Alto custo restringe indústria de petróleo

A burocracia e o elevado custo de produção são os principais entraves para o desenvolvimento da cadeia de fornecedores de óleo e gás no Brasil

 

A burocracia e o elevado custo de produção são os principais entraves para o desenvolvimento da cadeia de fornecedores de óleo e gás no Brasil. Nos últimos anos, várias empresas estrangeiras tentaram se instalar no País para aproveitar as oportunidades de negócios oferecidas ao setor. Algumas desistiram. Outras entraram no mercado, mas com estruturas mais tímidas, afirmam especialistas.
 
O advogado João Luis Ribeiro de Almeida, sócio da Demarest & Almeida, conta que já foi procurado por vários estrangeiros para se instalar no Brasil. "Eles reclamam da burocracia tributária e dos custos elevados. Alguns preferiram operar com uma estrutura menor enquanto não têm certeza de demanda."
 
A intenção do governo ao criar a política de conteúdo local era exatamente atrair esses investidores, como ocorreu na Noruega. O país nórdico conseguiu sair do zero e desenvolver uma indústria de petróleo que hoje oferece tecnologia para o mundo inteiro. "O ambiente macroeconômico é muito diferente. Lá, quando conseguiam atrair uma nova indústria, havia condições mais alinhadas com os competidores mundiais. Essa é a dificuldade no Brasil", explica o superintendente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Bruno Musso. 
 
Na opinião dele, as políticas de conteúdo local são importantes para o País, mas não podem ser a questão central. Neste momento, o ponto que merece maior atenção é a competitividade da indústria, diz ele. Algumas iniciativas têm sido tomadas para atrair investidores, entretanto os resultados ainda estão aquém da escala necessária. "Precisamos acelerar o processo e recuperar a competitividade da indústria local. Se não formos rápidos, teremos multas crescentes."
 
Amanhã, a Petrobrás deve anunciar junto com o governo e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estratégias para atrair estrangeiros que queiram atuar em parceria com empresas brasileiras. Além disso, deve criar ações para que empresas instaladas aqui elevem sua capacidade de produção. "Garanto que os fornecedores estrangeiros que estão vindo se estabelecer no Brasil vão se surpreender com a capacidade da indústria de responder", disse o assessor da Petrobrás para o Prominp e Conteúdo Local, Paulo Alonso.
 
Mas o desafio do pré-sal revelou gargalos na indústria, especialmente em mão de obra qualificada. "Nós temos, sim, um problema no Brasil de produtividade, ligado ao tempo de formação do trabalhador. Um técnico qualificado no Chile tem 12 anos de instrução em média. No Brasil, tem talvez oito, nove anos", exemplifica Alonso.
 
Musso, da Onip, defende um esforço conjunto para desenvolver a cadeia de fornecedores, com ações do governo, das petroleiras e da indústria de máquinas e equipamentos. "Quem já está aqui precisa voltar a investir, especialmente em pesquisa e desenvolvimento", avalia. Mas o vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirma que no cenário atual de imprevisibilidade de demanda local há pouca disposição da indústria de investir. 
 
Ele rebate a acusação de falta de capacidade do setor para honrar os pedidos. Pelas suas contas, na construção de uma plataforma, por exemplo, as empresas poderiam fornecer quase 70% das máquinas e equipamentos necessários. No caso de uma refinaria, esse porcentual chegaria a 90%. "O problema é que não somos competitivos. Estamos virando distribuidor e revendedor de produto importado."
 
Segundo Velloso, até 2008, a indústria investiu na expansão das unidades acreditando que conquistariam uma fatia importante do mercado. A partir de 2009, com a valorização do real, a situação se complicou e as empresas responsáveis pelos projetos começaram importar. Para algumas empresas, estaria sendo mais vantajoso pagar a multa por descumprir o conteúdo local do que arcar com o custo nacional, diz uma fonte do governo. 

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