O setor siderúrgico brasileiro vislumbra um cenário mais promissor no segundo semestre, resultante de medidas de incentivo ao consumo, como redução do IPI na venda de automóveis, e benefícios para a construção civil - maior prazo para financiamentos na compra da casa própria.
O Instituto Aço Brasil previu ontem que as vendas internas do ano, com melhor desempenho a partir de julho, deverão obter expansão de 7,1% em relação a 2011. A expectativa é atingir volume de 22,95 milhões de toneladas por meio das usinas locais. Esse número, no entanto, é ainda inferior ao previsto no fim do ano passado para 2012.
De janeiro a junho, a previsão da indústria do aço, reunida desde ontem em São Paulo em um congresso que discute até amanhã questões cruciais do setor, é de alta de 1,8%. A demanda seguiu a depressão industrial até agora. O volume previsto é de 11,1 milhões de toneladas em relação ao mesmo período de 2011.
Para o consumo aparente, que soma venda interna mais importações, a estimativa é de terminar junho com 12,9 milhões de toneladas, alta de 2,4%. Com a melhoria da segunda metade do ano, a entidade projeta acréscimo de 5,4%, atingindo 26,4 milhões de toneladas.
Segundo Marco Polo de Melo Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, o setor vive um certo alívio na questão das importações diretas de aço, que deverão cair 3,8% no ano. "Isso se deve à alta do câmbio", destacou, lembrando que o fim da "guerra fiscal" nos portos, que contava com benefícios de governos de vários Estados, só vai surtir efeito a partir de janeiro. Havia um desconto de 9% no ICMS.
A entrada do material importado no consumo interno foi de 16,5%, na média, nos aços planos (chapas grossas, laminados e zincados) e de 14,3% nos produtos longos, como vergalhões e perfis, no período de janeiro a maio, informou a entidade.
Não preocupa apenas o aço que entra diretamente, alerta o setor. O material que chega indiretamente, contido em máquinas, automóveis, autopeças, equipamentos e bens de linha branca, é um item que continua a preocupar. A previsão, após leve queda, é de 4,8 milhões de toneladas neste ano, com saldo negativo de 2,07 milhões de toneladas.
"Por conta disso, a desindustrialização do país é evidente", ressaltou André Gerdau, presidente do conselho-diretor do Instituto Aço Brasil e principal executivo do grupo Gerdau. Ele mencionou, por exemplo, que no setor automotivo, no período de 15 anos, a participação das importações no consumo aparente na cadeia automotiva passou de 8,9% para 18,3%. E da mesma forma em vários outros setores industriais.
O Brasil, nono maior produtor mundial de aço, com risco de perder essa posição para a Turquia neste ano, deverá produzir 36 milhões de toneladas de aço bruto em 2012, com aumento de 2,2% sobre 2011, mas abaixo das 37,5 milhões de toneladas projetadas em dezembro pela própria entidade.
Ivo Ribeiro/Valor Econômico