Ainda no embalo da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - anunciada no dia 21 de maio -, a indústria automobilística mantém o ritmo de recuperação, marcando em julho, conforme apontam estimativas, o segundo melhor desempenho na história.
Até a segunda-feira, os emplacamentos somaram 329,5 mil carros, o que - ao superar as 287,9 mil unidades de um ano antes - já configura o melhor julho de todos os tempos.
Ainda faltam os emplacamentos de ontem - último dia do mês, quando as marcas tradicionalmente correm para melhorar os resultados. Mas a expectativa é que o mercado feche julho com volume ao redor de 350 mil automóveis e utilitários leves vendidos, no desempenho mais positivo em 19 meses e chegando perto dos 361,2 mil carros de dezembro de 2010 - o melhor mês das montadoras na história.
Os números preliminares foram compilados pela consultoria Oikonomia, especializada no setor automotivo. O resultado oficial da Fenabrave - a entidade que reúne as concessionárias - está previsto para a tarde de hoje. Já na segunda-feira será a vez de a Anfavea - entidade que abriga as montadoras instaladas no país - divulgar seu balanço de vendas, produção e exportações.
A recuperação do mercado começou em maio e foi turbinada nos dois meses seguintes pelo pacote de estímulo à indústria, que combinou incentivos fiscais e medidas para destravar o crédito - caso do corte do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoa física e da liberação de depósitos compulsórios para a geração de financiamentos a veículos.
Resolvida em junho a delicada situação dos estoques - que chegaram a mostrar nível mais crítico desde a crise financeira de 2008 - a recuperação das vendas também abriu espaço para uma retomada da produção no mês passado.
A despeito do esvaziamento em São José dos Campos (SP) - onde uma linha de montagem corre risco de fechamento -, a General Motors (GM) voltou a ter jornada extra de trabalho em sábados alternados na unidade de São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Em Gravataí, no Rio Grande do Sul, a montadora também funciona em pelo menos um sábado por mês, informa o diretor de assuntos institucionais da GM, Luiz Moan. O executivo diz que, desde maio, os estoques da General Motors caíram de 43 dias para um giro de 28 dias.
Com medidas que vão de paradas pontuais a férias coletivas - passando pela suspensão de contratos de trabalho na Mercedes-Benz -, as montadoras tentavam desde setembro do ano passado a ajustar a atividade das fábricas para adequar o nível de veículos parados nos pátios.
No fim de junho, o setor conseguiu regularizar seus estoques, para um patamar equivalente a 29 dias de venda. Em maio, estavam em 43 dias.
Para atender ao crescimento da demanda, a Fiat anunciou recentemente a contratação de 600 operários para elevar a produção de sua fábrica em Betim (MG) em 150 carros por dia.
"Sem dúvida, já acontece uma melhora da produção", comenta Moan, acrescentando que a reação também está ligada à menor entrada de importados após os obstáculos colocados pelo governo.
A recuperação também já começa a ser notada em alguns setores da indústria de autopeças, que reportam aumento nas programações de compra das montadoras. "Desde junho, notamos uma recuperação importante. Houve um avanço de 15% a 20% nos pedidos", relata Eduardo Buchaim, diretor de vendas da fabricante de componentes de motor Dayco.
A melhor fluidez nas liberações de crédito, combinada a campanhas promocionais das montadoras, é citada por analistas entre os fatores que estão permitindo a virada da indústria automobilística. Em julho, também houve a influência do maior número de dias úteis: dois a mais do que junho.
Na iminência de uma corrida dos consumidores às lojas - dada a possibilidade de término dos incentivos fiscais em 31 de agosto, como promete o governo -, existe a expectativa de novo crescimento neste mês. "Historicamente, agosto tende a ser 5% melhor do que julho", diz Raphael Galante, analista da Oikonomia.
Valor Econômico - 01/08/2012