A queda de 0,9% da produção industrial na passagem de abril para maio, feitos os ajustes sazonais, mostrou que o nível de estoques acima do desejado e a perda de fôlego das exportações ainda comprometeram o desempenho do setor no segundo trimestre do ano, cenário que, para economistas, deve apresentar melhora mais consistente apenas a partir de julho. O recuo foi mais forte que o previsto por 11 instituições consultadas pelo Valor Data - que projetavam, em média, retração de 0,65% para a produção em maio - e reforçou expectativas de encolhimento da produção em 2012.
A revisão do número de abril, de queda de 0,2% para recuo de 0,4% frente a março na série dessazonalizada, também aumentou o pessimismo em relação à indústria, já que indica nova retração sobre uma base de comparação mais fraca. Frente a maio de 2011, houve queda de 4,3%, nono resultado negativo nessa base de comparação e pior taxa desde setembro de 2009.
O economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, calcula que a indústria fechará 2012 com queda de 3,5% caso a produção se mantenha estável em todos os meses até o fim do ano. Em relatório, a equipe econômica da LCA Consultores calcula que, para garantir um crescimento nulo, o setor fabril precisaria acelerar significativamente, passando de uma média mensal de recuo (dessazonalizado) de 0,6% entre janeiro e maio para um crescimento mensal em torno de 1,5% no período entre junho e dezembro. No ano, a indústria acumula perda de 3,4% na comparação com igual período de 2011.
Dos 27 setores analisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, 14 produziram menos em maio na comparação com abril. O destaque negativo foi o setor de veículos, cuja produção diminuiu 4,5% no período, principal impacto de baixa sobre o total da indústria.
Cálculos dessazonalizados pela Quest, no entanto, apontam que o comportamento ruim está espalhado. Dos 77 subsetores que compõem os principais ramos da indústria, apenas 40% aumentaram a produção entre abril e maio, abaixo da média histórica de 60% registrada entre 2003 e 2011. Na análise por categorias de uso, o pior desempenho ficou concentrado nos bens de consumo, com queda de 2,2% nos duráveis e de 2,1% nos semi e não duráveis.
Para Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, a piora das condições de crédito e o endividamento das famílias ainda prejudicaram a produção de bens duráveis em maio, a despeito de efeitos positivos da desoneração para artigos de linha branca e mobiliário. Ele destaca que a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, que entrou em vigor em 21 de maio, já surtiu efeito sobre o consumo. Os elevados estoques do setor, que no mês de maio estavam em 43 dias de venda, no entanto, jogam a retomada da produção mais para frente.
A Fenabrave, que reúne as concessionárias de automóveis, divulgou ontem que as vendas de veículos subiram 22,9% em junho ante maio, sem ajuste. Considerando apenas carros de passeio e utilitários leves, as vendas somaram 340,7 mil unidades, alta de 24,2% na comparação com maio e de 18,7% em relação a junho de 2011.
No setor de bens semi e não duráveis, o economista vê influência de exportações menores à Argentina, principal comprador de produtos manufaturados brasileiros que vem impondo barreiras protecionistas, situação para a qual Leal não vê solução no curto prazo. No primeiro semestre, as vendas para o país vizinho recuaram quase 31%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
Analistas também viram com preocupação a queda de 1,8% na produção de bens de capital entre abril e maio, dado que corrobora perspectivas ruins para o investimento. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, acredita que a piora da crise europeia provocou forte deterioração nas expectativas dos empresários. Como não há previsão de solução para o cenário externo no médio prazo, o investimento fraco dará o tom para "resultados muito ruins" da indústria este ano, diz Vale, que projeta queda de 2% para a produção este ano. Para tanto, ele calcula que seria necessário avanço de 0,5% por mês contra o mesmo mês de 2011 a partir de junho.
A capacidade ociosa da indústria, que vem perdendo dinamismo desde o final de 2010, também deve seguir inibindo investimentos, na opinião de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. "As empresas engavetaram os seus projetos", sustenta Silveira, para quem os sucessivos resultados negativos da indústria ainda podem chegar ao setor de serviços.
Ele acredita que as quedas na produção podem resultar em redução de salários e consequente retração no consumo. "Em um ambiente de maior insegurança quanto à atividade econômica e com a indústria fraca, as pessoas podem perder poder de compra ou consumir menos. Isso atinge os serviços e o comércio. Está todo mundo receoso em relação ao desempenho do varejo", afirmou.
Os economistas ouvidos apostam em retomada modesta da indústria nos próximos meses como resposta às medidas de incentivo que o governo vem tomando, aliadas à redução dos juros, mas, diante do primeiro semestre fraco, o resultado do fim do ano deve ser pífio. A projeção mais otimista, do ABC Brasil, conta com crescimento zero da produção em 2012.
Por Arícia Martins, Carlos Giffoni e Diogo Martins/Valor Econômico