Depois de bater no fundo do poço em junho, a indústria virou o semestre com estoques mais ajustados, o que pode se refletir em maior vigor da produção nos próximos meses. Em julho, o porcentual de empresas que consideram os estoques como excessivos caiu para 6,6%, contra 13,6% no mês anterior, enquanto o porcentual que considera o nível normal subiu de 84,5% para 91,2%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Mesmo assim, na visão de economistas e empresários, a recuperação deverá ser lenta e modesta na segunda metade do ano. A expectativa é de que a produção feche 2012 ainda no vermelho, pressionada por um cenário externo ruim, que reduz o mercado de exportação, acirra a concorrência dos importados e diminui a demanda de investimentos das empresas.
"Se depender dos estoques, a produção vai melhorar", diz o economista Jorge Braga, coordenador técnico da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da FGV. "No entanto, tem o lado da demanda, que continua fraca, tanto a interna quanto a externa", acrescenta.
A sondagem da FGV indica que, dentre as categorias de uso, apenas em bens de consumo não duráveis houve aumento dos estoques. Os estoques de automóveis e utilitários continuaram a recuar em julho, o que pode se refletir em melhora da produção nos próximos meses, diz José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores.
Carros. O porcentual de montadoras que consideram os estoques excessivos caiu de 16,3% para 15,5%. Outros 8,5% assinalaram estoques insuficientes, ante apenas 0,7% em junho. Não por acaso, o consumidor enfrenta espera de até três meses para receber modelos mais procurados.
"Com estoques ajustados e vendas ainda firmes, uma reação mais forte na produção das montadoras deve ocorrer neste mês", diz Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Tullett Prebon Corretora.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a única coisa concreta que se pode dizer, em relação ao ajuste de estoques, é a melhora da indústria automobilística. Ele argumenta que duas das principais entidades que fazem cálculo de estoques - a FGV e a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) - apresentam resultados controversos. "É um cálculo difícil de fazer e fica essa sensação de incerteza", afirma.
Com um mês de defasagem, comparado aos dados da FGV, o indicador de estoques da CNI recuou de 53,1 pontos, em maio, para 52,5 pontos em junho, ficando acima do planejado (50).
Para o presidente da CNI, Robson Andrade, não tem otimismo na indústria em relação aos próximos meses. Para ele, os estoques nas indústrias estão muito elevados e o mercado não reage.
"A indústria automobilística é um setor importante, mas a indústria em geral vai continuar fraca porque o cenário internacional continua muito ruim, assim como as condições estruturais no País. Não vejo grandes sinais de retomada industrial no segundo semestre. Vai ser uma recuperação muito lenta, muito modesta", afirma Sérgio Vale.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Gomes, observa que a indústria virou o semestre com uma situação de estoques equilibrada, algo que não se via há quase um ano. Ele considera ainda que a demanda interna, de consumo das famílias e de investimento das empresas, está em aceleração.
"Se dependesse só de estoques e demanda interna, a gente teria uma perspectiva de um segundo semestre muito forte para a produção industrial. Mas a gente acha que vai ser só moderadamente positivo porque as exportações de manufaturados estão afundando por causa da recessão na Europa e na Argentina", diz Gomes. Ele ressalta que os dois destinos compram quase metade de tudo que o Brasil exporta de manufaturados.
Por Marcelo Rehder/O Estado de S. Paulo