Diminuir a ociosidade da indústria do aço. Esse é o grande desafio que as siderúrgicas terão em meio à turbulência econômica global e à crise interna do setor. De acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr), o excedente da capacidade instalada no País, hoje, gira em torno de 40%. "Todos os países do mundo estão sofrendo com a crise deste setor e estão à procura de mercado. O Brasil e a América Latina estão no meio desse objetivo", afirmou ontem, em coletiva de imprensa, durante o 23º Congresso Brasileiro do Aço, em São Paulo, o presidente do conselho do IABr, André B. Gerdau Johannpeter, que também preside o Grupo Gerdau e deixa hoje o cargo no instituto. Em seu lugar, entra o diretor-superintendente da Votorantim Siderurgia, Albano Chagas Vieira.
De acordo com Johannpeter, a sobreoferta do metal, no mundo, gira em torno de mais de 500 milhões de toneladas. "O impacto prático da desindustrialização no setor é a entrada maciça de produtos acabados no País", diz.
"Meu maior objetivo no instituto será o de elevar o consumo per capita de aço, principalmente através de obras de infraestrutura", afirmou Vieira.
A indústria do aço deverá fechar o 1º semestre com produção de 17,2 milhões de toneladas, 3,4% a menos que no mesmo período do ano passado. Segundo o presidente-executivo do IABr, Marco Polo Mello Lopes, as medidas que eram esperadas para o setor para reverter o quadro de importações não foram implementadas. "O cenário para os primeiros seis meses do ano é de decréscimo da produção. Mas estamos um pouco mais otimistas para o segundo semestre", diz.
Mesmo assim, a instituição reviu para baixo suas estimativas para 2012, passando de 37.5 milhões de toneladas para 36 milhões. Entretanto, ainda mantém alta de 2,2% em relação ao ano passado. "Uma parada programada na usina de Tubarão (ES), da ArcelorMittal, nos fez rever a projeção", diz Lopes. Já as vendas devem ter crescimento um pouco maior, de 7,1% na mesma base de comparação, totalizando 22,9 milhões de toneladas.
As importações, constante queixa da indústria, devem recuar neste ano. "A apreciação do dólar já surtiu efeito na entrada de aço no País", explica Lopes. Para 2012, a perspectiva é que as importações tenham um decréscimo de 3,8% em relação a 2011, totalizando 3,6 milhões de toneladas, ante 3,7 milhões de toneladas importadas no ano passado.
O consumo aparente de aço também deve ter aumento de 5,4% neste ano em relação a 2011, totalizando 26,3 milhões de toneladas. Ainda assim, os executivos do IABr apontam a indústria nacional do aço como a que possui maior sobra de capacidade instalada no País. Hoje, o excedente gira em torno de 48,4 milhões de toneladas, contra 44,6 milhões de toneladas em 2010.
No mundo, Johannpeter destaca que todos os países sofrem com excesso de oferta. Como exemplo, ele cita grandes países produtores de aço, como a própria China - a maior consumidora do metal, que hoje tem 23% de ociosidade. A Europa tem 30% de excesso e o Japão chega a 45%. "A crise na zona do euro e a desaceleração do desenvolvimento econômico têm impactado a indústria do aço", diz.
Alavanca do setor
Vieira aponta as obras de infraestrutura e a construção civil como grandes molas propulsoras do setor. "Esses fatores é que vão fazer a diferença para a nossa indústria", diz o executivo da Votorantim.
Já as obras da Copa de 2014 e Olimpíada de 2016, não animam muito os executivos do IABr. "Teremos um período muito bom pela frente, mas tem data certa para acabar", diz Vieira. Ele destaca que os megaeventos irão gerar um acréscimo do consumo em torno de 8 milhões de toneladas até 2016. "Precisamos de cerca de 2 milhões de toneladas a mais por ano", complementa Vieira.
Segundo o IABr, o cenário não justifica aumento dos investimentos do setor, previstos em US$ 16 bilhões até 2016, todos destinados para linhas de acabamento e nenhum para aumento de capacidade. "Em um cenário de excedentes, falar em aportes para ampliar capacidade não faz o menor sentido", diz Lopes.
Ele destaca que o fim da guerra dos portos já deve impactar de maneira positiva o setor, no País. "A partir de janeiro, essa torneira será fechada", espera o presidente do IABr. Os executivos do instituto também traçam uma meta para o consumo per capita, no Brasil. Segundo dados do instituto, esse índice em países como China e Estados Unidos gira em torno de 500 quilos por habitante. Em 2011, o consumo per capita no Brasil foi de 130 quilos. "Não iremos descansar até esse índice atingir 200 quilos por habitante."
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, participou da abertura do congresso e defendeu o crescimento econômico como forma de alavancar o setor. "A apreciação do câmbio já tem contribuído para a recuperação da indústria do aço", disse. Ele também salientou que medidas antidumping para as siderúrgicas estão sendo analisadas. "Nosso desafio é devolver a competitividade do setor", disse Pimentel.
DCI - 27/06/2012