O Brasil caminha para ter o pior ano de seu comércio com a Europa em uma década. Cálculos de diplomatas brasileiros fornecidos ao ‘Estado’ apontam que a previsão é de que o superávit comercial com os europeus deve ser o mais fraco desde 2002.
De um lado, a nova crise europeia freou o consumo local e reduziu as importações. De outro lado, o real valorizado e a falta de competitividade da indústria nacional acabaram pesando na conta final. Só para Portugal, a queda nas vendas é de 30%, a maior redução em pelo menos 23 anos.
Em 2011, a balança comercial com os parceiros europeus terminou com saldo positivo para o Brasil de US$ 6,5 bilhões. Dados oficiais apontam que, até o final de agosto deste ano, o cenário era bem diferente. As exportações brasileiras para a Europa recuaram 7,3%, enquanto as vendas europeias no mercado brasileiro cresceram mais de 4%. O resultado é um superávit de apenas US$ 1,1 bilhão, num volume de comércio de US$ 64 bilhões.
Nos últimos quatro meses do ano, as vendas poderão permitir que o superávit chegue a US$ 2 bilhões. Mas, mesmo assim, o volume só encontra equivalente em 2002, quando o superávit foi de apenas US$ 2,1 bilhões. Em 2007, quando a crise ainda não havia chegado à Europa, as exportações brasileiras permitiram que o saldo a favor do País chegasse a US$ 13 bilhões.
Nem em 2009, péssimo ano para o comércio mundial, o superávit brasileiro foi tão pequeno quanto agora. Naquele momento, o saldo positivo para o Brasil foi de US$ 4,8 bilhões.
Mas o que mais preocupa o governo é que as vendas para os maiores mercados do bloco estão em franca queda. No caso das vendas ao mercado italiano, o terceiro maior da zona do euro, a redução já é de 9,6% de janeiro a agosto. Para a França, as exportações brasileiras tiveram uma queda de 9%.
Para a Alemanha, economia que supostamente não foi afetada pela crise da mesma forma que as demais, a redução nas exportações é ainda maior. Comparando janeiro a agosto de 2011 com o mesmo período de 2012, a queda foi de 21%. Nem os produtos básicos resistiram e sofreram queda de 23% nas vendas ao mercado alemão.
Também preocupa o governo o fato de que, nos últimos anos, o comércio com a Europa era um dos pilares que permitiam ao Brasil manter seu superávit na balança comercial. Com as economias do G-8, o Brasil completará seu quinto ano de déficit comercial. Até agosto, o buraco chegava a US$ 10 bilhões com esses países.
Por Jamil Chade/ O Estado de S. Paulo