) - como pressiona o presidente mundial do grupo, o executivo brasileiro Carlos Ghosn.
"A pressão pela fábrica é forte porque precisamos produzir aqui para voltar a crescer mais rapidamente", diz o presidente da Nissan no Brasil, Christian Meunier, que tem a meta de colocar a montadora de origem nipônica como a maior marca asiática no Brasil, superando a Honda e as investidas das concorrentes Hyundai e Toyota no mercado de compactos.
A Nissan foi a primeira montadora a entrar no novo regime automotivo, o que permite à ela importar carros sem recolher os 30 pontos adicionais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), incluindo um grande volume de automóveis que ficou parado no porto à espera da habilitação. Meunier diz que a montadora deverá entregar, nas próximas semanas, os carros de consumidores que formaram uma lista de espera de mais de três meses por modelos como o March e o Versa. "Imagine ter de pagar 30% a mais de IPI e 35% de imposto de importação. Não dava para continuar o negócio desse jeito", afirma o executivo.
Habilitada ao novo regime, a Nissan poderá, durante a construção de sua linha de montagem em Resende, importar até 40 mil carros por ano sem pagar o IPI extra. Na importação de outros 40 mil automóveis, será gerado crédito tributário para o abatimento do imposto após o início da produção.
Por outro lado, o volume de carros que a Nissan consegue trazer do México sem a incidência do imposto de importação ficou limitado a US$ 329 milhões após a revisão, no início do ano, do acordo automotivo com o governo mexicano.
A empresa passou, então, a considerar a importação de veículos produzidos pelo grupo automotivo em outras regiões, a começar pelos Estados Unidos, de onde vai trazer ao Brasil o sedã Altima - um dos modelos expostos no Salão do Automóvel de São Paulo - a partir do ano que vem. A ideia, diz Meunier, é chegar a um equilíbrio entre carros dentro e fora da cota, de forma a preservar tanto a competitividade como a rentabilidade da companhia. A estratégia também abre o caminho para a introdução de novos modelos no país.
Em Resende, a Nissan está investindo R$ 2,6 bilhões numa fábrica cuja capacidade de produção alcançará 200 mil carros. A meta é iniciar a operação no primeiro semestre de 2014, um prazo que Meunier considera ser apertado.
Segundo o executivo, a fábrica vai se dedicar inicialmente à produção de compactos - o March já está confirmado. No momento, a Nissan também avalia a viabilidade da produção de um crossover (utilitário esportivo) na plataforma.
Enquanto a linha de produção é construída, Meunier diz que a marca vai diminuir a velocidade de crescimento dos últimos dois anos, período no qual a rede de concessionárias da Nissan evoluiu de 90 para perto de 160 lojas. "Vamos nos concentrar na qualidade da rede e na consolidação dos novos processos internos", diz o executivo.
Esses trabalhos se somam à mudança, em janeiro, da sede brasileira da Nissan, que passará de São José dos Pinhais (PR), onde compartilha uma fábrica com a Renault, para a cidade do Rio de Janeiro. Paralelamente, a montadora avalia a produção de motores no Brasil e desenvolve o parque de fornecedores em Resende, atraindo alguns dos fabricantes de peças que já atendem à Nissan no exterior. "É uma boa oportunidade de trazer tecnologias que ainda não existem no Brasil", diz o presidente da filial brasileira do grupo.
O objetivo é alcançar um índice de nacionalização superior a 70% nos automóveis que serão fabricados em Resende.