Fundo de fornecedores custa a engrenar

A Petrobras já lançou seis fundos que fazem parte de um programa da empresa que pretende atingir R$ 4 bilhões

Lançados como um instrumento para financiar os fornecedores de grandes empresas, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) voltados para cadeias produtivas têm enfrentado dificuldades para deslanchar.

Em junho, os cotistas do FIDC Bandeirante, criado em dezembro de 2009 para financiar os fornecedores da Embraer, aprovaram a liquidação antecipada da carteira. Outros fundos criados para financiar a cadeia produtiva da Petrobras também encontraram dificuldades para engrenar.

No caso do FIDC dos fornecedores da Embraer, o fundo não conseguiu atingir o nível mínimo requerido em direitos creditórios. Esses créditos se referem aos recebíveis que os fornecedores têm contra a Embraer e são liberados pela fabricante de aviões no momento da entrega dos equipamentos. O portfólio, gerido pela BRZ Investimentos, tinha menos da metade do patrimônio de R$ 8,752 milhões alocado nesses recebíveis, mantendo o restante em caixa porque não conseguia emprestar.

A demora da Embraer em fornecer informações sobre a comprovação da venda das mercadorias para a empresa e a aprovação dos equipamentos recebidos dos fornecedores criava dificuldade para a originação dos créditos e o consequente atraso na liberação dos recursos para a cadeia produtiva. Esse processo demorava até 10 dias, o que comprometia a operação, que na maioria dos casos, tinha prazo de 30 dias.

Durante o período de duração, a carteira ofereceu rendimento médio de 216% do CDI.

Com a restrição dos bancos em conceder créditos para pequenas e médias empresas logo após a crise financeira de 2008, grandes empresas buscaram estruturar FIDCs para dar suporte financeiro a cadeia de fornecedores. A Petrobras já lançou seis fundos que fazem parte de um programa da empresa que pretende atingir R$ 4 bilhões.

A Fiat Automóveis, em parceria com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), também lançou um fundo para apoiar a rede de fornecedores em Betim (MG). A Odebrecht foi outra que criou um fundo para financiar os prestadores de serviço do grupo, que está com uma oferta de R$ 32 milhões em andamento.

A Petrobras foi a pioneira nesse movimento e passou por um processo de reestruturação do modelo adotado para a liberação dos créditos, depois que algumas carteiras, como o FIDC Fornecedores Petrobras BR2, tiveram problemas na aquisição dos recebíveis.

A empresa criou uma gerência responsável por acompanhar o andamento dos FIDCs, o que tornou mais rápido o processo de aprovação da cessão de créditos, além de ampliar os canais de comunicação com os fornecedores. "Antes esse processo demorava até duas semanas, hoje a originação sai em até cinco dias", diz Fernando Muniz, sócio-diretor do BI Invest, que faz a gestão do FIDC BR2.

Com as mudanças da Petrobras, o problema de aquisição dos recebíveis foi resolvido e a BI Invest está com nova emissão de cotas no mercado, que pretende captar R$ 75 milhões, totalizando R$ 90 milhões de patrimônio.

O FIDC lançado pela Plural Capital voltado para a cadeia produtiva da Petrobras, após a reestruturação promovida pela empresa, teve melhor êxito. Do total de R$ 300 milhões de patrimônio, cerca de R$ 150 milhões já estão aplicados em direitos creditórios. "Já temos 16 fornecedores ativos no fundo e o objetivo é chegar a 30", diz Humberto Tupinambá, responsável pela área de óleo e gás da Plural.

Ao todo, já foram desembolsados R$ 3,4 bilhões por meio de seis FIDCs lançados pela Petrobras, contemplando 280 empresas.

O FIDC Cadeias Produtivas Minas Gerais, lançado em fevereiro de 2011 com o objetivo de financiar os fornecedores da Fiat, também demorou para engrenar. A parcela aplicada em direitos creditórios só ultrapassou os 50% do patrimônio previsto na legislação em fevereiro deste ano. "Desenvolvemos uma plataforma eletrônica para que os fornecedores e a Fiat pudessem visualizar os recebíveis disponíveis o que tornou o processo mais eficiente", diz Gustavo Muller, diretor de mercado de capitais da XP Investimentos.

O fundo, com R$ 63 milhões de patrimônio, possui cerca de 45 fornecedores com cadastro ativo. As operações envolvem basicamente o desconto de duplicatas que os fornecedores têm contra a Fiat.

A maior dificuldade é convencer os fornecedores a acessar o produto. "Das 100 empresas visitadas, apenas metade realizou cadastro no programa", diz Muller.

Por terem isenção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), os recursos tomados com os FIDCs saem, muitas vezes, mais baratos que o de linhas de capital de giro. Além disso, como se trata de antecipação de receita, a operação não aumenta o endividamento das empresas, sobrando espaço para tomar financiamento para os investimentos de longo prazo, destaca Tupinambá, da Plural.
 


Tópicos: