Junto com a imersão no mercado de carros compactos - com a inauguração, na semana passada, da fábrica que produzirá o modelo Etios em Sorocaba (SP) -, a Toyota encara o desafio de introduzir veículos híbridos no Brasil. Pioneiro nessa tecnologia, quando lançado no Japão em 1997, o Prius - compacto híbrido da marca, com vendas que já ultrapassaram 3 milhões de unidades no mundo - passará a ser comercializado no Brasil a partir do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, que acontece entre os dias 24 de outubro a 4 de novembro.
Mas os planos da montadora japonesa vão além da importação do carro. Eles ainda passam pela adaptação do produto à realidade brasileira e culminam, se houver apoio do governo, na produção local desses automóveis, que funcionam com dois motores: um elétrico e um a combustão.
"No momento em que a tecnologia se viabilizar no Brasil, o caminho de onde produzir ou como produzir se torna mais fácil", disse Ricardo Machado, diretor de relações públicas e governamentais da Toyota. Segundo ele, a proposta de desenvolver e produzir localmente carros híbridos já foi apresentada a algumas esferas do governo.
A implantação do projeto, contudo, levará tempo. Primeiro, a Toyota quer testar à receptividade do mercado brasileiro por um prazo de dois a três anos. Só a partir daí a marca entrará na segunda fase do projeto, que consiste em desenvolver a engenharia do carro para o país, como, por exemplo, introduzir motores a combustão do tipo flex - que funcionam a base de etanol ou a gasolina. Do desenvolvimento do produto a sua produção local são estimados mais quatro ou seis anos, o que significa que, na melhor das hipóteses, o híbrido da Toyota só será feito em território brasileiro a partir de 2019.
No entanto, nada disso será viável se não vier um apoio de Brasília. Ontem, durante congresso sobre o desenvolvimento de carros elétricos no país, promovido em São Paulo, executivos de montadoras voltaram a dizer que a tecnologia não vai vingar sem incentivos fiscais. Mas isso não virá tão cedo. O governo não incluirá incentivos para carros elétricos e híbridos no regime automotivo que está prestes a ser anunciado. Um programa específico será definido mais adiante. Com isso, a equipe econômica ganhará tempo para entender a infraestrutura necessária para a circulação de veículos com motor elétrico e, ainda, tentará arrancar das montadoras o compromisso de produzir esse tipo de automóvel no país.
O governo vem cobrando desde dezembro um adicional de 30 pontos percentuais nas importações de países em que veículos híbridos ou puramente elétricos são desenvolvidos, caso de Japão, Europa e Estados Unidos. Machado afirma que também não está claro o tratamento a ser dado a essas tecnologias no regime automotivo que passa a valer no ano que vem.
Para que se crie uma demanda local, executivos de montadoras dizem que o governo precisa, primeiro, dar condições às importações desses carros. Assim, haverá condições para os investimentos na montagem local. Para montadoras como a Nissan, que produz no Japão o elétrico Leaf, e a própria Toyota, apenas um consumo superior a 50 mil carros torna a produção local justificável.
"Tudo depende da escala. Se não houver escala, não se tem preço (competitivo)", comentou Antonio Calcagnotto, diretor de relações institucionais e governamentais da aliança Renault /Nissan. Segundo ele, uma das saídas seria aplicar um sistema de cotas para carros que teriam um alívio tributário nas importações, podendo começar com um volume modesto, de apenas 2 mil automóveis.
Por Eduardo Laguna e Marli Olmos/Valor Econômico