O primeiro semestre mostrou um novo cenário para a indústria global de mineração. As maiores companhias do setor apresentaram, em conjunto, retração nos resultados entre janeiro e junho. Somados, foram mais de US$ 20 bilhões perdidos no período, o que revela que o lucro dessas empresas caiu pela metade ante o mesmo período do ano passado. A pressão veio do baixo desempenho dos preços das commodities e pela nítida desaceleração das economias emergentes, que vinham sustentando a demanda global, além da crise da Europa.
Segundo um estudo recentemente publicado pela consultoria PwC, as dez maiores mineradoras do mundo em valor de mercado são BHP Billiton, Rio Tinto, Vale, China Shenhua, Anglo American, Barrick Gold, Xstrata, Glencore, Goldcorp e Coal India. Dessas, oito já revelaram informações financeiras que foram analisadas pelo Valor.
A empresa que apresentou a maior perda em valor foi justamente a número um do setor. A anglo-australiana BHP Billiton, que divulgou os resultados no fim da semana passada, apresentou lucro líquido de US$ 5,4 bilhões de janeiro a junho. Quando comparado com os resultados obtidos um ano antes, verifica-se um recuo de US$ 7,6 bilhões.
"Os preços para diversos produtos da BHP recuaram durante o ano fiscal (terminado em junho), enquanto o crescimento da economia global arrefeceu e aumentaram os temores diante das perspectivas econômicas. O impacto foi somado ao aumento da oferta de algumas commodities", afirmou a companhia, em relatório divulgado ao mercado.
Cerca de 70% das vendas da empresa vêm dos mercados de minério de ferro, petróleo e metais de base. Os preços do minério de ferro no mercado internacional caíram 29,4%, segundo a cotação de referência da Metal Bulletin, desde o início do ano. Já o barril do Brent recuperou-se, apresentando alta de 5,75%. Os metais não ferrosos vêm ladeira abaixo, com o alumínio em queda de 4,5% no ano e o níquel perdendo 9,34%.
"A queda é generalizada. A transmissão do clima negativo global para as commodities é muito rápida e as mineradoras sentem de modo direto", afirma Luciano Borges, consultor em mineração, ex-secretário nacional Minas e Metalurgia. Segundo o especialista, a crise na Europa e a fraca recuperação dos EUA tem mostrado seus efeitos também sobre os países em crescimento, grandes exportadores. "Há um quadro geral de recessão no mundo e uma crise de liquidez. Além disso, muitas coisas que eram esperadas, como a continuidade do forte crescimento da China e investimentos na infraestrutura no Brasil, não aconteceram. Isso quebrou as expectativas", completa Borges.
Nesse ambiente, a Vale foi um retrato dos impactos do desaquecimento da atividade econômica mundial. O lucro líquido da companhia somou US$ 6,518 bilhões no primeiro semestre, o que representou uma queda de 51% frente ao mesmo período do ano passado. Segundo reportou a empresa ao mercado, os resultados foram fruto, além do ambiente externo desfavorável, da desaceleração da própria demanda doméstica. Além disso, a companhia citou como fonte de pressão as políticas contracionistas do governo brasileiro no final do ano passado e as restrições de capacidade produtiva.
Para os próximos meses, as mineradoras, em geral, não esperam ainda um novo fôlego para o setor. As expectativas apontam para a persistência da fraqueza nos setores de manufatura e construção - grandes consumidores de commodities. Isso sugere a continuidade do ambiente difícil para os negócios. Antes do início da recuperação do mercado global - prevista por algumas companhias para 2013 - deve haver a estabilização da demanda. "Não acredito que vamos ter um cenário muito melhor no segundo semestre. Acho que o ajuste é mais no longo prazo", afirma Borges.
As perspectivas positivas podem ficar por conta da China. As mineradoras citam em seus relatórios que esperam novas medidas de estímulo do governo chinês. "No quarto trimestre, o consumo de aço na China deve crescer, com expectativas de medidas de afrouxamento monetário, especialmente dadas as mudanças na liderança do país", diz a analista da consultoria de mineração CRU International, Laura Brooks.
Por Vanessa Dezem/ Valor Econômico