Afetado pela desaceleração da demanda doméstica, o grupo Randon teve prejuízo consolidado de R$ 4,7 milhões no segundo trimestre, comparado a lucro líquido de R$ 89,2 milhões apurado em igual intervalo do ano passado. O lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) do fabricante de reboques e semirreboques rodoviários, vagões ferroviários, autopeças e veículos especiais também caiu 60,7% no período, para R$ 66,8 milhões.
Esse foi o primeiro resultado negativo da Randon desde o primeiro trimestre de 2002, quando o grupo apurou prejuízo líquido de R$ 559 mil, em valores da época. Em nota, o diretor corporativo de relações com investidores, Astor Schmitt, disse que o desempenho reflete as incertezas sobre o cenário macroeconômico no país, provocadas pelo prolongamento da crise europeia e pela lenta recuperação dos Estados Unidos.
Segundo Schmitt, a queda na produção de caminhões no Brasil neste ano reduziu a demanda por autopeças, reboques e semirreboques e a empresa praticamente não fabricou vagões no trimestre por falta de encomendas. Além do cenário econômico incerto, a retração foi provocada pela introdução, a partir de janeiro, de normas mais rígidas para emissões de poluentes pelos motores a diesel, o que aumentou o custo final dos veículos e provocou antecipações de encomendas ainda em 2011.
Como consequência, a receita bruta total apurada pelo grupo (com impostos e sem eliminação de vendas entre controladas) recuou 18,3% no trimestre, para R$ 1,358 bilhão. O recuo só não foi maior devido ao impacto positivo do câmbio na conversão para reais das exportações a partir do Brasil e das receitas das controladas no exterior, que cresceram 21,8%, para R$ 139,3 milhões, enquanto as vendas domésticas diminuíram 21,2%, para R$ 1,219 bilhão. Em dólar, as vendas do mercado externo tiveram ligeira baixa de 0,1%, para US$ 71,2 milhões.
A receita líquida consolidada caiu 19,5% ante o primeiro trimestre de 2011 e somou R$ 884 milhões. Além disto, a redução da produção, que gerou ociosidade nas fábricas e levou a interrupções temporárias nas linhas de reboques e semirreboques, prejudicou a diluição de custos fixos e diminuiu a margem bruta de 25,9% para 20,5%. Segundo Schmitt, também houve supressão de turnos em algumas controladas fabricantes de autopeças, que não repuseram a rotatividade normal da mão de obra no período.
Agora, a expectativa da Randon é que o programa de compras governamentais anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em junho, ajude a reaquecer a demanda no segundo semestre. O chamado “PAC Equipamentos” prevê a aquisição de 8 mil caminhões para as Forças Armadas e de 3,6 mil retroescavadeiras para distribuição aos municípios com menos de 50 mil habitantes. O grupo também tem encomendas para vagões ferroviários, que serão produzidos no segundo semestre.
No acumulado do ano passado a Randon produziu 750 retroescavadeiras, que representaram cerca de 7% da receita líquida consolidada de R$ 4,2 bilhões. Neste mês o grupo também anunciou a assinatura de um memorando com a China Sinomach Heavy Industry Corporation para avaliar a constituição de uma joint venture no Brasil destinada à fabricação de escavadeiras. Durante o período de avaliação do negócio, a empresa venderá no país as escavadeiras fabricadas pela possível parceira chinesa com a marca Randon/Sinomach.
Por Sérgio Ruck Bueno/Valor Econômico